Entre o Brasil de 1968 e o de 2019, há um intervalo de 5 décadas.
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Entre o Brasil de 1968 e o de 2019, há um intervalo de 5 décadas.

Nesse tempo, mudanças e permanências.

Experimentamos uma ditadura e vivenciamos a retomada da democracia.

Porém, mal abalamos a estrutura de desigualdades econômicas e sociais que é marca histórica do país.

Após breve recuo na primeira década do século, a pobreza, o desemprego e a miséria crescem aceleradamente.

No governo atual não há agenda social. E a agenda econômica é uma fábrica de desigualdades, que aprofunda, rapidamente, a distância entre ricos e pobres, por ser visivelmente concentradora de renda na camada mais alta da sociedade brasileira.

Não é um movimento exclusivo de Brasília.

Outras praças da América Latina vive dias de enorme tensão política, com significativas mobilizações populares nas ruas, questionando as políticas neoliberais ali implementadas, similares às praticadas aqui pelo governo Bolsonaro.

No Chile, para ficar num único exemplo, a reação do governo ao povo nas ruas exigindo mudança de rumos, foi a repressão.

Prisões, feridos e mortes.

A julgar pelo discurso de certos agentes políticos, incluindo o presidente, e pelas propostas recentes  do governo brasileiro, se houver grandes mobilizações nas ruas questionando a agenda econômica, o Brasil optará pelo confronto, no lugar do diálogo.

Não por acaso, a recorrente referência ao AI-5, por parte de um deputado federal e um ministro de Estado, como possibilidade de ação política na contenção das manifestações e seus possíveis excessos.

Para além do discurso, mais preocupante são as ações.

O presidente, claramente,  têm agido no sentido de preparar as forças armadas e policiais para agirem contra "inimigos internos" livres de imputaçoes legais.

O excludente de ilicitude, na prática, se aprovado, permitirá a ação desproporcional das forças de segurança.

Não haverá a responsabilização por mortes no caso de confrontos de rua.

O AI-5 foi o auge dos atos de força do regime militar. Depois dele, tudo passou a ser possível em termos de repressão no Brasil.

Na época, tocava-se uma agenda política e econômica também excludente. O AI-5 visou proteger essa agenda da força dos descontentes, e eram muitos, autorizando a violência e a morte como linguagem política.

Falar em AI-5 em 2019 nos permite inferir que o governo federal está convencido que sua agenda é insustentável.

Que a piora das condições de vida da maioria da população, em algum momento, a levará para as ruas.

E que, em breve, terá que reprimir, mostrando toda a sua carga antidemocrática.

Obviamente, essas ameaças não impedirão a população de mostrar sua insatisfação. A dura realidade e a necessidade de mudanças na política econômica, a empurrará para as avenidas.

Se isso ocorrer, estará formado o ringue.

Sem juiz e sem regras.

Estamos percorrendo, por culpa da atual gestão, um caminho muito perigoso.

Cujos desdobramentos e resultados são imprevisíveis.

Viva o Brasil!!!

Prof. Iltami Silva