(...) Tá vendo aquele colégio moço / Eu também trabalhei lá / Lá eu quase me arrebento / Fiz a massa, pus cimento / Ajudei a rebocar / Minha filha inocente / Vem pra mim toda contente / "Pai vou me matricular" / Mas me diz um cidadão: / "Criança de pé no chão / Aqui não pode estudar". (...). Zé Ramalho.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber, / Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. (...). Geraldo Vandré
O intrigante contexto educacional
Todos estes questionamentos inquietam-me enquanto professor tocantinense por saber, na prática, que o discurso a respeito dos investimentos educacionais são apenas midiáticos. São divulgados pela mídia apenas com finalidade eleitoreiras. A transparência pública, se feita uma análise em cada escola tocantinense, não dará conta, na ponta do lápis, de comprovar se os recursos foram canalizados para sua finalidade, tal qual acredita o FUNDEB.
Somos educacionalmente levados ao contexto autoritário dos governantes que veem a Educação, exatamente como um “Aparelho Ideológico de Estado” em Althusser, sendo os educadores passivos de punições em “Vigiar e Punir” de Michel Foucault. Estas duas obras geram a vertente de que a educação nunca receberá os benefícios a quem têm direito, caso contrário os professores formarão alunos politicamente críticos e desarticuladores dos sistemas autoritaristas dos governantes eleitos. A eleição é apenas um dever atribuído aos cidadãos e um direito de desmando por boa parte dos que foram eleitos.
A “fome” dos professores
A partir de hoje, 15/04/2014, os professores tocantinenses correm o risco de terem seus pontos “cortados” pelas manifestações grevistas realizadas, efetivamente, desde o último dia 24/03/2014. Essa possibilidade está centrada nos relatórios de frequência que as escolas estão encaminhando à Secretaria de Administração, responsável pela Folha de Pagamento.
A “fome”, portanto, estará na mesa dos professores em razão da possibilidade de não receberem seus salários no início do mês de maio próximo. Salvo alguns, a maioria dos docentes sobrevive unicamente do salário da educação e, se não o receberem, como pagarão suas contas, como comprarão o alimento para sustento da família, inclusive de seus filhos alunos tocantinenses?
Será os governantes emprestarão dinheiros aos seus parentes professores para que estes paguem suas contas?
Assim, seremos professores responsáveis pela educação, mas sem pão!
Enquanto isso, o otimismo dos nossos governantes reduz-se ao dizer: - Bem feito, fizeram greve. Aguentem!
Qual será o governante, especificamente o deputado ou deputada, que levantará a bandeira de negociação, com urgência, para o fim da greve? Quem tem interesse pela educação pública de qualidade?
O possível “corte” dos pontos dos professores e o recebimento do contracheque zerado será o indicativo de um verdadeiro “caos” financeiro e social.
Quem pagará o financiamento do carro, da moto, da casa própria, do aluguel? Quando as empresas, ou o próprio governo, receberão os valores dos empréstimos consignados em folha?
Socialmente, cada professor será, na praça, um devedor. Um cidadão sem crédito, porém um “guerreiro” determinado na busca por uma educação que deve acontecer de qualidade e com garantia de atendimento digno a cada estudante.
Pena que o sentimento por educação pública de qualidade não esteja nos projetos dos governantes. Estes matriculam seus filhos nas mais caras escolas particulares (com ar-condicionado), enquanto isso, os filhos dos eleitores que os levam ao poder são relegados à sorte e sem direito a uma educação qualitativa.
Até quando a educação será mantida ao desmando político, exigindo a movimentação grevista dos professores, se a CF (1988) a garante como direito de todos?
O não recebimento de salários pelos professores será, definitivamente, um prejuízo incalculável ao povo tocantinense.
O sonho educacional
Bravamente, nós professores tocantinenses, mantemos o sonho de termos uma educação de qualidade. Educação em que os profissionais sejam valorizados, inclusive financeiramente. Educação em que os alunos tenham escolas com espaços físicos adequados, no tamanho e na ambientação. Afinal todos merecem tratamento digno e respeitoso.
A luta dos professores não é nenhum indicativo de rebeldia. Apenas a exigência de cumprimento dos deveres governistas. O sonho de termos uma escola democrática continua nas veias de cada professor tocantinense.
[1] É mestre em Letras – Literatura e Crítica Literária pela PUC Goiás. Professor da Educação Básica Tocantinense, lotado no Colégio Estadual Adolfo Bezerra de Menezes em Araguaína-TO.