Um cenário que lembra alguém isolado em um lugar distante, que busca ali encontrar o próprio sentido da existência humana. A música como pano de fundo instiga ao público que a história pode ser contada de uma forma mais envolvente. O espetáculo ?A Terceira Margem do Rio: a de dentro?, estrelado pela Companhia carioca "Letras de Rosa" foi apresentado na noite desta sexta-feira, no teatro Fernanda Montenegro, em Palmas.

O conto, baseado na obra do mineiro Guimarães Rosa, um dos maiores escritores brasileiros, prendeu à atenção do público com o drama que contava a história de um homem que desde criança lamenta a estranha partida do pai. Através de um monólogo, a obra resgatou a brasilidade, o sertanejo, o regionalismo e a cultura popular. A atração ainda trouxe elementos de um conto extraído do livro ?Primeiras Estórias? do escritor mineiro e é interpretado no palco pelo ator Renato TouzPin.

Em cartaz há alguns anos, o premiado espetáculo carioca traz uma sonoplastia ao vivo e traduz a alma mineira e sertaneja. "Há sete anos já trabalhávamos com esse texto. A ideia começou em pequenas apresentações para os amigos e depois vimos que o texto poderia ganhar mais força com uma montagem maior. Então há um ano reformulamos o espetáculo e começamos a circular com ele pelo País. O trabalho é muito gratificante, mas sem dúvidas um desafio, porque interpretar uma obra de Guimarães Rosa traz uma responsabilidade enorme para o artista", mencionou Renato.

A narrativa, que detalha as especificidades geográficas, ecológicas e sociais componentes de nossas raízes, ao identificar particularidades e riquezas das manifestações artísticas regionais e nacionais instigou a curiosidade de quem dedicou uma hora desta sexta-feira para ir ao teatro, como é o caso da professora Marina Costa. Para a espectadora, a peça é rica não só pelos detalhes da obra, mas também pela simplicidade dos questionamentos do personagem, que ao mesmo tempo traz uma reflexão profunda quem está vendo o espetáculo. "Eu amo Guimarães Rosa e ver uma história dele sendo contada de uma forma tão peculiar pra mim é realmente emocionante", frisou a educadora.

CIA

A companhia "Letras de Rosa" foi criada por três amigos que, partindo de um desejo de fazer teatro e da paixão pela obra do escritor João Guimarães Rosa, em junho de 2016, se unem com o objetivo de realizar experimentações na interface dramaturgia-musicalidade, contida nos célebres contos do autor, propondo uma teatralidade que dialogue com a grande literatura brasileira.

De acordo com o ator e diretor, a realização do projeto é inspirada pelo desejo de lançar um olhar sobre o humano contemporâneo que, em um mundo em constante transformação, coloca-se entre margens, como as de rios simbólicos.  Neste processo, percebe-se ante questionamentos fundamentais: quem sou eu? De onde vim e para onde vou?

"Inquietações relacionadas à necessidade de explicação do mundo e definição de identidade. Quando nos deparamos com a interpretação forte de nossa condição, em contato com a percepção privilegiada da literatura nativa, brasileira e universal, tornamo-nos capazes de reorientar o nosso próprio processo existencial, percebendo melhor nossas relações com o próximo e com o ambiente onde vivemos", pondera Renato.

Sinopse

Baseado na obra de João Guimarães Rosa, o espetáculo encena a história de um homem que, desde criança, lamenta a estranha partida de seu pai. Aberta a múltiplas interpretações, a narrativa trata de temas como valores familiares, amor, loucura e solidão. Tudo com uma trilha sonora especial, ao vivo, que ressalta profundamente a alma mineira e sertaneja.

Prêmios

Reconhecido e premiado no 7º Festival de Teatro de Ubá (MG) com "Melhor espetáculo solo", "2º melhor espetáculo do Festival", "Melhor sonoplastia" e "Melhor cenário", o espetáculo também foi reconhecido com indicações para "Melhor ator", "Melhor diretor" e "Melhor figurino".