Momento da retirada dos órgãos

"A dor e a saudade são grandes demais e dói, dói muito, mas ficamos felizes em poder contribuir com a felicidade de cinco pessoas, que receberam fígado, rins e córneas, aliviando a dor e sofrimento". Essas são as palavras de Adriana Rocha da Silva, mãe da pequena Hesther Rodrigues Rocha, de 9 anos.

A menina foi a primeira criança do Tocantins a ter os órgãos captados para transplantes. Depois de ter sido diagnosticada com morte encefálica, os pais dela decidiram tomar essa decisão importante. Hesther era paciente da UTI Pediátrica do Hospital Municipal de Araguaína (HMA), que realizou o primeiro diagnóstico do Estado para a futura doação de órgãos.

O coordenador UTI do HMA, Dr. Márcio Miranda, explica que toda a equipe multiprofissional atendeu a paciente de forma rápida.

"Nós suspeitamos do diagnóstico de morte encefálica e encaminhamos ela para um serviço já habilitado para captação de órgãos, que no caso é o Hospital Geral de Palmas. No HGP foi confirmada a morte encefálica por meio de diagnósticos mais detalhados. É satisfatório ver que, com apenas dois meses de funcionamento, a UTI Pediátrica do HMA já pode realizar esse primeiro encaminhamento da captação de órgãos do Tocantins", destaca o diretor.

Os órgãos da menina ajudaram a salvar a vida de cinco pessoas dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. As córneas também foram retiradas e permanecem no HGP para serem transplantadas em dois pacientes do Estado.

Solidariedade

"Quando o médico falou comigo sobre a doação, tenho que confessar que senti algo muito estranho, isso porque minha primeira reação foi pensar exclusivamente na nossa filha. É algo que poucos pensam ainda em vida. Nós mesmos nunca havíamos pensado sobre. Foi um choque, mas um choque que passou rápido, quando paramos para pensar no benefício que poderia ser na vida de quem recebesse", afirma, emocionada, a mãe da menina.

Primeiro hospital do Tocantins

O diretor da UTI ressalta ainda que o HMA foi o primeiro hospital do Tocantins a realizar essa primeira suspeita.

"Tudo isso foi por meio de um trabalho humanizado que permitiu à família sentir-se bem em ajudar outras pessoas por meio de doação. A suspeita é feita por sinais e sintomas específicos. Porém o diagnóstico só é confirmado após exames mais detalhados, que devem ser realizados no local da captação dos órgãos. A nossa equipe toda se empenhou em agilizar todos os processos, tudo isso em um ambiente humanizado para a família enlutada", pontua.

"Acreditamos que as pessoas que receberam e seus familiares estão imensamente felizes, algo imensurável. Inclusive uma família já entrou em contato conosco declarando a eterna gratidão por nossa decisão. Isso, de certa forma, também nos consola, pois sabemos que nossa princesa ?ainda continua viva?", afirma Adriana.

Como funciona

De acordo com o Ministério da Saúde, qualquer pessoa que tenha tido a morte encefálica confirmada pode se tornar doadora. Esse é um quadro irreversível em que é diagnosticada a parada total das funções cerebrais.

São realizados testes vários testes para certificar os médicos e a família da parada do órgão. Apesar da falência do cérebro, o coração continua batendo e é a irrigação sanguínea que mantém os órgãos viáveis para doação. A circulação é mantida artificialmente, por meio de aparelhos e medicamentos, enquanto a Central de Transplantes é avisada e a família é notificada da situação.

Após o diagnóstico de morte encefálica, a família deve ser consultada e orientada sobre o processo de doação de órgãos. Depois de seis horas de atestada a falência cerebral, o potencial doador passa por um novo teste clínico para confirmar o diagnóstico. Em seguida, a família é questionada sobre o desejo de doar os órgãos.

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