A Confere Música 2025 encerrou sua 6ª edição com uma conversa direta sobre como transformar a cena autoral em trabalho estruturado e sustentável. No auditório do Sebrae Tocantins, a produtora cultural Luna Moreno (DF) apresentou a oficina “Profissionalização na cena local: caminhos entre curadoria, produção e circulação”, reunindo artistas, produtores e agentes culturais.
Reconhecida por atuar em festivais como CoMA, Favela Sounds e Cerrado Jazz Festival, Luna compartilhou experiências acumuladas em mais de uma década de atuação, partindo de uma provocação central: curadoria é, antes de tudo, acesso – a oportunidades, públicos e narrativas. Na fala, ela destacou que escolher quem sobe ao palco nunca é um gesto neutro: envolve responsabilidade política e cultural, compromisso com diversidade e atenção às condições técnicas e orçamentárias.
Profissionalização
Ao longo da oficina, Luna detalhou etapas de produção e planejamento – da definição de público e formato de show à montagem de cronogramas, divisão de funções em equipe e uso de ferramentas e plataformas que podem ajudar na organização e formatação do trabalho. A conferencista também falou sobre a importância dos artistas pensarem a circulação para além do próprio território, entendendo festivais, conferências, feiras como espaços estratégicos para novos encontros, parcerias e quem sabe, convites.
Três dias de formação: da composição ao clipe, passando por direitos autorais
A atividade de encerramento fechou três dias de programação formativa voltada à cadeia da música independente no Tocantins.
Na quarta-feira (26), a abertura ficou por conta da oficina “Da composição ao clipe”, com a diretora criativa Pamella Gachido (SP). No encontro, Pamella percorreu o caminho que começa na criação da música e chega às telas: explicou a diferença entre obra e fonograma, apresentou noções de direitos autorais e conexos, falou sobre o papel da produtora fonográfica, o funcionamento do ECAD e as etapas de cadastro de obras e fonogramas. Também abordou créditos profissionais, produção de clipes e a relação com órgãos como a Ancine, mostrando como o audiovisual pode ampliar o alcance da música autoral quando pensado com planejamento e equipe.
Na quinta-feira (27), o foco esteve na proteção jurídica da criação com o workshop “Noções práticas de direitos autorais e proteção de marcas para artistas”, conduzido pela advogada Ana Clara Ribeiro (PR/TO). Especialista em Propriedade Intelectual e indústrias criativas, Ana apresentou conceitos fundamentais sobre direitos de autor e conexos, propriedade industrial, registro de marca, contratos e gestão de carreira, sempre com exemplos da rotina de quem compõe, grava, se apresenta e distribui conteúdo no ambiente digital.
A palestrante também esclareceu diferenças entre sample, versão, regravação, interpolação e remix, explicou o que caracteriza plágio e discutiu desafios ligados ao uso de inteligência artificial na criação musical, reforçando que plataformas de IA não são autoras e que o uso comercial de obras geradas depende de regras e autorizações específicas.
Festa, circulação e encontro: a noite com Toca FM
Além das formações, este ano a Confere também teve uma programação artística. Em parceria com a Toca FM, a Confere realizou sua noite especial no Tendencies Music Bar, que celebrou o protagonismo de artistas mulheres, com shows da cantora Leoa (RN) e da tocantinense Fernanda Hoffmann (TO), com discotecagem das DJs Gabi Grammont (TO) e DJ Fran (TO).
Importância para a cena: formação contínua, redes e permanência
Criada em meio à pandemia como um espaço de encontros on-line, a Confere Música chega à 6ª edição consolidada como um dos poucos projetos permanentes dedicados à formação da cadeia da música no Tocantins. Este ano, a conferência 2025 costurou um percurso que foi da criação à proteção da obra, da prática do audiovisual à profissionalização da carreira, sempre conectando a realidade tocantinense a experiências de outros estados e circuitos.
Para a jornalista e co-criadora da Confere Música, Cecília Santos, esta edição reforça que o evento é mais do que uma sequência de oficinas pontuais. “A cada ano, fica mais evidente que a Confere funciona como uma espécie de escola informal da cena independente. Em três dias, conseguimos discutir audiovisual, direito autoral, marca, curadoria, produção e circulação com quem vive o mercado por dentro. Isso não substitui políticas públicas estruturantes, mas cria um chão comum de informação para que artistas e produtores possam negociar melhor, planejar melhor e se reconhecer como parte de uma cadeia profissional”, afirma.
Já o jornalista e co-criador Philipe Ramos destaca que o impacto da Confere vai além dos dias de programação. “A gente percebe o efeito do evento nos meses seguintes: surgem colaborações, novos projetos, editais em que as pessoas se inscrevem com mais segurança, artistas que começam a olhar para sua carreira com mais estratégia. A Confere ajuda a mudar mentalidades, mostra que a cena tocantinense não está isolada e pode dialogar de igual para igual com outros estados. Mas, para que isso continue, precisamos de continuidade e de apoios que enxerguem a música independente como trabalho e como política cultural”, pontua.
Um chamado por continuidade e apoio
Em um cenário em que a maior parte das ações culturais ainda é sazonal e depende de editais com prazos curtos, a Confere Música se destaca justamente por insistir em recorrência, aprofundamento e acompanhamento. A edição de 2025, viabilizada com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PAAR 2024), do Ministério da Cultura, operacionalizados pela Secretaria da Cultura do Estado do Tocantins, reforça o quanto políticas públicas estruturadas são determinantes para a existência de espaços de formação como este.
Ao fim desta edição, a organização reforça que a continuidade da Confere Música e de iniciativas similares exige novos pactos: entre poder público, iniciativa privada, rádios, casas de show, imprensa local e a própria cena. Não se trata apenas de patrocinar um evento pontual, mas de reconhecer que investir em formação, redes e profissionalização é condição para que artistas locais permaneçam produzindo, gerem renda, contratem equipes e circulem com seus trabalhos.
“Se queremos um mercado mais justo, diverso e forte, precisamos que projetos como a Confere não sejam exceção, mas parte de uma política permanente. Seguimos trabalhando para que a música feita no Tocantins tenha mais condições de existir – no palco, nas plataformas e na vida das pessoas – e esperamos que os apoios acompanhem esse movimento”, conclui Cecília.
Realização e apoios
A Confere Música 2025 é realizada com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PAAR 2024), do Ministério da Cultura, operacionalizados pela Secretaria da Cultura do Estado do Tocantins.
O projeto conta com apoio do Sebrae Tocantins e do Ermenilde Restaurante, tem a Toca FM como parceira de programação e é realizado pela Confere Música, em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado do Tocantins, Governo do Tocantins, Sistema Nacional de Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução.
Toda a programação foi gratuita e acessível em Libras, com informações divulgadas nas redes sociais da Confere Música.


