A comunicação por Língua Brasileira de Sinais (Libras) está presente em todas as 20 UBS de Araguaína.
Foto: Marcos Sandes

A dona de casa Maria do Socorro de Souza, 39 anos, é surda de nascimento e já passou por sérias dificuldades por não conseguir se comunicar com pessoas ouvintes quando procurou atendimento médico. No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, 3 de dezembro, ela relata estar mais tranquila por contar com o apoio de comunicação por Língua Brasileira de Sinais (Libras) em todas as 20 unidades básicas de saúde (UBS) de Araguaína.

No último dia 22, Maria esteve na UBS Avany Galdino, no Bairro São João, para atendimento médico. Logo na entrada, ela recebeu os cumprimentos e realizou o cadastro com a recepcionista Francisca Dias, que é capacitada em Libras para serviços de saúde pela Central de Interpretação de Libras (CIL) de Araguaína.

Francisca está entre os 35 servidores municipais da Saúde que foram diplomados em Libras, em setembro. “Aqui na unidade são três pessoas capacitadas, eu e mais duas enfermeiras. E isso trouxe muitos benefícios para o atendimento. A gente consegue, agora, pedir para que se sente e aguarde, orientar sobre remédios e documentos, e ainda auxiliar na consulta do médico”, afirmou a recepcionista.

Segundo Edla Alencar, que é professora intérprete da CIL, a abordagem em libras é muito importante para que o surdo se sinta incluído. “É o primeiro passo para que ele vá atrás dos direitos legais. A mimica caseira, que é usada comumente, acaba não passando todas as informações necessárias para o atendimento adequado”, explicou.

Libras faz toda a diferença

Quando a filha de Maria começou a passar mal, há alguns anos, ela não sabia o que fazer. “Ela estava com falta de ar e chorando. Minha mãe ajudou, ela é ouvinte”, relatou Maria à interprete. Edla conta que em muitos casos o surdo não tem apoio para urgências e não conseguir se comunicar os assusta ainda mais. “Hoje está bem melhor, consigo vir sozinha até a UBS”, concluiu Maria.

Capacitação para inclusão

Desde a inauguração da Central, em 2017, 160 pessoas já fizeram o curso de Libras, cujo objetivo é facilitar o acesso das pessoas com surdez aos serviços municipais, sendo 35 com foco no atendimento das UBS. Na quarta-feira, 27, foi realizada a última aula de 20 destes alunos que pediram um reforço, dentre eles estão cinco funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Ajuda em todos os setores

No atendimento realizado no último dia 22, Maria pediu um encaminhamento para realizar o exame de audiometria. Ela precisa de um atestado provando que é surda para solicitar alguns benefícios. “A maioria dos surdos não conhece seus direitos e nós ajudamos em várias áreas, até para abrir uma conta no banco”, constatou a interprete de Libras. Mensalmente, a CIL realiza cerca de 35 acompanhamentos de surdos para várias demandas do dia-a-dia.

No caso da Maria, ela irá pedir o passe livre municipal e interestadual, e ainda tentar algum benefício do Instituto Nacional do Seguro Social. Todas essas buscas por direitos serão auxiliadas pela CIL. “Quero poder visitar minhas tias e primas em Goiânia”, sonha a dona de casa.