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Projeto "Imagens-relicário" conta histórias de gerações de famílias em Araguaína

No Dia Internacional da Família, iniciativa em Araguaína estimula resgate de memórias por meio de fotografias

Os arquivos fotográficos de família constroem uma crônica visual dos valores e tradições que contribuem para a identidade e legitimação da memória familiar. Diante da riqueza que são os álbuns de família, um projeto estimulou a interação de avós e netos n
Foto: Divulgação

Os arquivos fotográficos de família constroem uma crônica visual dos valores e tradições que contribuem para a identidade e legitimação da memória familiar. Diante da riqueza que são os álbuns de família, um projeto estimulou a interação de avós e netos na revisitação a esse tipo de imagem. No Dia Internacional da Família, 15 de maio, reflete-se sobre a importância da socialização intergeracional e como ideias simples permitem o fortalecimento dos vínculos familiares, como uma pessoa mais velha reunir as crianças do núcleo familiar e relatar as histórias das imagens rememoradas.

Foi esse o objetivo do projeto “Imagens-relicário: contando histórias de vida entre gerações”, desenvolvido em dezembro de 2024, em Araguaína. A proposta, que contou com a coordenação das jornalistas Gláucia Mendes e Keliane Vale, concorreu e foi aprovada em edital da Lei Complementar nº 195/2022 - Lei Paulo Gustavo, na categoria de “leitura, escrita e oralidade”. Participaram três famílias, cujo papel social de guardar a memória fotográfica coube às mulheres.

Álbuns de família voltam à cena, em um formato de resgate da oralidade, da conversa e da história de vida dos mais velhos para os mais novos.

A avó Feliciana Santos Aguiar Araújo, aposentada de 70 anos, participou da interação do projeto “Imagens-relicário” e sentiu-se muito saudosa. “Foi um momento muito agradável. A gente revê o passado e dá muita saudade! A gente passa muito tempo sem ver as fotos… e eu tenho o privilégio de ter e rever essas coisas tão boas, que me fazem tão bem. É uma lembrança que não se apaga nunca. Foi muito importante nosso encontro para lembrar, inclusive meus netos gostaram muito de ver. Um disse que não sabia que tinha tanta coisa de outro tempo que ele nem tava aqui ainda”.

O valor simbólico das fotos físicas preservadas nos álbuns de família foi destacado pela professora aposentada Zildedite Sousa Rocha Gonçalves, 65 anos, participante do projeto: “A foto tá aqui, física, ao vivo. E hoje tudo tá digitalizado, tá tudo na nuvem, como diz o outro. Aqui não tem nenhuma foto dos nossos acampamentos de praia que foi em julho, a gente não tá vendo. Porque se chega uma pessoa, você não vai lá, vem, vamo ver no computador as fotos. Então, se tivesse o álbum, seria bem mais fácil”, ponderou.

Outra avó participante do projeto foi a técnica de enfermagem aposentada Maria de Jesus Morais Silva Santos, 69 anos. Para ela, as fotos demonstram as dobras da vida: “Têm muita recordação muito boas, têm recordações tristes, mas, como diz a história, faz parte, né? É a vida. É assim mesmo! A gente tem um momento que tá alegre e outro que tá mais triste. A gente guarda no coração, mas, pra ficar às vezes relembrando, a gente olha a foto, ‘ah!... aconteceu isso’. Essa foto é quando eu tava nesse momento”, ilustrou.

A jornalista Gláucia Mendes colaborou no projeto principalmente por se identificar com fotos, pois sempre foi amante da fotografia. “Minha mãe guardava umas fotos de binóculos e eu amava ver. E quando eu tinha oportunidade, registrava uma cena com máquina fotográfica, geralmente era em estúdio ou quando alguém tinha o equipamento, visto que não era tão acessível. E hoje, com câmera no celular, na palma da mão, estou sempre fotografando algo, seja eu ou alguma paisagem. Amo rever as cenas, é como se eu voltasse ao passado, e por isso aceitei o convite prontamente. Foi muito bom participar, um verdadeiro mergulho nas memórias. Senti que é importante guardar momentos em fotografias, pois elas têm o poder de nos fazer voltar no tempo. Foi muito emocionante!”, finalizou.

O projeto tem rede social no Instagram (@imagensrelicario), com mais informações sobre a realização das interações familiares.

 

Pesquisa científica
Conhecedora da importância dos acervos fotográficos de famílias, esse é um tema recorrente na trajetória acadêmica da idealizadora do projeto, Keliane Vale, que concluiu pesquisa sobre o assunto para o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo e, atualmente, de Letras - Português, respectivamente na Universidade Federal do Tocantins e Universidade Federal do Norte do Tocantins.

No livro “A transformação histórica de Araguaína”, que reuniu diversos autores que escreveram sobre a cidade, o capítulo “Família Machado: uma leitura das fotografias de uma família pioneira em Araguaína” é parte da sua monografia de Jornalismo, que utilizou os álbuns daquela família para reconstituir micro-histórias da vida da ex-vereadora e ex-professora Luzia Machado, demonstrando, por meio das fotos, a grande contribuição de Luzia na transformação social no município.

Já o projeto “Imagens-relicário: contando histórias de vida entre gerações”, além de ter integrado a Lei Paulo Gustavo, está vinculado ao seu trabalho de conclusão do curso de Letras - Português, previsto para defesa ainda neste semestre, com o título “Eventos de letramento a partir da socialização intergeracional de leitura de fotografias da família”.

O projeto contou com a coordenação das jornalistas Keliane Vale (esquerda) e Gláucia Mendes (direita).

“O projeto enfatizou o resgate da memória dos idosos e valorização das gerações passadas das famílias participantes, assim como a conversação entre avós e netos. Essas interações estão sendo investigadas por mim e pela minha orientadora Dra. Míriam Guerra para apontar as práticas de letramento familiar que permeiam esse momento”, explicou Keliane.