O primeiro dia de despejo das famílias em Campos Lindos foi marcado por denúncias de irregularidades, falta de planejamento e desentendimentos.  Ao menos 30 homens da PM de Araguaína e Palmas estão no local desde ontem (18) para manter a ordem.

Logo no início da manhã da terça-feira, 18, numa reunião em Campos Lindos na sede da Cooperativa Planalto, a situação começou a ficar tensa.  Isso porque o representante da entidade, que pediu o despejo, não compareceu.

Diante disso, o representante do Centro de Direitos Humanos de Colinas, Silvano Lima Rezende protestou, classificando o ato como ?ilegal? e "arbitrário", mas sem sucesso.  O Oficial de Justiça afirmou ter conversado com o Juiz por telefone e o magistrado autorizou o prosseguimento do despejo.

Em seguida, o comboio formado por veículos da PM, Conselho Tutelar, Pastoral da Terra e Direitos Humanos, percorreu por mais de meia hora as terras devastadas para o plantio de Soja.  Além destes, seguiu os carros de apoio da ação: entre eles, um ônibus sucateado, com pneus ?carecas? e um caminhão sem a placa dianteira.

Ao chegar no primeiro despejo, outra surpresa. Descobriu-se que ao invés do despejo de 41 famílias, conforme a Decisão Judicial, na lista do Oficial de Justiça constava 48. Entretanto, os sete nomes adicionados foram mantidos em segredo e o Oficial de Justiça se recusou a apresentar à advogada da Pastoral da Terra.  A lista ?secreta? teria sido feita a caneta, segundo o representante dos Direitos Humanos.

Como o proprietário não se encontrava no local e não havia ordem Judicial para arrombar a porta, apenas os objetos que estavam na área externa foram recolhidos. O IBAMA ainda notificou a propriedade por um criatório irregular de peixes.

O  Subcomandante do 2º BPM Márcio Antônio R. de Carvalho defendeu que o papel da PM é dar segurança, disse também que não comentaria as críticas dos Direitos Humanos e sugeriu que os questionamentos fossem feitos ao Oficial de Justiça e ao Juiz.  Ainda disse que foi informado que a Associação Planalto havia reservado um galpão para alojar as famílias despejadas.

Na segunda propriedade, com sinais de abandono,  foram recolhidos pertences antigos. De lá, o comboio seguiu para o terceiro despejo. Ao chegar ao local, não havia ninguém, pois os proprietários haviam deixado a casa poucos antes.  No momento em fazia o recolhimento dos pertences da família, chegou uma representante dos Direitos Humanos da OAB.  O representante dos Direitos Humanos afirmou que o Oficial de Justiça excluiu, por conta própria, um nome da lista de despejo.

Após ela questionar as supostas irregularidades, a ação de despejo da foi suspensa, temporariamente, por volta das 14h00. Entretanto, nesta quarta-feira (19) prosseguiu.  A ação está prevista para durar toda a semana.  A comissão Pastoral da Terra, que acompanha o despejo, divulgou nota de repudio e afirma haver diversas irregularidades.

Sobre a cidade

Campos Lindos tem uma população de 9,6 mil pessoas e é dona de um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano de todo o Brasil, com 0,544, segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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