Eduardo Siqueira Campos, prefeito de Palmas
Foto: Reprodução/Redes Sociais

A prisão do prefeito de Palmas, José Eduardo Siqueira Campos (Podemos), na sexta-feira (27), revelou um esquema de vazamento de informações sigilosas de dentro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O Fantástico teve acesso exclusivo a mensagens que mostram como o prefeito montou um sistema de monitoramento clandestino, e era informado com antecedência sobre pareceres da Procuradoria-Geral da República (PGR), decisões judiciais e até mesmo operações da Polícia Federal (PF).

As mensagens eram curtas, muitas vezes cifradas. "Oi, chefe. STJ andou tudo", diz uma das notificações. O "chefe" seria o próprio Eduardo Siqueira Campos, segundo a investigação da PF. A Operação Sisamnes prendeu, além do prefeito, o advogado Antônio Ianowich Filho e o policial civil Marco Augusto Velasco Albernaz.

As investigações indicam que o grupo acessava documentos e dados restritos sobre investigações e decisões antes que fossem tornadas públicas. Em uma mensagem enviada ao prefeito em novembro de 2024, o conteúdo alertava: "Grandes chances do governador ser afastado amanhã. Confirmado o parecer".

De acordo com a PF, os dados vinham de dentro do STJ, e a suspeita é que um servidor do gabinete de um ministro repassava os documentos ao grupo. A investigação está no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolver pessoas com foro privilegiado.

 

As mensagens mostram que o advogado era o elo direto com o Judiciário. "É uma fonte minha de Brasília. Disse que a decisão sai em horas", escreveu ele ao prefeito em uma das conversas.

Policial repassava dados de operações

Segundo a PF, o policial civil envolvido consultava sistemas internos para monitorar alvos de investigação e avisava com antecedência sobre ações da Polícia Federal.

Em uma das conversas, o prefeito pergunta:

"Você acha que vai ser amanhã de manhã?"

A resposta: "São 16 homens. Quatro equipes da PF. Chegaram por terra".

Apesar de, em entrevista recente, o prefeito ter negado qualquer acesso a informações privilegiadas, a PF aponta que os dados eram repassados de forma contínua e com detalhamento.

Decisão do STF

A prisão dos três investigados e o afastamento do prefeito foram determinados pelo ministro Cristiano Zanin, do STF. Também houve bloqueio de passaportes. O STF citou a ousadia do grupo, que seguiu com os vazamentos mesmo após operações anteriores no Tocantins.

O que dizem os citados

Em nota, a defesa do prefeito disse que ele "confia no Poder Judiciário e tem a certeza de que tudo será esclarecido".

O policial Marco Albernaz declarou que é inocente e que irá recorrer.

A defesa de Antônio Ianowich Filho não foi localizada.

O Superior Tribunal de Justiça afirmou que não comenta investigações em andamento no STF.

Agora, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República devem fazer uma análise do conteúdo apreendido em celulares, computadores e arquivos em nuvens. Os investigadores querem saber quem mais tinha acesso às informações sigilosas e as recebia, e se o esquema contava com outros agentes públicos ou políticos.