Um homem na Argentina foi condenado a compensar a sua ex-esposa por 27 anos de tarefas domésticas executadas por ela e não remuneradas. A indenização foi de 8 milhões de pesos argentinos, que equivalem a cerca de 720 mil reais.
Segundo informações divulgadas pelo jornal argentino O Clarín, esta é a maior compensação já indicada pela justiça no país. A publicação destaca que a decisão seguiu uma lei de 2015 que entende que quando o divórcio acarretar declínio da situação econômica e desequilíbrio para um dos cônjuges, este pode requerer uma indenização.
A mulher havia se separado do marido em 2009 e o divórcio foi decretado em 2011. Outro ponto interessante do caso é que a juíza Victória Famá emitiu uma decisão com uma perspectiva de gênero. "A dependência econômica das esposas de seus maridos é um dos mecanismos centrais pelos quais as mulheres são subordinadas à sociedade”, diz um trecho da decisão.
Em outro ponto a justificativa da decisão diz que “na maioria das famílias, as mulheres ainda assumem principalmente o peso das tarefas domésticas e do cuidado das crianças, mesmo quando realizam alguma atividade externa", pontua a juíza.
Atualmente com 70 anos, a mulher formada em Economia, deixou a carreira para se dedicar ao cuidado da casa e dos filhos, o que era uma atitude comum durante a sua juventude.
Igualdade de gênero e combate ao machismo
A notícia levantou uma discussão sobre igualdade de gênero, combate ao machismo e divisão de tarefas domiciliares. No Espírito Santo, por exemplo, mulheres chegam a gastar 10 horas a mais que homens por semana com tarefas domésticas, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O caso ainda fez lembrar uma icônica mensagem que Melinda Gates, esposa do fundador da Microsoft, Bill Gates, escreveu na carta que ela e o marido publicam para divulgar as metas e desafios da Fundação Gates, em 2016.
“A menos que as coisas mudem, as meninas de hoje vão passar centenas de milhares de horas mais que os meninos fazendo trabalhos não remunerados, simplesmente porque a sociedade assume que é responsabilidade delas”, diz um trecho da publicação.
Em contrapartida, no ano em que a Câmara aprovou o divórcio imediato em casos de violência doméstica, empresas e iniciativas começam a levantar e expandir a bandeira da igualdade de gênero.
A equipe do site MagoDeCasa, especializado na venda de produtos para casa, cozinha, decoração, limpeza e quarto, destaca que a informação é uma das melhoras formas de combater o machismo e que, com a quebra de preconceitos e novas configurações familiares, os homens estão passando a adquirir produtos e executar funções que antes eram vistas como apenas de mulheres.
Já em entrevista ao site Ana Maria Braga, a psicóloga Solange Araújo Jorge, professora de Psicologia do Centro Universitário Celso Lisboa, diz que a mudança para uma divisão justa de tarefas acontece de forma gradativa.
“Todos conhecemos mulheres que relatam que seus maridos a ‘ajudam em casa’ ou já ouviram um marido orgulhoso de si mesmo que diz que em casa ele ‘ajuda em quase tudo’. Mas não é de ‘ajudar’ que estamos falando, e sim de divisão tarefas. Nesse quesito, ainda temos muito a avançar”, pontuou.