
O médico urologista Nelson Gomes de Morais Ferreira passou um mês internado com covid-19, sendo 20 dias na UTI, e recebeu alta na última segunda-feira, 6. Na saída, ele agradeceu aos profissionais de saúde do Hospital Dom Orione (HDO) pelos cuidados e, após retornar para casa, concedeu entrevista ao AN.
Além de médico, Nelson Ferreira é escritor membro da Acalanto (Academia de Letras de Araguaína e Norte do Tocantins) e apresentador do Programa Viver Bem, na TV Amazônia, afiliada da Band em Araguaína
Nelson falou sobre a experiência, o tratamento e reforçou que as pessoas devem seguir as orientações médicas e evitar aglomerações. Mas, ponderou que não devem entrar em “pânico” e a “vida precisa ser tocada para frente”. Também tocou no polêmico assunto que gira em torno da cloroquina.
Primeiros sintomas
Nelson lembrou que antes as pessoas ouviam falar da pandemia na China, muito distante e não imaginava que chegasse até nós, mas hoje ela “bate na porta.” Disse não saber dia exato que contraiu a covid, por ser uma doença “silenciosa” e com sintomas de resfriado. Mas começou a sentir os sintomas na primeira terça-feira de junho e foi para o hospital no domingo.
—Comecei a ter alguns sinais e sintomas de um mal estar. Umas náuseas, falta de apetite. Mas como as vezes a gente sente isso, não levei em consideração. Fui aguentando em casa, tomando remédios sintomáticos. Remédios para mal estar. Tive uma febre baixa, então tomava antitérmicos. Remédio para baixar temperatura. Disse, acrescentando.
—Quando foi domingo vi que não estava bem. Muito enjoo, remédio não estava resolvendo. A febre não era alta, mas persistente e adiantava tomar remédio. Foi quando achei por bem procurar o atendimento médico no domingo. Pelos exames de laboratório, inclusive pela tomografia do tórax, pude ver que estava desenvolvendo a doença covid-19.
Tratamento no hospital
No HDO, Nelson passou os primeiros quatro dias em leito clínico, começou a sentir falta de ar e a oxigenação do sangue baixou um pouco. Diante disso, foi levado para a UTI, onde passou 20 dias internado, mas não precisou ser entubado. Ele recebeu os cuidados de médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e auxiliares.
—Fiquei no oxigênio e no suporte, com tratamento com antibióticos. (...) o suporte com corticoide, anticoagulante, hidratação e antibióticos. E antibióticos não [são] para o vírus diretamente. Os antibióticos são feitos para que você evite uma chamada infecção secundária. Explicou, complementando.
—Atrás do problema do vírus vem uma bactéria e promove ainda infecção secundária. Uma pneumonia por bactéria. E que iria complicar o quadro. Então nós fazemos [uso] de antibióticos pesados, de última geração, justamente para garantir que não tenha essa secunda infecção bacteriana.
Recuperação
Nelson frisou que, apesar de ser médico, ficou preocupado assim que foi internado, mas depois ficou mais tranquilo por estar recebendo os devidos cuidados e considerou o tratamento eficaz.
—Lógico que assusta [...] nós somos humanos. Então, mesmo eu sendo médico, na área da saúde a gente sempre fica muito preocupado. A família fica muito preocupada, é uma fase difícil para todo mundo. Mas é onde você tem que estar nessa hora, no hospital, sendo bem orientado, bem cuidado. Não deixando a doença evoluir por contra própria. Reiterou.
O médico relatou que poderia ter deixado o hospital alguns dias antes, mas preferiu ficar internado alguns dias depois. “Eu quis sair mais forte, mais seguro.” Já em casa, Nelson explicou que os cuidados continuam, nesta outra etapa de recuperação.
—Fora da fisioterapia eu também faço exercícios sozinho. Exercícios respiratórios, exercícios de fortalecimento da musculatura, que eu realmente enfraqueci muito a minha musculatura. (...) Agora estou indo muito bem, graças a Deus.
Polêmica da cloroquina
O médico também falou sobre a polêmica em torno do uso da cloroquina, que não tem respaldo científico e o uso experimental segue os recentes protocolos do Ministério da Saúde.
—Tratamento específico ainda é discutível. Aquelas questões de usar cloroquina, não usar cloroquina. Então realmente isso é discutível. Eu não usei internado. Não foi feito para mim, eu não quis interferir no tratamento. E não foi feito pra mim e não usei.
Vida deve seguir com a covid-19
Para Nelson, a covid-19 é “uma doença que nós vamos ter que conviver com ela” por bastante tempo. Pois não há tratamento específico e não tem uma vacina ainda. Neste sentido, Nelson aponta que a “vida deve ser tocada para frente”, com os devidos cuidados e sem pânico.
—É uma doença que não vai ser erradicada de um dia pro ouro. A gente tem que trabalhar, a gente não sobrevive sem o trabalho. O cuidado que temos que ter [é] higiene, [usar máscaras] e evitar aglomerações e seguir as orientações médicas. Não temos que entrar em pânico. Mas temos que ter os cuidados necessários. Não podemos ficar 365 dias trancados dentro de um quarto, com medo de sair na rua. Recomendou.