Em Araguaína, moradoras de profissões diferentes, cozinheira, vendedora e treinadora de Muay Thai, contam na Semana da Mulher sobre a conquista de seus espaços em Araguaína como empreendedoras independentes. O prazer de exercer a profissão que amam e vencendo as discriminações de gênero do dia a dia, elas relatam como ganharam qualidade de vida na cidade.

Cozinheiras com orgulho

Nos boxes 7 e 8 do Mercado Municipal de Araguaína, Raimunda Cardoso e Antônia Valdirene, são cunhadas e cozinham chambari diariamente para uma média de 30 pessoas, chegando a 100 clientes só nos finais de semana.

Com o nome da cozinha de "Raimunda do Arismar", a cozinheira de 44 anos saiu de um emprego de cozinheira numa fazenda de trabalhadores em busca de melhorar de vida em Araguaína. "Aqui o chambari é tradição, me sinto valorizada. Com o Festival do Chambari tenho troféus e minha filha terminou os estudos e pode ser veterinária aqui, como ela quer", disse sorrindo.

Depois de contar que os clientes sempre comentam do nome da sua cozinha, perguntando se seu marido Arismar é seu dono, ela ri e brinca dizendo que não. "Somos casados há 24 anos, mas foi minha mãe que me ensinou a fazer chambari. É apenas uma homenagem. A irmã dele, minha cunhada Antônia, trabalha aqui do lado e foi por ela que descobri que Araguaína era um lugar bom para gente ganhar a vida", apontou.

A cunhada, Antônia Valdirene, de 41 anos, desabafou que começou a trabalhar desde criança e lembrou que já teve vergonha do trabalho por causa da discriminação. "Hoje cozinho qualquer coisa em qualquer lugar. Amo culinária! Alimento é algo sagrado e trabalhar com dedicação é dignidade de vida. Mas já me senti discriminada!", desabafou.

Vendedora de coragem

No Shopping Popular, proprietária da Loja Pôr do Sol, nº 34, Railene Carvalho, de 44 anos, veio para Araguaína com o marido quando tinha 17 anos em busca de uma vida melhor. Atendendo 50 clientes por dia, sempre com muitos sorrisos, ela vende réplicas de óculos de até 99 reais, além de bonés, chapéus de praia, viseiras e produtos infantis.

"Minha primeira oportunidade de emprego em Araguaína foi em uma ótica, o segundo uma loja de brinquedos. Gosto do que faço! Me senti valorizada e ganhei experiência aqui, recomendo as mulheres a não se submeterem aos homens para conseguir as coisas, sigam seu próprio caminho! O comércio não é fácil no começo, eu tinha medo de ir pra São Paulo buscar mercadoria, hoje ajudo várias amigas a começar".

Lutadora da vida

Ajudando outras mulheres também, a treinadora Netyta Elicarsíl tira moradoras da depressão com o Muay Thai, em treinos ao ar livre no Parque Cimba. A profissional é a única mulher que sobrevive hoje em Araguaína da arte marcial aos seus 35 anos.

"Meu irmão, antes de ser assassinado, dizia que eu tinha jeito para arte marcial. Entrei na luta para superar sua perda. Não curto competição e violência, mostro que dá para treinar por prazer de viver! É o diferencial. Quando comecei a praticar era bonitinho, mas quando assumi turmas as coisas começaram a pegar, o preconceito contra a mulher é muito forte, desmereciam meu trabalho, mas hoje sou reconhecida em Araguaína e outros estados! ", relatou.

Uma das alunas da treinadora, a esteticista Maria Bandeira de 36 anos, treina três vezes na semana com Netyta e mudou a qualidade de vida de sua família. "Comecei a treinar porque era uma mulher ?morta viva? segundo meu ginecologista. Fui chamada de mulherzinha pelo meu marido quando comecei, ele disse que eu largaria rápido, mas persisti e hoje ele treina comigo e trouxe a família toda depois de ver meus benefícios!", finalizou sorrindo.