Polícia Federal encontrou indícios de que um jatinho foi usado por membros da campanha de Sandoval Cardoso (SD) a governador em 2014 para recolher propina. A informação está no relatório da Operação Naum, que investiga desvios e aplicações do Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev). O G1 teve acesso ao inquérito, que cita depoimentos e documentos apresentados por um ex-diretor do Instituto.

O servidor informou à Polícia Federal que foi pressionado por um lobista, pelo ex-presidente do Igeprev, Rogério Villas Boas e pelo deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (DEM) a fazer aplicações que beneficiariam a campanha de Sandoval. O homem disse aos investigadores que os três transportavam dinheiro proveniente de propina em um jatinho e que o objetivo era arrecadar R$ 20 milhões apenas com as irregularidades no Igeprev para a eleição de 2014.

O inquérito também cita um caderno que foi encontrado na casa do doleiro Fayed Traboulsi em Brasília (DF). Algumas anotações sugeriam pagamentos de Traboulsi para Rogério Villas Boas, mas a Polícia Federal não especificou os valores registrados pelo doleiro.

Outro fato destacado pelos investigadores é que em trocas de mensagens de texto, o então superintendente de gestão do Igeprev, Edson Santana Matos chamava Traboulsi de "Chefe". Nos diálogos, os dois conversavam sobre os fundos de investimento de alto risco em que o Igeprev colocou centenas de milhões de reais.

Santana Matos é apontado pela Polícia Federal como um dos principais responsáveis pelas aplicações irregulares. O ex-superintendente teria agido com o apoio de Eduardo Siqueira Campos, que era presidente do conselho de administração do instituto. Em uma das reuniões, o deputado teria dito que Santana tinha uma responsabilidade que "chegava a superar" a do presidente do Igeprev sobre os investimentos.

A ata da reunião é interpretada pela Polícia Federal como indício de que Edson Santana Matos agiu com o aval e o conhecimento do parlamentar. No relatório para a Justiça, a PF afirma que o superintendente agia como se tivesse recebido um "cheque em branco" do deputado e que era ele quem efetivamente comandava as aplicações.

Outro lado 

A defesa de Eduardo Siqueira Campos disse que o caso corre em segredo de Justiça e que o vazamento das informações é crime. Em nota, o deputado afirma que gostaria de responder aos detalhes das acusações, mas que não pode comentar o assunto, uma vez que qualquer comentário sobre o caso poderia ser considerado ilegal. Ele disse ainda que vai comprovar a própria inocência em juízo.

O advogado do ex-governador Sandoval Cardoso disse que o cliente desconhece as acusações. Ele ressaltou que Sandoval não foi citado ou ouvido no processo do Igeprev e que atos eventualmente praticados por outras pessoas em nome do ex-governador não podem ser atribuídos e ele.