Fernando Almeida

Em 21 de junho de 2013, há exato um ano, sete mil pessoas saíram às ruas de Araguaína em protesto. Com cartazes, faixas e palavras de ordem, a sociedade araguainense marchou em peso pelas ruas da cidade.  Eram donas de casa, trabalhadores autônomos, funcionários, empresários, professores, apromotores de justiça e demais representantes das classes sociais que mostraram indignação nas ruas e fizeram suas cobranças.  Salvo engano, foi o maior protesto da História de Araguaína.  Mas um ano depois, o que mudou? O que permanece? E quais frutos e/ou desilusões colhidos do #VemPraRua Araguaína?

A inovação

O protesto em Araguaína, assim como em todo o Brasil, apresentou-se de forma diferente dos demais. A princípio tratava-se de um movimento espontâneo, que surgia no meio da sociedade comum, convocado pela internet, sem bandeira partidária e sem um líder. A impressão era que de fato representava toda indignação do povo brasileiro em relação às ações de dos governantes. Era tão forte a mensagem passada através da ação das multidões nas ruas, que muitos repetiam o bordão: o gigante acordou!  Seria a “Primavera Árabe” abrasileirada que derrubaria os ditadores que estão no poder no Brasil há mais de meio século.

Motivações

Mas um ano depois que o gigante acordou, quais conquistas se obtiveram em virtude dos protestos? No âmbito nacional o estopim para a explosão foi os ‘20 centavos.’  Mas, de fato, a nação brasileira não queria apenas um desconto na tarifa de ônibus, mas sim cobrava um dívida secular do Estado brasileiro para com a sociedade.   Ao regionalizar o protesto, o araguainense também exigia o que lhe é de direito. As conquistas, talvez foram pequenas.   Na época, horas antes o protesto, o prefeito Ronaldo Dimas anunciou a redução de 15 de centavos na tarifa de ônibus. A nível de Tocantins, os deputados abriram mão do auxílio moradia, após as manifestações. 

Mudança de foco

Com o passar do tempo e algumas mudanças que não mudam quase nada,  os protestos foram perdendo forças.  Além, claro, do caráter pacífico que foi perdendo, em alguns casos.  Como diria Geraldo Vandré, “os indecisos cordões,” pareciam marchar pelas ruas sem rumo, sendo manipulado pela mídia e usando da violência.  Chegou-se ao cúmulo do absurdo de se pedir a ditadura de volta.  Algumas pessoas perderam a vida, entre elas um cinegrafista da Band. Este fato revelou a outra face, a maquiavélica dos protestos, que alguns não lutam por questões ideológicas, mas sim porque eram financiados.

O debate superficial da mídia

E quem financiava?  Em troca de quê? Para beneficiar quem?  Claro, que estes eram uma pequena minoria, mas que a mídia conservadora tratou de maximizar essa vertente em detrimento das outras e poucas vezes promoveu debates profundos sobre os temas. O comportamento omisso do terceiro poder, a imprensa,  não saiu de graça. Ela contribuiu para a manutenção das mesmas estruturas de poder e do sistema governamental, sem possibilitar a redenção social. Isso implica que os indivíduos permaneçam  sem mudar de classe social.  Não se questionou a fundo as reais causas de muitos problemas brasileiros suas soluções, mas o olhar focou apenas o agora, o momento, o governo de esquerda.

Contradições

Por outro lado, os protestos que proibiam bandeiras de partidos eram contraditórios, pois se opunham ao verdadeiro sentido da democracia. E a rotatividade do poder? Num olhar mais profundo percebeu-se que a tentativa era idealizar um gigante Brasil  somente verde e amarelo, falante do português, sem as classes sociais. Nesse sentido, esqueceriam das ideologias, de conceitos de direita e esquerda, jogando a responsabilidade de todo o caos de 500 anos em um só governo. Tanto é que a presidente Dilma despencou nas pesquisas após as manifestações, sem que houvesse qualquer escândalo que justificasse tal queda. A partir desde víeis, percebeu-se que além das multidões que foram insufladas pela mídia e estavam insatisfeitas com os governantes, alguns se agarraram ao momento para tirar proveito político da situação.

As lições 

E no próximo dia 5 de outubro, a marcha para a urna será como indecisos cordões ou será ciente da realidade para escolher aqueles que podem mudar os rumos do país? Mas valeu a pena fazer protesto? Apesar das mudanças serem pequenas, as manifestações do ano passado foram significativas para o país.  Elas mostraram a força e o peso que a sociedade tem quando está unida em busca de um objetivo.  Provou que esforço conjunto é capaz de transformar a realidade que os cerca.  As manifestações de junho foram uma "bruta sacudidela" no sistema político brasileiro. O gigante até acordou, meio sonolento e alheio à realidade que o cercava, mas autoridades perceberam que a população ainda tem a capacidade de se indignar com as injustiças.  E o maior recado deixado é que o poder “emana do povo e para o povo”.