A área de 90 mil hectares, de acordo com a CPT, foi distribuída a fazendeiros, empresários e políticos

Ao todo 41 famílias da Serra do Centro, situada no município de Campos Lindos (TO),  serão despejadas nesta terça-feira, 18.  Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), após o despejo, os camponeses que moram no local há 15 anos não terão lugar para morar e nem abrigar os pertences.

De acordo com a CPT, a decisão proferida pelo juiz Luatom Bezerra, da Comarca de Goiatins (TO), atende ao pedido da Associação de Plantadores do Alto do Tocantins (Associação Planalto), representante de grandes produtores de soja.

Em nota, a entidade enfatiza que "as famílias, compostas por pequenos agricultores e agricultoras, vivem na região há mais de 15 anos plantando suas roças e criando animais como porco, gado e galinha." E denuncia "o iminente desastre social que essa reintegração irá causar na vida de centenas de pessoas."

A CPT diz ainda que o despejo não prevê o realojamento das famílias camponesas afetadas.  "Serão jogadas à própria sorte," diz a nota, enfatizando que tal fato contraria a Ouvidoria Agrária Nacional (OAN).

O Projeto Agrícola Campos Lindos foi criado em maio de 1997 por José Wilson Siqueira Campos, então governador do Tocantins, por meio do decreto 438/97.  Conforme a Pastoral da Terra, foi uma reforma agrária "às avessas" que consumou na grilagem pública de terras e o Estado desapropriou por improdutividade a antiga fazenda Santa Catarina.

A área de 90 mil hectares, de acordo com a CPT, foi distribuída a fazendeiros, empresários e políticos, pelo valor irrisório de R$ 10 o hectare. "A implantação do projeto desconsiderou a existência de cerca de 160 famílias camponesas que, de forma comunitária, ocupavam o local há mais de seis décadas," diz a nota da entidade.

Trabalho escravo

Ainda de acordo com a CPT,  foi em uma fazenda do projeto onde se deu o primeiro resgate de trabalho escravo do estado do Tocantins. Entre 2003 e 2013, foram identificados oito casos em Campos Lindos, seis deles em atividades ligadas à soja. Apenas três foram fiscalizados, com o resgate de 29 trabalhadores.