Fêmea do pato-mergulhão do Jalapão com filhotes.
Foto: Kleber Fernandes

Nesta sexta-feira, 6, o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) divulga o relatório da etapa da expedição conjunta realizada com as equipes da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Fundação Pró-Natureza (Funatura) ao longo do Rio Novo, na região do Jalapão e em um de seus afluentes, o Rio Verde, nas áreas da Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins, Área de Proteção Ambiental do Jalapão (APA do Jalapão) e Parque Estadual do Jalapão (PEC).

A jornada ocorrida entre os dias 27 de agosto e 02 de setembro último teve como objetivo percorrer a cobertura amostral das unidades de conservação (UC’s) que compõem o mosaico de áreas e que possuem potencial reprodutivo da espécie pato-mergulhão, nome científico Mergus octosetaceus.

Ao todo foram percorridos cerca de 150 km de extensão do Rio Novo, durante cinco dias de trabalho desde sua nascente na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins até a Cachoeira da Velha, no Parque Estadual do Jalapão.

No trecho do Rio Novo, percorrido, foram visualizados aproximadamente 25 indivíduos adultos da espécie, que é considerada uma das aves mais ameaçadas de extinção do mundo. Entre estes, foram identificados alguns casais em fase reprodutiva ou cuidando de filhotes, adultos em fase de muda de penas e ninhos ativos.

O biólogo do Naturatins, Marcelo Barbosa, relatou detalhes da expedição. “Durante a expedição foi realizada a avaliação da população de pato-mergulhão local e mapeada as áreas com reprodução in situ atuais. As informações obtidas devem contribuir com o conhecimento e desenvolvimento da espécie na região, destacando a importância do investimento em ações para a preservação desta ave em seu habitat natural”, resumiu.

Marcelo Barbosa destacou que durante os anos de acompanhamento, foi verificado que o pato-mergulhão corria o risco de extinção. Em decorrência deste fato, foi realizada uma força-tarefa no Jalapão a partir de 2015, para dá início à reprodução em cativeiro desta espécie. “Com o intuito de realizar futura reintrodução da espécie na natureza, uma exemplar fêmea da espécie oriunda do Jalapão nidificou com o macho oriundo de Minas Gerais. Hoje a operação obteve sucesso, pois estes indivíduos geraram alguns filhotes em cativeiro. Todos estão bem, com saúde e em ótimo estágio de desenvolvimento”, concluiu o biólogo.

O pesquisador da Fundação Pró-Natureza (Funatura), Paulo Antas, falou dos avanços do estudo. “Neste ano incluímos a Estação Ecológica da Serra Geral, entre as áreas de reprodução desta espécie muito ameaçada. De acordo com os nossos registros entre 12 a 15% da população mundial do pato-mergulhão está no Rio Novo. A inclusão de mais uma UC neste esforço é uma ótima notícia, uma vez que auxilia a preservação da espécie e a unidade passa a ter o registro de reprodução”, enfatizou o pesquisador.

Paulo Antas pontuou também que ocorreu uma expansão do período reprodutivo do pato-mergulhão no Rio Novo. “Até então nós tínhamos dados até meados de julho e agora entre o final de agosto e início de setembro registramos ninhos com ovos, ainda sendo incubados e filhotes nascendo. São resultados muito significativos, porque nos revela a expansão do período reprodutivo, não sendo tão restrito ao período que se imaginava”, adiantou.

Para o técnico do Instituto de Ruraltins, Valtécio Carvalho, o pensamento conservacionista é o alicerce de políticas de desenvolvimento sustentável, para garantia da qualidade de vida. “O respeito à biodiversidade é um dos princípios do desenvolvimento sustentável. No Jalapão devemos nos atentar aos moldes de exploração econômica e ocupação territorial, que preconize a conservação ambiental.

“Nesta expedição encontramos no Rio Novo exemplares do pato-mergulhão em todas as fases do seu ciclo de vida, desde a nidificação, filhotes recém-nascidos, até casais adultos. A presença desta ave em processo reprodutivo, é um indicador que ainda há um ambiente equilibrado e qualidade da água local”, afirmou.

Preservação

Marcelo Barbosa conta que, desde 2007, o Naturatins acompanha este trabalho e apoia iniciativas de conservação da espécie. O biólogo esclarece que estas ações buscam colaborar com o Plano de Ação Nacional (PAN) do pato-mergulhão, que é uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Anualmente o grupo de trabalho reúne representantes de órgãos ambientais governamentais e não governamentais, para o planejamento da agenda futura de atuação. Neste ano, este encontro está previsto para ocorrer no mês de novembro.

Paulo Antas considera muito importante o controle da prática do Rafting estabelecido pelo Naturatins durante o período reprodutivo da espécie. “O período vem coincidindo com o final da estação reprodutiva do pato-mergulhão e de mudança das penas dos adultos. Os patos têm uma característica única entre as aves, neste período trocam as penas de voo, que se estende por duas a três semanas, quando a espécie tem como opção somente o mergulho, para escapar de potenciais predadores. O controle desta prática esportiva evita que as aves se dispersem por longas distâncias e fiquem impedidas de retornar aos ninhos”, explicou o pesquisador.

A Pesquisa

A pesquisa coordenada pela Funatura tem abrangência nacional, com duração de quatro anos e conta com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Na expedição ao longo do Rio Novo no estado do Tocantins, o trabalho contou com o acompanhamento do biólogo do Naturatins Marcelo Barbosa, dos pesquisadores Paulo Antas da Funatura e Flávio Ubaid  da UEMA e do técnico do Instituto Rural do Tocantins (Ruraltins), Valtécio Carvalho.

Casal de pato-mergulhão localizado durante a expedição.

Biólogos percorrem cerca de 150 km de extensão do Rio Novo.

Expedição de biólogos percorre Rio Novo no Jalapão.

Biólogos aprovam o controle do Rafting para evitar dispersão das aves por longas distâncias.