Pensar positivo é associado a um dos traços distintivos das pessoas de sucesso
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A resposta à pergunta do título é, do meu ponto de vista, sim e não. Quando o pensamento positivo é expressão da potência de vida que vibra no sujeito, certamente o pensar positivo ajuda a viver melhor. Porém, quando o positivo vem como uma negação e substituição do negativo o que visualizo é um maltrato à saúde psíquica da pessoa que pode, inclusive, resultar em frustração.

Pensar positivo é associado a um dos traços distintivos das pessoas de sucesso, e vivemos em uma sociedade cuja tendência de grande parte das pessoas é pensar em si mesmas como um empreendedor em potencial, logo, cultivar a negatividade seria autossabotagem e escalada para o fracasso.

Outros são adeptos do pensar positivo como abordagem terapêutica, por acreditar que os pensamentos influenciam nas emoções e, consequentemente, no bem-estar. Positividade, por esse prisma, contribui para a felicidade, ao passo que negatividade gera mal-estar e até doenças.

O problema dessas visões comentadas consiste, a meu ver, em tomarem os processos de pensamentos positivos e negativos como dois botões – um do positivo e outro do negativo – que se pode ligar e desligar por ação deliberada e autônoma da vontade consciente.

A visão psicanalítica nos leva a considerar outras variáveis. Primeira: é famosa a formulação de Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, segundo a qual o homem não é senhor em sua própria casa, ou seja, os motivos mais importantes para o nosso pensar, sentir e agir não estão ancorados em nossa vontade consciente, mas no inconsciente. Algum tempo depois, nessa mesma direção, o psicanalista francês Jacques Lacan afirmou que o sujeito é onde não pensa e pensa onde não é, ao contrário do que afirmava René Descartes de que o existir era afiançado pelo pensar.  

Segunda: quando uma pessoa sente necessidade de, deliberadamente, pensar positivo é porque consciente ou inconscientemente já está presente o pensamento negativo. Freud, em 1925, já afirmava que a negação oferece o atestado do inconsciente, ou seja, quando você nega algo isso funciona, na verdade, como uma afirmação do que foi negado.

A necessidade mais profunda, portanto, é de lidar com o pensamento negativo, ao passo que a positividade encampada comparece como um recurso, uma defesa contra aquilo que está sendo jogado para debaixo do tapete. Por fim, vale dizer que uma hora o tapete fica pequeno e o lixo derrama, o que significa dizer que não é somente porque se nega que esse algo desaparece. Freud já advertia, aquilo que se joga pela porta retorna pela janela, o que importa dizer que os pensamentos negativos que estão sendo evitados podem voltar, talvez mais furiosos ainda, como sintomas.

Do meu ponto de vista, melhor que evitar os pensamentos negativos, substituindo-os por outros positivos, é dar lugar a eles na vida, perguntando-se o que eles dizem sobre você. Os pensamentos bons e ruins são duas faces da mesma moeda e pertencem a uma mesma pessoa, você. Negar uns e afirmar outros é negar, ao mesmo tempo, uma parte importante da pessoa que se é.

Longe de se entregar a um usufruto masoquista desse tipo de pensamentos, o que importa é pesquisá-los, convertendo-os em fonte de curiosidades, de modo a escolher estratégias mais criativas e interessantes para lidar com eles e, se possível, quem sabe, fazer uma análise para elaborar o negativo que for aparecendo no caminho, por que os pensamentos negativos nunca vão deixar de existir. Quando aparecerem, o melhor é conversar com alguém sobre eles, porque viver negando, vamos combinar, cansa, não é mesmo?  

Perfil 

Dr. Francisco Neto P. Pinto

 *Dr. Francisco Neto Pereira Pinto
Psicanalista, escritor, membro da Academia de Letras de Araguaína e Região Norte do Tocantins, e professor no PPGDire/UFNT e no Unitpac. 
fneto@uft.edu.br