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83,5% dos jovens que tentam vagas de estágio são reprovados por baixo desempenho em língua portuguesa

Especialista dá dicas de como não perder mais oportunidades profissionais.

Professora universitária Sibéria Sales Queiroz dá dicas para não perder oportunidades.
Foto: Divulgação

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) revelou que 83,5% dos jovens que buscam uma vaga de estágio ou aprendizagem são reprovados nos processos seletivos por apresentarem conhecimento gramatical insuficiente. A pesquisa levou em consideração o desempenho de cerca de 60 mil estudantes que tentavam entrar no mercado de trabalho. Desses, apenas 16,5%, cerca de 9 mil, passaram adiante. Os outros quase 50 mil foram desqualificados.

 

A reprovação em processos seletivos vai ao encontro do número de reprovações no âmbito escolar. Em comparação ao ano de 2019 (antes da pandemia), houve um aumento de 67% no índice de reprovações escolares.

A professora universitária e especialista em linguagem oral e escrita, Sibéria Sales Queiroz, acredita que pelo menos três fenômenos podem ter colaborado para esse índice: a desvalorização da língua portuguesa, a influência do mau uso da tecnologia ao propor um constante afastamento da norma gramatical e uma defasagem da metodologia de ensino aplicada pelos professores em sala de aula.

Os problemas na aprendizagem da língua portuguesa começam na educação básica e chegam às universidades. “No ensino básico, em cenário de pandemia, muitos alunos deixaram de ter orientação adequada dos professores para realizarem suas produções escritas. O processo de aquisição da escrita e da leitura, alfabetização e letramento, ficou prejudicado. Não podemos descartar que algumas dificuldades possam acompanhar os alunos até a vida adulta, caso não sejam tratadas de imediato” destacou.

 

Por outro lado, o processo de desprestígio da língua portuguesa tem sido agravado, segundo a especialista.

Quando o próprio sistema de ensino promove uma desvalorização do domínio da modalidade padrão da língua portuguesa à medida em que os cursos superiores delegam a disciplina de língua portuguesa para a modalidade online, como disciplina de menor importância na formação do futuro profissional, sem garantir a oportunidade real de orientação, por parte de professores, das produções dos alunos. Isso pode, também, contribuir para que o aluno passe a acreditar que a disciplina não é tão importante em relação a outras, com isso, o estudante não percebe que o seu insucesso acadêmico é proveniente da dificuldade de leitura e interpretação de textos e da dificuldade na exposição lógica de suas ideias em suas produções orais e escritas”, explicou a professora Sibéria.

 

A rapidez com que é preciso se comunicar atualmente, seja nas redes sociais com número de caracteres limitados ou por aplicativos de mensagens, também é apontada pela especialista como um fator que pode influenciar negativamente a relação dos jovens com a língua portuguesa padrão.

"Mesmo que o mercado de trabalho tenha mudado e hoje o profissional precise ser multitarefa e ligado à tecnologia, o domínio da norma padrão da língua portuguesa continua sendo um dos fatores de seleção mais importantes. A língua portuguesa é um cartão de visitas. Somos avaliados pela maneira como nos comunicamos por escrito e oralmente”, alertou a especialista.

O futuro profissional precisará dominar a língua portuguesa em diversos contextos e deverá adequar-se às situações nas quais a língua portuguesa padrão é essencial. Ter o domínio da língua portuguesa pode projetar uma pessoa nas mais diversas áreas profissionais, mas a falta dele pode “empatar” uma carreira. Por isso, vale a pena investir na leitura de qualquer material de interesse, desde que escrito dentro das normas da língua, assistir a vídeos do Youtube, por exemplo, de pessoas que se comunicam bem e, claro, buscar a ajuda de um professor. Afinal, sempre dá para melhorar, o que não dá é para ignorar uma dificuldade, afirmou a especialista.