Entre 2020 e 2025, o Tocantins registrou 608 novos casos de câncer de pele, segundo o Painel de Oncologia do Ministério da Saúde. O dado revela uma tendência preocupante: mesmo com campanhas permanentes de prevenção, a incidência segue alta, sobretudo entre homens, que tiveram 345 diagnósticos, contra 263 entre mulheres. No mesmo período, o Estado contabilizou 118 mortes pela doença, conforme o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM).
Para a oncologista Marina Vasco, os números confirmam o que a rotina clínica já evidencia, ou seja, o Tocantins tem um nível de radiação solar elevado praticamente o ano inteiro, e a população ainda se protege pouco. Ainda segundo a médica, o Estado reúne fatores que potencializam o cenário: altas temperaturas, céu aberto durante a maior parte do ano e uma população com forte presença de trabalhadores expostos ao sol por longos períodos, como lavradores, pedreiros, agentes comunitários e profissionais do transporte.
“O problema vai além da exposição. Há uma naturalização da queimadura solar, como se fosse algo banal. Mas cada vermelhidão, cada ardência, é um dano celular que se acumula e pode virar câncer”, explica.
A Secretaria de Estado da Saúde recomenda o uso diário de protetor solar FPS 30 ou superior, roupas que cubram áreas sensíveis, chapéu e óculos com proteção UV, além de evitar exposição entre 9h e 15h. Mas, na prática, a adesão é limitada. “Muitas pessoas continuam achando que protetor é item de praia. Não é. Ele deveria ser usado todos os dias, inclusive em dias nublados”, reforça Marina.
A médica ressalta também a importância de observar pintas e manchas que mudam de cor, tamanho ou textura. “O diagnóstico precoce é extremamente eficaz. Quando descoberto cedo, o câncer de pele costuma ter tratamento simples e altas taxas de cura”, diz.
Tratamento
O Tocantins dispõe de tratamento oncológico pelo SUS no Hospital Geral de Palmas (HGP), no Hospital Regional de Araguaína (HRA) e em uma unidade terceirizada na Capital, todos habilitados como Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon).
De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, a estrutura assegura cirurgia, acompanhamento e terapia especializada, mas nem sempre o atendimento ocorre no estágio ideal.
Com mais de 600 diagnósticos em cinco anos e mortalidade significativa para um tipo de câncer altamente prevenível, o alerta fica evidente. Para Marina Vasco, a mudança depende de informação e hábitos.
“Não é preciso transformar a vida, apenas incluir cuidados básicos na rotina. O sol do Tocantins é forte demais para ser ignorado. Recebemos muitos pacientes com lesões grandes, ulceradas, que poderiam ter sido tratadas com muito mais facilidade se tivessem chegado meses antes”, enfatiza a profissional.

