Fernando Almeida 

Recentemente o Governador Siqueira Campos anunciou a construção de uma estátua do Cristo Redentor em Palmas, como um brinde de Natal ao povo tocantinense,  para não dizer presente de grego.  A medida é polêmica e suscita reações, mas também divide opiniões.  Em linhas gerais, as críticas se referem à laicidade do Estado, à falta de prioridades e o desrespeito para com outras religiões.  Mas afinal, o que o referido monumento representa dentro de um contexto mais amplo?  É apenas uma referência à divindade do Filho de Deus?  Ou a tentativa de Siqueira se eternizar no poder?  Será a estátua de Cristo a redenção  da oligarquia Siquerista?  Ou a obra que vai desconstruir o Siquerismo?

A última carta

Assim como em qualquer outro lugar, no Tocantins também nada é obra do acaso, principalmente no apagar das luzes de um ano pré/ou/ eleitoral.  Como diria El Chapulín Colorado: − tudo é friamente calculado.  Curiosamente, o anúncio da vinda do Cristo para Palmas foi num momento estratégico, entre o Natal e o Ano Novo.  Era a última aposta do ano, a “derradeira” carta da manga para que através do sincretismo entre a Fé Cristã e o ilusionismo, fosse capaz de hipnotizar/converter o eleitor tocantinense na cabine de votação (2014) a reconhecer que tudo no Tocantins “Foi Siqueira que fez. É Siqueira que faz”. Desse modo, a construção do Cristo em Palmas tem dois objetivos bem visíveis: o político e a imagem histórica.

O 4º mandato

A data era 31 de dezembro, o dia “D” ou o dia da ‘Virada’. Siqueira, como nunca na História do Tocantins, necessita que no “nos livros da vida”, isto é, na memória do povo tocantinense, suas práticas ‘heréticas’ sejam apagadas e a História passe a registrar somente os atos durante a conversão, a fictícia vida do personagem Siquerido. Isso porque seus últimos três anos de Governo foram infernais, no viés político.  Medidas impopulares, promessas não cumpridas e escândalos de corrupção.  No campo da economia a riqueza aumentou, mas a distribuição de renda ficou estagnada. O agronegócio avançou, mas a industrialização ainda é o maior gargalo para o desenvolvimento econômico do Estado.  E o castigo? Segundo Pesquisa IBOP, o índice de desaprovação do Governo Siqueira é de 60%.  

Último adeus

Portanto, o 4° mandato de Siqueira como Governador do Tocantins ficou insustentável. A atual conjuntura sócio-histórica e cultural não permite mais a um modelo político em e que o trono seja hereditário ou alvo de disputa entre apenas dois grupos oligárquicos: o Mirandismo e o Siquerismo.  Não se trata de profecia, mas chegou a hora do adeus à oligarquia de Siqueira. Humanamente já se fez de tudo para tentar salvá-la, mas ao que tudo indica, muito breve a luz vermelha da UTI será apagada definitivamente e em seu lugar serão acesas  velas; o apito de emergência silenciará e o triste choro das carpideiras será ouvido nas “bimbocas” do Tocantins de “meu Deus.”   

A jogada de mestre

Ainda no campo político o anúncio da estátua traz, apesar das muitas críticas, resultados positivos. Segundo o Censo de 2010, a população católica do Tocantins corresponde a 68,7%. Ou seja, em tese mais da metade dos moradores do estado é simpatizante ao monumento por representar sua fé, uma vez que veneram imagens. No entanto, no contra peso da urna, os 23% da população evangélica ficaria ofendida pela desobediência ao 2° Mandamento (Não farás para ti imagem de escultura...). Porém, como o golpe de mestre é iluminado pelo Marketing e guiado pela ‘divina revelação,’  Siqueira profetizou que o monumento faz parte do “Palmas para Cristo”.  Ou seja, Evangélicos, esperem com paciência. Siqueira também ouvirá o vosso clamor, antes das eleições de 2014. A engenhosa obra é construída de tal forma que agrade a quase todos. E as religiões de matriz africana e os demais grupos minoritários? Estes, menos de 2% da população tocantinense (IBGE 2010), que nunca foram respeitados no Estado Laico, também serão ignorados em mais uma proeza de Siqueira, pois têm pouco ‘poder’ no voto.   

Reforço na memória

A concretização da presença de Cristo no alto da montanha do Cerrado tocantinense simboliza as forças divinas para salvar a vida política de Siqueira na Terra.  No entanto, caso as preces não sejam respondidas em vida, as ‘boas obras’ contam pontos também na ‘eternidade’. Será mais um artifício usado para tentar eternizar na memória do povo tocantinense a imagem do ‘Herói’ criador e protetor do Tocantins.  A vinculação do nome de Siqueira a obras públicas é muito recorrente.  Em Palmas tem a Av. Teotônio Segurado, em homenagem a quem ‘iniciou’ a luta separatista do Norte Goiano.  O objetivo é reforçar a tese de que Teotônio foi o precursor da ideia e Siqueira o realizador.   Há também “Ponte dos Imigrantes Nordestinos Padre Cícero”, sobre o Rio Tocantins.  Com um pequeno esforço na memória, será possível associar a homenagem ao próprio Siqueira, que é nordestino, natural de Juazeiro do Norte, cidade de Padre Cícero.  Ainda há a eternização do símbolo da União do Tocantins, o Girassol, através da inclusão do termo no nome das 49 unidades de Escolas de Tempo Integral.   Sem falar no Memorial Coluna Prestes (Palmas), a ponte Gabriel Siqueira Campos (homenagem ao neto de Siqueira em Araguaína) e a Insígnia do Girassol (foliada a ouro) para condecorar autoridades e Chefes de Estado.

Obra eleitoreira

A construção do monumento de Cristo no alto do Morro do Chapéu, próximo à Capital, não se trata apenas de uma atração turística, mas sim de uma obra eleitoreira e que visa também eternizar na memória do povo tocantinense a boa imagem do Siqueira Campos.  O Cristo ficará pronto milagrosamente em cinco meses.  Mas... Quanto custa?  Quem vai pagar a conta? Se não é do Estado, o que Siqueira faz à frente?  Será que as coi$as ocultas  serão reveladas somente nos céus? 

A metáfora

Assim, o Cristo do Cerrado pode ser ao mesmo tempo a perpetuação de Siqueira como o Criador e Redentor do Tocantins ou a construção do calvário do Siquerismo. O ato representa os últimos suspiros de vida do Siquerismo, no qual ele suplica o perdão ao eleitor tocantinense e implora à infinita misericórdia divina para que sua ficha suja na política seja purificada e fique mais alvo que a neve.  Tudo pra que no futuro, todo joelho se dobre diante do Cristo do Cerrado e saiba que somente em Siqueira “houve” solução no Tocantins.    

Perfil do autor

 

Fernando Almeida da Costa é formando do curso de Letras- Português e Inglês e suas Respectivas Literaturas, pela Universidade Federal do Tocantins. Participou como voluntário do projeto etnolinguístico nas pesquisas de campo, para a elaboração do 1° dicionário bilíngüe (Português-Apinayé) foi monitor de sociologia da educação, participou da elaboração de “Projeto de Pesquisa, Teorias Sociológicas e Evasão Escolar”, ambos projetos pela U. F.T. É diretor do Portal Araguaína Notícias.