Você, com certeza, já deve ter ouvido falar de commodity. Principalmente em contextos de crise ou recuperação econômica, esses produtos são constantemente mencionados nos noticiários como fator direcionador da nossa economia. E no mercado financeiro, seus papéis são oferecidos como garantia de lucros elevados em curto prazo. Mas, afinal, o que são commodities?
O que são e como funcionam as commodities no comércio
De origem inglesa, a palavra commodity significa “mercadoria” e, nada mais é do que produtos de pouca ou quase nenhuma diferenciação, padronizados, produzidos em larga escala e que servem de matéria-prima para a produção de outras mercadorias.
Esses produtos também podem ser estocados e, devido às suas características padronizadas, podem ser usados como moeda de troca em negociações comerciais. São divididas em categorias: agrícolas, minerais, ambientais e financeiras. E são, majoritariamente, negociadas no mercado futuro.
As commodities agrícolas são os principais produtos de exportação do Brasil e possuem grande peso na balança comercial do nosso país, respondendo por 57% de todas as nossas exportações.
A soja é o principal desses produtos e, diante do contexto de guerra comercial entre Estados Unidos e China, nos tornamos o maior exportador mundial desse produto, recentemente, junto a suco de laranja, café e açúcar.
Desse modo, as oscilações de preços nesses mercados tendem a ter forte impacto na economia brasileira. Em 2014, uma das razões para a recessão na qual o país entrou foi justamente a queda abrupta no valor das commodities, sobretudo da soja e do petróleo.
Segundo Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a participação das commodities nas exportações do Brasil passou de 5,6% em 2012 para 6,5% do PIB em 2017, tornando o país ainda mais exposto às oscilações do mercado.
A indústria e o uso de commodities
O petróleo é considerado uma commodity mineral e também tem forte peso na economia brasileira. Isso porque, enquanto matéria-prima, o petróleo é a base para a fabricação de produtos que vão muito além da gasolina: do pote de plástico ao chiclete.
No caso das commodities agrícolas, engana-se quem pensa que o milho e a soja transgênica vão diretamente para o prato do consumidor. Esses grãos são, em sua maioria, usados como ingrediente para a produção de ração animal e têm importância para muitas indústrias, como a farmacêutica e a química. Até plástico pode ser feito a partir do milho ou mesmo da celulose da cana-de-açúcar.
Em outras palavras, esses produtos básicos são ingredientes para diversas tecnologias que usamos no nosso dia a dia e, com o passar dos anos, se tornaram a base da economia mundial.
Expectativas e oscilações do mercado
Por serem pouco diferenciados, esses produtos acabam tendo seus preços determinados, principalmente, pela lei de oferta e demanda, e oscilam de acordo com as projeções de produção e consumo mundial. Essa é a teoria. Na prática, esses mercados também são afetados pela atuação de fundos não comerciais e outros agentes financeiros que veem nesses mercados a garantia de lucros elevados, sobretudo devido ao elevado risco que oferecem.
Considere uma safra agrícola qualquer, cuja previsão de plantio, no início do ano-safra, seja de 100 milhões de hectares. Passados três meses, constata-se que a produtividade desses hectares ficará 30% abaixo da média devido a problemas climáticos. Embora a colheita ainda não tenha ocorrido — e essas perdas não tenham se materializado —, o valor dessa commodity agrícola tende a subir, gerando ganhos rápidos e elevados para aqueles que possuem títulos comprados no mercado futuro. Na colheita, contudo, constata-se que as perdas foram de apenas 10%. Nesse caso, então, o mercado despenca, e aqueles que mantiveram seus papéis ou compraram no momento de alta podem amargar perdas.
Nacionalmente, a forte dependência das commodities torna a economia brasileira mais vulnerável a crises internacionais. Primeiro porque esses produtos podem ser estocados e, em contexto de crise, é comum que os países consumidores reduzam suas compras, pressionando o mercado.
Além disso, por serem de pouco valor agregado, as commodities tornam-se praticamente impossíveis de terem seu preço controlado, embora o Brasil seja o maior produtor mundial de algumas delas.
Por isso os economistas defendem incansavelmente a maior diversificação das nossas exportações, sobretudo com produtos manufaturados ou industrializados. Ou seja, mercadorias sobre as quais seja possível determinar preços de forma mais desvinculada dos fatores de oferta e demanda. Seria o primeiro passo para a economia brasileira se proteger das idas e vindas do mercado internacional, além de gerar mais emprego e agregar maior valor aos produtos exportados.