Mesmo com todas as dificuldades da doença, Elvis terminou o curso aos 26 anos

Aos 26 anos de idade e superando diversas dificuldades e subestimações, Elvis Pereira Alves concluiu o curso de Direito no Câmpus de Dianópolis da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). O jovem colou grau na última semana e se tornou um exemplo de vida para toda a comunidade acadêmica ao vencer todos os obstáculos que apareciam em seu caminho devido a doença que lhe acomete desde criança: atrofia muscular degenerativa.

Sua vida nunca foi fácil e seu percurso acadêmico teve vários percalços. Entrou na faculdade, ainda particular, na cidade de Dianópolis com 21 anos de idade. "Não pensava em fazer faculdade, mas uma pessoa prometeu que me ajudaria a pagar o curso e eu ingressei na área que eu acreditava que me daria mais futuro", conta sobre o início do curso. As dificuldades da vida acadêmica começaram quando a pessoa que prometeu ajudá-lo não cumpriu o prometido e, sem ter como pagar o curso, Elvis teve que arrecadar dinheiro no comércio da cidade e contar com a ajuda dos colegas da turma. "Quitei mais de R$2 mil da faculdade, mas não desisti de estudar", lembra.

Depois, Elvis conseguiu estágio na unidade de Dianópolis da Defensoria Pública do Tocantins (DPE-TO), onde trabalhou na área criminal por três anos. "Foi uma experiência muito proveitosa", lembra ao contar que enfrentou outro problema financeiro na época para continuar pagando o curso e não perder o estágio.  O pesadelo das mensalidades só acabou com a chegada da Unitins, universidade pública que incorporou parte dos acadêmicos da antiga faculdade privada.

Fora as questões acadêmicas, Elvis também enfrentou complicações em seu estado de saúde. "Tive uma taquicardia na sala de aula em 2015. Fui socorrido pelos colegas e professores e após alguns dias longe por recomendação médica, pude voltar às aulas e fazer a segunda chamada das provas", lembra.

O acadêmico também desenvolveu uma escoliose múltipla, o que exige o uso de uma cadeira especial. E transporte sempre foi seu maior problema. "Sempre foi difícil me locomover, mas eu não desisti", conta. Todas as cadeiras de roda que ele usa desde o descobrimento da doença foram ganhadas. "A primeira ganhei do hospital em que faço tratamento em Brasília e a segunda dos colegas da escola numa rifa no ensino médio. Agora vou estudar para conseguir uma terceira", brinca ao argumentar que ao realizar seu sonho de advogar poderá comprar uma cadeira melhor.

O acadêmico recebeu a outorga de grau como bacharéu em Direito na última quinta-feira, 31. Com a família e amigos orgulhosos da conquista, Elvis conta que a mãe ficou triste pelo filho não ter participado da solenidade de colação com o restante da turma, no início do mês de agosto. "Tive que viajar para mais uma consulta", justificou ao contar que, por outro lado, todos se orgulham por ele ser o primeiro da família a concluir um curso superior.

O bacharel em Direito informou que irá fazer o Exame da Ordem em novembro e que tem se dedicado para conseguir a aprovação. "Meu sonho é advogar, não penso em outra coisa. Depois de passar no Exame irei fazer uma pós-graduação", planeja. Apesar da timidez, ele reconhece que se graduar foi uma grande conquista para ele e para a família de sete irmãos, sendo ele e mais um com a mesma doença.

"O que eu posso dizer às pessoas é que elas têm sim que acreditar em si, que são capazes de conquistar sonhos seja qual for a dificuldade que enfrentam", diz.

Exemplo de vida

Para a coordenadora do curso de Direito da Unitins em Dianópolis, Beatriz Mafra, "o Elvis é uma lição de vida. Mesmo enfrentando dificuldades e com todas as suas limitações ele sempre se destacou na turma estando acima da média pela sua capacidade intelectual, segurança e tranquilidade".

Em sua primeira atuação no Júri Simulado, Elvis se revelou já estar pronto para atuar, segundo conta a coordenadora. Ela lembra que "ele fez uma perfeita sustentação oral demonstrando muita competência e técnica jurídica".  Para a coordenadora, Elvis está pronto por sua total independência e capacidade intelectual.

Reconhecimento

A reitora da Unitins, professora Suely Quixabeira, parabenizou o acadêmico pela sua conquista. "Ele merece ser parabenizado por toda sua determinação e persistência, por conseguir o ingresso no ensino superior e concluir o curso" declara e reitera que "a Unitins cumpriu com sua missão de garantir o acesso da pessoa com deficiência e garantir as oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e profissional. Nós temos que eliminar todas as barreiras físicas, pedagógicas e de comunicação dos nossos ambientes, sempre buscando a autonomia do profissional e primando pela igualdade de direitos dos alunos com deficiência juntamente com os demais alunos".

Orgulho é a palavra que define o sentimento da vice-reitora Simone Brito. "A Unitins tem a honra de ter como bacharel o Elvis, que simboliza luta, determinação e sobretudo o rompimento da visão conservadora e determinista de que a pessoa com deficiência é incapaz. A universidade deve fomentar uma cultura da não discriminação  e esta  tem sido a nossa prática na Unitins", finaliza.