Otavio Barros*

Um povo sem memória e sem história será também um povo sem futuro? Quando a poeira do tempo vai assentando, ficam grandes estudos, que podem estar no campo da Memória, da História ou das demais áreas do conhecimento. O governo “altera a nomenclatura de 49 escolas”, da rede estadual, todas elas com o nome de “Escola Girassol de Tempo Integral”.

E por que não se prestar merecida homenagem póstuma às personalidades que construíram a identidade tocantinense? Sem a construção dessa identidade, a atual geração de alunos ficará sem compreender o passado de um povo culturalmente homogeneizado em um território determinado –ontem, “nortense”, hoje tocantinense, com seus valores, crenças, costumes, convenções, hábitos e práticas a serem transmutados aos novos membros da sociedade.

Os mais diversos movimentos separatistas – comarca da Palma, província do Tocantins, no século XIX, e Território Federal do Tocantins e Estado do Tocantins, no século passado – tiveram seus heróis que precisam ser lembrados pelas gerações futuras, como conquista da identidade de um território e de seu povo. Portanto, a Educação de nossos jovens é convidada a reconhecer e a aderir ao conjunto de sentimentos do passado.

“(...) É tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho, por mais que pense estar.” (Gonzaguinha). É deveras lamentável o silêncio sepulcral do pessoal da CENOG e CONORTE contra essa tentativa de tocantinenses “adotivos” desqualificar as personalidades que fizeram a história de um território e de sua gente. Nesta era de globalização, aonde o local vai perdendo espaço para os modismos, há de se questionar o porquê de nossos heróis do passado serem jogados na lata de lixo da história.

Nesta era de audiências públicas para se ouvir a sociedade nas decisões do Poder Público, a Secretaria da Educação deveria consultar os professores e os alunos para escolha de nomes de cada educandário. Sem desmerecer “Os Girassóis da Rússia”, um clássico romântico do cinema e um dos maiores sucessos da dupla Sophia Loren e Marcello Mastroianni, e sem também desmerecer os nomes dos prédios construídos e a construir na capital (sem a memória social do povo), o momento é de reflexão e exige a contrapartida da opinião pública para a urgência em se preservar ações de integridade da herança de nossa identidade.

Aproximando história e povo, haveremos de preservar o patrimônio como cordão umbilical e estabelece a relação de sentimentos e de valores que entrelaçam o passado, o presente e o futuro. Ficamos independentes de Goiás. Acolhemos gente de toda a parte com sua diversidade de crenças, de costumes, de tradições e de experiências de diferentes sociedades. Vivemos sob o impacto avassalador de um mundo globalizado. Somente através da Educação de nossos jovens evitaremos a ruptura com o passado e com os bens que compuseram a construção da identidade tocantínea.

Para nominar o bem público, o correto seria o governo convocar professores e alunos, numa consulta pública, para votar e escolher os nomes de seus educandários. Como autor de quase uma dezena de publicações sobre a identidade tocantinense, tomo a iniciativa de sugerir nomes de personalidades que construíram a nossa história.

Deputados Visconde de Taunay e Carlos Gomes Leitão (autores de projetos para criar a Província do Tocantins, no século XIX), frei Rafael Taggia (italiano, educador de índios), padre Antônio de Ganges (italiano, educador de índios), pastor Zacarias Campelo (educador de índios), Leônidas Duarte (o patrono da Ecologia do Tocantins), Oscar Sardinha (líder de campanha do Comitê Pró Território Federal do Tocantins, nos anos 40), comandante Vicentão e comandante Jacinto Nunes (pioneiros no transporte aéreo), Johann Emanuel Pohl (austríaco, médico, escritor, autor de relatos que descrevem o povo e a terra dos Tocantins, no século XIX), frei Audrin (francês, educador, autor de relatos do Tocantins no final do século XIX e início do seguinte), Paul Berthelot (francês, escritor, autor de projeto de uma colônia agrícola socialista no Médio Araguaia, no começo do século passado), Raimundo Marinho (autor da bandeira do Tocantins, desfraldada na Esplanada dos Ministérios e no plenário da Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988), Oswaldo Ayres (autor do primeiro manifesto pró criação do Estado do Tocantins, em 1953), César Freire (educador e co-autor do Manifesto Pró Estado do Tocantins, em 1956), Professor Sabóia (Manoel de Souza Souza Lima), Eulina Braga (educadora), Margarida Lemos (educadora), Generoza Pinto de Castro (educadora), Trajano Coelho Neto (líder separatista), Eli Brasiliense (professor e escritor), Luiz Leite Ribeiro (deputado, advogado e jornalista), Maximiano da Mata Teixeira (escritor), Benedito Vicente Ferreira (mais conhecido de Benedito Boa Sorte, empresário, político, autor da proposta para instalar escolas do SENAI em Araguaína e Gurupi, nos anos 70), Aderson Fonseca (empresário que deu impulso à economia do ex-Norte de Goiás), Francisco de Britto (escritor), Anna Britto Miranda (educadora), Júlio Paternostro (médico, autor de relatos sobre o povo e a terra dos Tocantins, nos anos 30).

Bibliografia

SILVA, Otavio Barros da.

Dicionário do Tocantins, edição do autor, Araguaína, 1994

Literatura do Tocantins, edição do auto, Araguaína, 1994

Cultura Popular do Tocantins, edição do autor, Araguaína, 1994

Breve História do Tocantins, FIETO, Araguaína, 1º e 2ª edições, 1997 e 1998

Tocantins – Conhecendo e Fazendo História, Secretaria estadual da Educação, Palmas, 1998

História da Imprensa no Tocantins, SECOM, Palmas, 2003

Petite Histoire du Tocantins, Fundação Cultural, Palmas, 2005

Cronologia Histórica do Tocantins, edição do autor, Palmas, 2007

A Nova História do Tocantins, edição do autor, Palmas, 2009

Presença da França no Tocantins, edição do autor, 2012

História do Ministério Público do Tocantins, MP-TO, Palmas, 2012

Próximo lançamento: MEMÓRIA DO TOCANTINS

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(Há um capítulo sobre a história política e o vereador João da Ótica)