Aluguéis de longo prazo ainda estão em demanda, mesmo com as férias de verão diminuindo.
Foto: Ilustrativa/Airbnb

Brian Chesky, co-fundador do Airbnb, disse em entrevista recente ao canal de notícias americano CNBC que a indústria de viagens e turismo foi mudada para sempre pela pandemia do coronavírus, com menos foco para os principais destinos turísticos.

“Algumas coisas vão voltar e outras não”, diz Chesky, prevendo como as viagens poderão ser no pós-Covid-19. “Um dia serão mais forte do que nunca. Mas quando voltarem, com força total, vão parecer diferentes. ” Entre as coisas que vão faltar, ele prevê: turismo excessivo, viagens de negócios e, em menor escala, programas de fidelidade.

No primeiro mês da pandemia, a Airbnb enfrentou uma perda de US $ 1 bilhão (cerca de R$ 5,36 bilhões) devido ao cancelamento de reservas, levando o CEO Brian Chesky a declarar: “A viagem como a conhecíamos acabou.”

Entrar em um avião, ele presumiu, não era algo que os consumidores estariam dispostos a fazer por muito tempo, deixando os planos de viagem mais definidos por precauções de segurança do que por capricho. Depois de alguns meses sua perspectiva não mudou fundamentalmente. Mas o que antes parecia uma previsão catastrófica, deu lugar a uma visão mais matizada de como as viagens estão evoluindo – e não se extinguindo.

De fato, algumas mudanças aconteceram em um momento crítico para Chesky e sua empresa. A Airbnb encerrou o verão com uma história de retorno improvável: após uma queda de 90% nas reservas da plataforma de aluguel por temporada desde o início da pandemia, para um aumento de 22% nos gastos do consumidor no mês de julho.

“Em 8 de julho, nossos hóspedes reservaram mais de 1 milhão de noites em estadias futuras nas listagens do Airbnb”, disse Chesky à Bloomberg Pursuits. “Foi a primeira vez em quatro meses – desde 3 de março – que atingimos esse limite.” Este número é semelhante às vendas de um dia médio do primeiro trimestre de 2019, durante os quais a Airbnb reservou 91 milhões de diárias.

Isso não significa que o Airbnb está em uma situação financeira confortável. Dados fornecidos pela empresa mostram que, embora os viajantes estão reservando quase o dobro de estadias remotas em relação ao ano passado, os aluguéis de casas em mercados urbanos – o ponto alto da plataforma – ainda continuam estagnados.

Outras estatísticas divulgadas pela empresa, como parte de um relatório de tendências para o próximo outono do Hemisfério Norte, indicam que os aluguéis de longo prazo ainda estão em demanda, mesmo com as férias de verão diminuindo – e que as estadias espontâneas, planejadas apenas alguns dias antes da partida, estão aumentando – o que não é surpresa, dada a imprevisibilidade das restrições de viagens em todo o mundo.

Chesky, que fundou o serviço de aluguel de temporada online Airbnb com Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk em 2008, tem muito a dizer sobre o futuro das viagens, que não pode ser definido por números absolutos no momento. O que estamos vendo, diz ele, “é uma revolução massiva” que está “mudando a cara das viagens para sempre. Algumas pessoas estão esperando que o mundo volte a ser o que era. Mas a mudança acontece para frente – e não para trás. ”

O futuro dos destinos a curto prazo

Chesky aponta duas realidades para a indústrias de viagens baseadas nas restrições de fronteira e no potencial de turismo doméstico. Os Estados Unidos, França e Reino Unido, por exemplo, embora tenham perdido o tráfego transfronteiriço, são países que estão vendo um “boom” nas viagens domésticas.

Em contraste, ele menciona partes do Sudeste Asiático e do Caribe. Esses destinos, diz ele, “dependem de turistas para voar até lá. Você não tem uma grande demanda de pessoas que moram nas Bahamas e querem se hospedar em um resort nas Bahamas. ”

Tudo isso sugere que os destinos que dependem do deslocamento aéreo precisarão diversificar suas economias no curto prazo para enfrentar um período mais prolongado sem as visitas, enquanto os pontos próximos às grandes cidades continuarão a ter sucesso. Mas, a longo prazo, todos têm a ganhar, argumenta Chesky. Distribuir os viajantes para mais destinos, em vez de concentrá-los em alguns centros turísticos, “é mais sustentável do que as pessoas imaginam”, diz ele.

“Antigamente, a grande maioria das pessoas viajava apenas para grandes e icônicas capitais internacionais, como Amsterdã, Nova York e Veneza, que se tornaram locais saturados”, continua Chesky. Este fenômeno do turismo excessivo finalmente encontrou seu ponto de inflexão. Não apenas esses destinos lotados são inacessíveis para viajantes internacionais, mas eles também vão contra o que as pessoas desejam no momento: natureza, ar livre e espaço para respirar. “Essa é uma tendência irreversível”, completa.