(E) Delegado Regional de Araguaína Bruno Boaventura e Delegado Romeu Fernandes

Investigação da Polícia Civil aponta que a empresa responsável pela coleta de lixo hospitalar no Tocantins seria de fachada e em nome de laranjas. Já o mentor do "esquema" seria o ex-juiz eleitoral João Olinto Garcia de Oliveira, pai do deputado estadual Olyntho Neto (PSDB).

Os detalhes foram revelados durante coletiva nesta segunda-feira (12) pelo delegado regional Bruno Boaventura e o delegado responsável pela investigação Romeu Fernandes. O escândalo veio à tona depois da descoberta de um depósito irregular com 200 toneladas de lixo hospitalar em Araguaína.

A empresa

A suspeita é de que a empresa Sancil, contratada sem licitação  pelo Estado por  R$ 500 mil mensais,  recolhia lixo nos hospitais do Estado e armazenava em Araguaína. Isso porque não tinha licença para o descarte. O material ? oriundo de Gurupi, Porto Nacional e Araguaína ? ficava guardado, enquanto se providenciava a devida documentação.

O local de armazenamento era um galpão de 1.600 m2, localizado no Daiara. Segundo a PC, o imóvel é de propriedade da Agromaster, empresa controlada por uma sociedade anônima com ligação com a família de Olyntho Neto. "O deputado figura como um dos diretores." Disse o delegado Bruno.

Além das irregularidades ambientais, segundo a PC, a empresa Sancil não possuía capacidade técnica para prestar o serviço. E sequer uma sede física, sendo uma empresa de faixada. No papel consta que a sede está localizada na TO-388 no município de Wanderlândia, mas não foi localizada.

"Os policiais foram até lá e não encontraram nenhuma empresa desse porte. E o que reforça isso é que o caminhão [com lixo hospitalar] estava estacionado, escondido, dentro [do terreno] do [Oyntho] Hotel [em Araguaína]".  Explicou o delegado regional Bruno Boaventura.

Sede fictícia

Por outro lado, o delegado Romeu Fernandes, além de frisar que a empresa tinha sede "fictícia" em Wanderlândia, disse ter encontrado indícios de onde funcionaria em Araguaína. "Nós localizamos uma declaração atestando que a sede da empresa Sancil funcionaria no local do [Olyntho] Hotel."

O documento foi apreendido pela PC nesta segunda feira e  se refere a uma declaração datada de 28 de agosto de 2018. Ela atesta que empresa Sancil "mantém , permanentemente, acomodação neste estabelecimento" no apartamento nº 115 do Olyntho Hotel. Segundo o documento, o local é ocupado pela equipe técnica da empresa e fica um engenheiro ambiental.

A Sancil foi fundada em 1991 pelo ex-juiz eleitoral João Garcia, como uma construtora. Posteriormente houve mudanças no quadro societário e no ramo de atividade. A atualização do contratado social até o ano de 2013  constava João Olinto como sócio.

Sócias laranjas

O nome dele não aparece em documentos da Jucetins de 2018, agora consta o nome de duas sócias:  Ludmila Andrade de Paula e Waldireny de Souza Martins.

Para a PC, as duas seriam "laranjas" e o ex-juiz era quem de fato comandava a empresa. Isso porque, segundo a investigação, Ludmila e Waldireny eram funcionárias do escritório de advocacia de João Olinto e não tinham recursos  para montar uma empresa com  capital social de R$ 3 milhões e faturamento mensal de  R$ 500 mil em único contrato.

Mentor

"Ele não constava na [atual] relação de sócios da empresa, mas ele se utilizou de duas funcionárias de seu escritório de advocacia para o fim de constituir essa empresa. (...) Então, ele tinha todo o domínio do fato. (...) Então, com certeza, é a pessoa que comandava esse esquema fraudulento".  Disse o delegado regional Bruno, que complementou.

-- Ficou comprovado que ele é o aliciador dessas funcionárias. Elas trabalhavam para ele como testa de ferro. Porque elas não têm e nunca tiveram um capital necessário para formar uma empresa para fazer uma coleta de lixo no estado.

-- Então,  isso mostra que é uma associação criminosa. Ela tem distribuição de tarefas, cada um com as suas. E o menor intelectual desses crimes que ocorreram em Araguaína com certeza é o ex-juiz eleitoral João Olyntho Garcia.

Três pessoas com prisão decretada estão foragidas: João Olinto Garcia de Oliveira, ex-juiz eleitoral e as duas sócias da empresa, apontas pela polícia como laranjas:  Ludmila Andrade de Paula e Waldireny de Souza Martins.

A reportagem do AN tentou contato com a defesa dos envolvidos, mas ainda não conseguiu. O ontem os advogados que acompanharam a operação não quiseram gravar entrevista. O espaço permanece aberto para manifestação deles.