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Coronavírus: medo, preconceito, realidade e verdade

O afeto, o abraço, o beijo, o amor, o sentimento, o toque, não nos é mais permitido: temos medo do outro.

Uma força invisível parece avisar que algo está errado.

Medo é um sentimento universal. O medo, agora no vigésimo ano do século XXI, de repente, alcançou toda a humanidade.

O medo, aquele sentimento que desde criança nos acompanha, agora, em tempos de pandemia, nos mostra sua face mais cruel: nos torna desumanos.

Por que desumanos? Porque tudo o que nos diferenciava dos animais: o afeto, o abraço, o beijo, o amor, o sentimento, o toque, não nos é mais permitido: temos medo do outro.

O que é o medo? O temor pelo desconhecido, pelo que pode acontecer e que não conseguimos prever que vai acontecer.

O medo da própria morte, da perda de uma pessoa querida, da mudança de rumo, do desconhecido. O medo nos apavora.

O medo também nos leva a praticar o preconceito. Preconceito é um conceito que muitos praticam e poucos reconhecem que praticam.

Nesses tempos estranhos pelos quais passamos, o preconceito se agrava, aumenta. Nos torna ainda mais estranhos.

Preconceito é desconhecimento. E muitos desconhecem a gravidade do momento.

Gravidade de um momento em que um vírus ceifa a vida de dezenas, centenas, milhares, possivelmente, milhões.

A realidade é essa: nações ajoelhadas, padecendo, povos atormentados, pessoas angustiadas. A realidade ao mesmo tempo em que nos consola, nos atormenta.

Por que nos atormenta? Porque a nossa realidade hoje nos impõe uma verdade absoluta: não somos nada, somos passageiros, efêmeros, temporários.

Várias definições explicam esse momento, várias. Mas uma coisa é certa: somos os únicos seres vivos que ao mesmo tempo em que produzimos cultura, sabemos que somos finitos.

A finitude de nossas vidas, o medo, o preconceito, a verdade e a realidade deveriam exercer em nossas vidas uma função pedagógica: ensinar-nos, nos transformar em pessoas melhores.

Mas para além de todas essas reflexões, existe uma última, talvez a mais poderosa de todas: a esperança.

A esperança de que possamos continuar. A esperança de que possamos aprender com tudo isso, a esperança num futuro melhor.

Que cultivemos a esperança, mas que nunca ela nos tire a noção de realidade, pois só o necessário equilíbrio entre a realidade (o presente) e a esperança (o futuro) pode nos transformar em pessoas melhores.

Sobreviveremos, quem sabe, melhores do que somos hoje. E que possamos, enfim, tirar uma lição disso tudo.

Autor:

Raylinn Barros da Silva: Doutorando e Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás