O rombo no Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev) pode chegar a 1 bilhão de reais. Essa é a análise feita pelo empresário e consultor financeiro, Osvaldo Duraes. Segundo ele, muitos outros títulos de crédito ainda vão vencer e o resgate será frustrado, aumentando consequentemente o rombo no Instituto.
Para Durães, o grupo que geria o órgão estava “atrás de fazer esquemas” já que a “a coisa tinha sido feito para roubar”, da forma que estava.
Nos anos de 2011 e 2012, período em que Eduardo Siqueira Campos era o presidente do Conselho de Administração do órgão, o Igeprev fez inúmeras aplicações temerárias em fundos “podres”. O próprio relatório assinado pelos auditores do Ministério da Previdência, em agosto de 2012, aponta que o Instituto já possuía aplicações irregulares, e ilegais, em dez fundos, o que teria causado prejuízos de R$ 153,6 milhões com o BVA (liquidado), R$ 143 milhões no Diferencial (liquidado pelo Banco Central) e R$ 46 milhões no FIDC Trendbank, administrado pelo banco Cruzeiro do Sul (também liquidado).
"Para fazer esquemas"
Para o empresário e consultor financeiro que tem vasta experiência na área financeira, o que provocou essas elevadas perdas foram os atrativos percentuais de comissão pagos pelos bancos ao agenciador, na época o ex-diretor do Departamento de Investimentos do Igeprev, Edson Santana Matos, “O professor”, segundo a Polícia Federal. “Tudo isso foi gerado por causa de um negócio chamado comissão, que varia de 4,5% a 5,5% do montante investido. Edson recebia essa comissão milionária e dividia com a gangue que administrava o Igeprev. Se em apenas três anos trocaram setes vezes de presidente é por que a coisa foi feita para roubar”, afirmou Duraes.
Exemplificando, numa aplicação de 300 milhões de reais, o agenciador poderia ganhar até 16 milhões de reais em comissão, o que mostra ser um negócio bastante lucrativo.
O empresário abordou ainda sobre o risco das aplicações no Instituto. “Estavam atrás de fazer esquemas no Igeprev. Aplicaram no BVA mesmo já tendo indícios no mercado financeiro que o banco iria quebrar. Aplicaram no Banco Rural bem no auge do envolvimento de seus diretores no escândalo do mensalão. O Igeprev aplicou R$ 4 milhões no BVA justamente no dia que o Banco Central fez a liquidação da instituição. A coisa foi feita para roubar”, completou Osvaldo Duraes.
Duraes revelou ainda que o ex-diretor do Igeprev, “O professor”, agora desfruta de toda comodidade e vida boa em apartamento do Rio de Janeiro (RJ). “Os caras de fora roubam o nosso dinheiro, levam pra outros Estados e ficam sorrindo da nossa cara”, desabafou.
Atuação dos sindicatos
O empresário também criticou o que chamou de inércia dos sindicatos. Eles também fazem parte do Conselho do Igeprev, órgão responsável pela análise e aprovação dos investimentos. “Não fiscalizaram com rigor. Deixaram à revelia. Deveriam ter questionado. Quem era o Banco Rural? O BVA? Eu trabalho no mercado financeiro e não conhecia esses bancos. Os sindicatos sabiam dessas aplicações temerárias. Eles fazem parte do Conselho e têm direito a voto. Porque só agora estão reclamando?”, questionou Osvaldo Duraes.
Ligações com Fayed
Conforme as investigações e auditoria no órgão o Instituto também perdeu dinheiro ao aplicar em fundos indicados pelo grupo do doleiro Fayed Traboulsi, acusado de corrupção e desvio de verba pública. Segundo o Ministério da Previdência Social o governo aplicou o dinheiro do órgão em três empresas ligadas ao doleiro, além de aplicar mais do que era permitido em diversos fundos de risco.
Pela lei, no caso de fundos privados, o governo só pode aplicar dinheiro no limite de 25% do total do patrimônio líquido do fundo. Mas, segundo o Ministério, as aplicações feitas pelo órgão ultrapassaram esta taxa de segurança. No fundo Leme IMA Previdenciário, o Tocantins chegou a ter 48,45% do patrimônio. As aplicações no fundo Incentivo Multisetorial II chegam a 33,66%, no Leme Brasprev, a 39,38% e no Roma Previdenciário, a 48,25%. No fundo Incentivo Referenciado, o Estado tem 100% do patrimônio aplicado, isso quer dizer que se a empresa falisse, todo o dinheiro será perdido.