
Há vinte dias, a Covid-19 chegou em Araguaína e as medidas de distanciamento social para conter a disseminação do vírus começou a dividir opiniões, principalmente no meio evangélico. As formas de agir vão desde ignorar as recomendações da OMS, fazer unção de helicóptero, jejum no monte, doação de máscaras e o isolamento.
Recentemente o culto de uma congregação foi interrompido por fiscais da prefeitura por desrespeitar o decreto municipal, segundo uma fonte do AN. Também chamou a atenção recentemente imagens de helicóptero sobrevoando Araguaína.
Helicóptero da Unção
Na aeronave, evangélicos da Igreja Ágape realizavam a “Ação profética, derramando óleo sobre Araguaína e profetizando bênçãos e misericórdia do Senhor.” Circulou na internet fotos de evangélicos, sem identificação denominacional, orando em alguns pontos da cidade e na calçada do Hospital Regional de Araguaína.
Crítica ao helicóptero da Unção
As ações dividiram opiniões com aprovação de um lado e questionamentos e críticas de outro. “Quando vão entender o que é um vírus? Que não devemos nos aglomerar em um helicóptero (...) Mesmo que a intenção seja maravilhosa, é irresponsável. Likes não salvam vidas.” Opinou a jornalista Fernanda Alcântara.
Jejum e oração no Monte
A igreja Nova Aliança, do pastor Edivan Silva, foi a um monte próximo Araguaína para o “santo jejum.”
“É uma luta de todos. Quero aqui louvar o nome de Deus pela vida do nosso presidente [Jair Bolsonaro], que pediu. E louvar a Deus pela vida de todos companheiros pastores e ministros, homens e mulheres de Deus, que também estão nessa causa nesse momento.” Disse o líder, frisando que credita na “grande vitória”.
Discordância da OMS
Já o pastor Avilésio Santos de Almeida da Igreja Batista Getsemani discorda das recomendações da Organização Mundial da Saúde e retomou os cultos após o decreto de Ronaldo Dimas, que permite celebrações religiosas com até 40 pessoas.
“Entendo que a OMS não está agindo segundo critérios técnicos mais sim político e ideológico.” Opinou o líder, acrescentando.
-Fechamos [a Igreja] apenas durante a primeira semana após a recomendação, no entanto, após ouvir opiniões de especialistas sobre o vírus decidimos reabrir. Portanto, está normal as nossas programações, com os devidos cuidados e orientações. Acredito que esse é tempo de aprendizado, onde as pessoas precisam se solidarizar umas com as outras, buscando sempre o equilíbrio em tudo; para aqueles que têm fé, busquem a Deus através da oração com confiança de que Ele pode todas as coisas, pois é soberano e está no controle de tudo.
Concordância com a OMS
Da mesma denominação, o pastor Euzimar Nunes da 1º Igreja Batista de Araguaína disse que segue as recomendações da OMS. Afirmou que a decisão foi tomada em reunião com a diretoria da igreja, onde ouviram também opiniões de um médico e de um advogado. E os cultos presenciais estão suspensos, apesar do decreto municipal permitir o retorno com 40 pessoas e agora são transmitidos por lives.
-Suspendemos o culto por tempo indeterminado porque nós entendemos que prudentemente deveríamos fazer isso, independentemente de qualquer decreto. O decreto maior para nós é o bom senso. (...) Temos feito recomendações de que devemos obedecer as orientações do Ministério da Saúde.
Explicou o religioso, acrescentando que a Igreja distribui máscaras, cestas básicas e adotou cuidados aos idosos, para que eles se mantenham no isolamento.
Posicionamento sobre o helicóptero da Unção
O apóstolo presidente da Igreja Ágape, que promoveu a ação profética de ungir a cidade, também foi procurado pela reportagem. Disse que a Igreja é a favor do isolamento social, que foi a primeira a adotar medidas para evitar a disseminação do coronavírus.
Citou que há projetos na igreja para auxiliar as pessoas nessa época de pandemia e que a Instituição já divulgou orientações de um médico sobre a Covid-19 em lives.
- [Sou] a favor, absolutamente. A recomendação da OMS e do Ministério da Saúde, referendada pelos infectologistas e virologistas mais renomados -- bem como pelos órgãos da classe médica -- deve ser seguida de forma estreita. As igrejas, como pontos naturais de aglomeração de pessoas, não estão alheias a essa realidade, e, portanto, é preciso ponderação nesse momento. Pontuou, rebatendo as críticas ao helicóptero da unção.
Amilson esclareceu ainda que a aeronave foi higienizada antes do voo e todos estavam usando máscaras.
“A repercussão da unção aérea foi amplamente positiva. Algumas críticas pontuais se concentraram em duas linhas, sugerindo que: (i) os recursos utilizados na ação deveriam ter sido utilizados para ações sociais em benefício de comunidades carentes; e (ii) a ação foi espetaculosa.
Em relação a isso, esclarecemos: a ação foi gratuita e não houve quaisquer custos, tendo sido um presente das Lojas Nosso Lar, empresa proprietária do helicóptero; outrossim, a ação não teve fins propagandísticos, mas foi o terceiro ato de um conjunto de três ações de unção e atos proféticos direcionados por Deus: o primeiro, o drive-thru de oração, e o segundo, a oração nas quatro extremidades da cidade”. Explicou