Audilene Cardoso, tia da vítima

Uma travesti de 36 anos faleceu no Hospital Regional de Araguaína na última segunda-feira (10) vítima de espancamento. No entanto, devido a burocracia pela falta de documentos a família não pode realizar velório. O corpo saiu do IML direto para o Cemitério, na manhã desta quarta-feira (12), porque já estava em estado de decomposição.

Após ter sido agredida a pauladas na cabeça no último dia 6, a travesti Vitória Castro foi levada ao HRA onde ficou internada. Ela não resistiu aos ferimentos e faleceu quatro dias depois, já na noite de segunda-feira (10), segundo a Defensoria Pública.  Como ela estava sem os documentos, começou uma corrida judicial para liberação do corpo.

A Defensoria informou que atuou em diversas frentes para garantir o sepultamento da vítima, de nome civil Marclei de Sousa Lima. Amigos e familiares buscaram um mandado judicial para poder liberar o corpo. Segundo a família, o documento foi concedido por volta das 14 horas de ontem (11), mas o hospital só avisou a família por volta das 6 horas da tarde.

Reclamação da família 

Após o corpo chegar ao IML houve ainda demora na liberação para o sepultamento, porque família não tinha condições e dependia de um caixão social.  Audilene Cardoso, tia da vítima, relatou ao AN a angústia da família durante a longa espera e acusou o Hospital Regional de Araguaína de negligência.

"O hospital regional com todas as informações, com todos os papéis assinados pelo juiz, eles negligenciaram esse direito da gente de velar o corpo. Porque duas horas da tarde estava todos os papeis na mesa da assistente social, e quando ela veio ligar para gente faltava 20 minutos para as 6. Não tinha mais tempo e o juiz assinou às pressas já sabendo que o corpo não ia resistir, porque ia se decompor devido o tempo. E eles negligenciaram isso, com menos de 4 horas pra gente tomar de conta de todas as situações."

Em entrevista ao  AN, o representante da Abrato (Associação das Travestis e Transexuais do Tocantins)   Fernando  Vieira, também criticou a demora do HRA.  "Então o corpo já  estava em estágio de decomposição. Não tinha como velar. Isso aí foi uma negligência muito grande do hospital".

Cortejo

Por volta das 7h00 da manhã de hoje (12), o cortejo saiu de frente ao IML,  percorreu um trecho da Av. Filadélfia e BR 153, até chegar ao cemitério público do Monte Sinai.  Lá, após a oração do Pai Nosso e o adeus de parentes, amigos e familiares o corpo foi enterrado, por volta das 8h00.

Acompanhamento do caso

Já defensor público Sandro Ferreira, coordenador do Nuamac - Núcleo de Apoio das Minorias e Ações Coletivas, criticou demora dos procedimentos  para liberação do corpo. "Retratam bem a tragédia que essas pessoas vivenciam, em que o pobre é excluído dos serviços públicos. Sofre um preconceito ainda maior quando é uma pessoa que assume sua identidade de gênero diversa do "tradicional". (...) Estado não foi capaz de dar um atendimento digno a ela", protestou Ferreira.

Sandro aina frisou que a Defensoria tem interesse em acompanhar o processo criminal para ilucidação do crime.  "Não podemos desconsiderar o fato de se tratar de uma travesti, sendo necessário elucidar se o crime teve motivação homofóbica", finalizou.

Resposta da Sesau

Em nota, a Sesau informou que logo após o Serviço Social do Hospital Regional de Araguaína (HRA) ter ciência do óbito de Marclei de Sousa Lima na noite de segunda-feira, 10, entrou em contato com familiares do paciente às 20h55 quando solicitaram que se dirigissem ao hospital. Contudo, familiares só estiveram na unidade às 9h10 da manhã de terça-feira, 11, quando, seguindo os protocolos, o corpo foi liberado para o Instituto Médico Legal (IML).

Matéria ampliada às 18h para inclusão da resposta da Sesau