
O período após o parto, conhecido como puerpério, é marcado por intensas mudanças físicas, hormonais e emocionais. Durante essas semanas, o corpo da mãe se recupera das transformações da gestação, enquanto as mamas passam a produzir leite e a rotina familiar se reorganiza em torno do bebê. Embora a chegada do filho seja motivo de alegria, especialistas alertam que esse período também exige atenção à saúde mental da mãe.
De acordo com estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2023), cerca de 25% das mães brasileiras apresentam sintomas de depressão pós-parto nos primeiros 6 a 18 meses após o nascimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que apenas metade dos casos seja efetivamente notificada, o que sugere que o problema pode ser subdiagnosticado. Entre os riscos, destacam-se o impacto sobre o bem-estar da mãe, a produção de leite materno e o vínculo com o bebê.
Sintomas e sinais de alerta
Segundo a psicóloga Wilma A. Amorim, coordenadora do curso de Psicologia da Afya Faculdade de Porto Nacional, a depressão pós-parto se manifesta como um transtorno de humor que pode surgir nas primeiras semanas ou meses após o nascimento.
“Os sinais incluem tristeza persistente, sensação de vazio, choro frequente sem motivo aparente e cansaço intenso, mesmo após períodos de descanso. Além disso, há alteração no sono, no apetite e ansiedade intensa, com preocupação excessiva ou sensação de inadequação materna”, detalha a especialista.
Outros sintomas podem ser mais preocupantes, alerta Wilma. “Algumas mulheres têm dificuldade de criar vínculo afetivo com o bebê, perdem interesse em atividades prazerosas e, em casos mais graves, podem apresentar pensamentos de autoagressão ou até de machucar a criança. É importante observar sinais precoces e buscar acompanhamento especializado para evitar agravamento do quadro.”
Relação entre saúde mental e amamentação
O impacto da depressão pós-parto também se estende à amamentação. Ellen Cristina Ferreira Peixoto, preceptora do internato de pediatria da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Palmas, explica que alterações emocionais podem interferir na produção de leite.
“Quando a saúde mental da mãe é afetada, há diminuição da ocitocina, hormônio essencial para estimular a lactação. Isso pode reduzir a produção de leite e comprometer a nutrição e o desenvolvimento do bebê.”
O Ministério da Saúde recomenda que o leite materno seja exclusivo até os seis meses de idade e continue sendo parte da alimentação até os dois anos ou mais. Além de fornecer nutrientes, o leite protege contra diarreias, infecções respiratórias, alergias e contribui para reduzir o risco de hipertensão, diabetes e obesidade futura.
Tratamento e suporte à mãe
O tratamento da depressão pós-parto deve ser individualizado e multidisciplinar, enfatiza Wilma Amorim. “As estratégias incluem psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a reorganizar pensamentos e emoções; participação em grupos de apoio e rodas de conversa, que promovem acolhimento e diminuem o isolamento; além do suporte familiar e social para tarefas do dia a dia. Em alguns casos, o uso de antidepressivos compatíveis com a amamentação pode ser necessário, sempre com acompanhamento médico. Tudo isso visa preservar a saúde da mãe e fortalecer o vínculo com o bebê.”
Prevenção e cuidados diários
Além do tratamento clínico, especialistas destacam a importância de prevenção e cuidados diários: manter rotina equilibrada, descansar sempre que possível, alimentar-se adequadamente e reservar momentos de autocuidado. Segundo Wilma, esses hábitos ajudam não apenas a reduzir os sintomas, mas também a preparar a mãe para enfrentar os desafios do puerpério de forma mais segura e saudável.
“A depressão pós-parto não é frescura nem escolha. Trata-se de uma condição de saúde que exige atenção e suporte profissional. Reconhecer os sinais precocemente e buscar ajuda são passos essenciais para garantir o bem-estar da mãe e o desenvolvimento saudável do bebê”, conclui a coordenadora.