Iltami Rodrigues
O cenário eleitoral tocantinense continua nebuloso, comprometendo a definição dos nomes que disputarão o comando do Palácio Araguaia nas eleições de outubro. A indefinição atinge tanto o governo quanto seus adversários. O PMDB, o maior partido da oposição, segue sua interminável divisão interna (Júnior Coimbra e Carlos Gaguim x Marcelo Miranda e Kátia Abreu) e ainda procura uma unidade interna que permita participar do pleito com força máxima. A roda da terceira via (aliança entre PT, PP, PSL e PCdoB) continua girando. Devagar, mas girando. Se realmente conseguirão construir um nome forte e um discurso viável saberemos em breve. Já o Palácio, dá sinais de que pretende contornar a falta de um nome competitivo para a disputa que se aproxima.
“Seca de nomes”
Muito embora seja possível ao Siquerido (PSDB) ser candidato à reeleição, as chances dessa opção diminuem quando se considera que ele é um senhor octogenário e realiza um governo ruim, segundo pesquisas recentes. Eduardo Siqueira (PTB), filho do governador e homem forte do governo até o início deste ano, parece não empolgar as lideranças aliadas e seu nome está envolvido no escândalo do IGEPREV, no qual cerca de 300 milhões de reais do fundo previdenciário dos servidores públicos foram perdidos em aplicações irregulares, algo que a oposição certamente vai utilizar como arma eleitoral não importando se o adversário será o Siqueirinha ou o Siqueirão. Como se não bastasse esses elementos, para permitir a candidatura do seu rebento, Campos teria que renunciar em abril e obter garantias de que o vice João Oliveira (DEM) apoiaria seu filho sem ressalvas. A questão é que, até o momento, essas garantias não existem e Oliveira é um tipo assim “não confiável” na visão do Palácio.
A manobra Siquerista
Ao ver diminuídas as chances de um nome que o sucedesse no âmbito familiar, o governador parece ter cedido a uma estratégia já experimentada no passado: ajudar a construir uma liderança política regional que aceite manter-se na órbita de influência do Siqueirismo e que com ele não crie atritos incontornáveis. O deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa Sandoval Cardoso pode ser essa liderança. Cardoso (SDD) assumiu o governo do Tocantins por 20 dias como parte de uma estratégia palaciana que incluiu uma estranha licença do governador e uma inusitada e imprevista excursão oficial do vice por países asiáticos e do oriente médio. Até o mundo mineral entendeu a medida. Nenhum governo viabiliza, por quase um mês, o acesso ao poder do terceiro homem na linha sucessória, em ano eleitoral, sem que isso tenha evidentes objetivos políticos.
Cardoso como alternativa
Essa manobra, aparentemente, vai além de uma premiação a Sandoval pela lealdade política e pelos serviços prestados aos interesses do Palácio na Assembleia. A ideia é fortalecer o nome de Cardoso, fazê-lo conhecido em todo o Estado, viabilizá-lo como alternativa para a “seca” de nomes que tomou conta do governo. Por isso mesmo sua passagem pelo governo em nada lembrará o papel decorativo desempenhado pela desembargadora Jaqueline Adorno quando assumiu cargo por alguns dias no inicio de 2013. Sua “caneta” deve funcionar e sua imagem vai correr o Estado. Deverá aparecer e visitar tudo que for possível. E terá autonomia para decidir questões importantes.
Sandoval como possível nome do Palácio
Essa movimentação política indica que o nome de Sandoval pode ter sido promovido de opção de vice numa chapa governista para o posto de provável nome do Palácio para a disputa do cargo de governador. Porque, convenhamos, para vice numa hipotética candidatura do pai, do filho ou de um terceiro nome, Cardoso não precisaria desse “incentivo”. Sandoval possui elementos favoráveis a uma disputa ao executivo estadual: é jovem, não possui histórico de problemas com justiça eleitoral ou comum e, principalmente, tem bom trânsito com o agronegócio tocantinense. Nesse último aspecto, em particular, seria até mesmo um contraponto à liderança exercida pela senadora Kátia Abreu (PMDB) em relação ao setor agrícola local. O resto fica por conta dos marqueteiros. E o Siquerido sabe disso.
Sobrevivência política de Siqueira
Se a opção por Sandoval for real significa uma mudança de rumo no Palácio. O nome de Eduardo vinha sendo trabalhado desde que o pai assumiu o governo. Durante todo esse tempo ele ocupou posições importantes como secretário estadual da modernização da gestão pública (uma pasta administrativa) depois ocupou o cargo de secretário de relações institucionais (uma pasta política). Nesse tempo falava pelo governo e articulou a estratégia do Palácio nas eleições municipais de 2012. Para muitos era o “governador de fato” enquanto seu pai era o “governador de direito”. Essa medida mostra que Siqueira procura sobreviver politicamente, mesmo que para tanto sacrifique, momentaneamente, o “sonho” de ver o herdeiro político comandar o Araguaia. Vai procurar manter-se vivo travestindo-se de nova roupagem, mas preservando velhas práticas políticas. A escolha de Sandoval aponta para isso.
Atos de Sandoval
Sandoval é um novato na política estadual. Foi reeleito deputado em 2010 com a maior votação alcançada por um postulante ao legislativo (quase 30 mil votos). É uma novidade na política, não uma novidade política. Em poucos anos já transitou por diversas siglas: ganhou destaque no PMDB, migrou para o PSD quando se aproximou do Siqueirismo e, no momento, milita no novíssimo Solidariedade (SDD), partido da base palaciana. Aprendeu rápido que na política tocantinense “ninguém é de ninguém”. Tem pouco destaque como legislador. Não se tem notícia de nenhum projeto importante de sua autoria voltado para os mais pobres. Seu ato de maior repercussão como presidente da AL foi propor e aprovar o famigerado auxílio-moradia (revogado mediante as manifestações populares de junho passado) de mais de três mil reais para 24 deputados estaduais (no judiciário esse absurdo continua).
Dilema do futuro
Cardoso enxerga no horizonte sua grande chance. Mas está adquirindo visibilidade pelas mãos do Siqueirismo e, como tal, virá marcado pelo que temos de mais atrasado em nosso processo político. Se for candidato e se eleger terá que decidir rapidamente o seu futuro político: manter-se fiel ao seu “padrinho” até o fim e correr o risco de vir a ser conhecido apenas como apêndice de uma força política em declínio ou tentar construir sua própria história e, por conta disso, em algum momento, ter que romper com ele como fez Marcelo Miranda. O governador em exercício e possível candidato palaciano terá esse dilema a resolver antes de pedir a “benção” do eleitor naquela que poderá ser a maior “aventura” da sua vida.
Perfil
ltami Rodrigues da Silva é Historiador – Professor no Colégio João XXIII em Colinas do Tocantins e Colunista do Araguaína Notícias.Graduado em História pela UNITINS - Araguaína; Professor da rede pública desde 2001; Professor de História do Tocantins na FIESC - Colinas entre 2009/2011; Co-autor do livro À Sombra da Estrada: a construção da Belém-Brasília e a fundação da cidade de Colinas - 1960/1965.;Finalista, como professor orientador, da 4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil - UNICAMP/SP - 2012. Endereço eletrônico: Iltamicolinas@hotmail.com
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