
O projetista Hélio Cavalcante, pai do pequeno David Luiz Cavalcante que faleceu na última terça-feira (3) no Hospital Municipal de Araguaína (HMA), concedeu entrevista ao AN. Ele comentou sobre a repercussão de seu desabafo postado no Facebook. E ainda dos momentos de aflição na UPA e no HMA a espera de um diagnóstico, que infelizmente veio tarde e custou a vida de seu filho.
David de apenas 4 anos sofreu uma apendicite aguda e faleceu cerca de 29 horas depois do primeiro atendimento na UPA.
Ainda consternado pela dor de perder o filho, na quinta-feira (5) Hélio postou relato no Facebook que provocou comoção e sentimento de indignação em milhares de pessoas. Ele só não imaginava o tamanho da repercussão. Nas primeiras duas horas da postagem foram mais de 2 mil comentários. Hoje (7/7), o texto contabiliza mais de 24 mil compartilhamentos.
-- Minha intenção de início foi abrir os olhos da sociedade para um problema que é diário. Falta de experiência de médicos, falta de eficiência deles, a forma com que o sistema de saúde conduz os pacientes. O descaso, a falta de compromisso com as pessoas, com a vida. A falta de respeito com as pessoas. O empenho, não tem empenho. Meu objetivo quando fiz aquele depoimento foi pra isso. Argumentou Hélio.
Atendimento na UPA e HMA
Ele contou que chegou na UPA por volta das 13h30 da segunda-feira (2). David estava com febre e reclamava de fortes dores na barriga. Foi tratado inicialmente com Dipirona e Ibuprofeno.
-- Só que a febre dele não baixava. Ficava frio, gelado. Parecia que estava com hipotermia. Ele não chorava, não era menino de chorar. Ele reclamava ?mamãe minha barriga tá doendo. Quero água?. Quando bebia água vomitava. Não fazia xixi. E ficou ali de observação.
Para Hélio, faltou experiência por parte dos médicos e houve demora na transferência para uma unidade mais complexa. David só foi encaminhado para o HMA depois de passar 22 horas na UPA.
"Eles não souberam identificar por que a febre não baixou. Já que eles não sabiam identificar, transferiam pra um hospital de complexidade maior".
A demora também foi observada no HMA. --Meu filho chegou 11 horas no Municipal. Para uma criança que já foi de ambulância pra lá, ele demorou ainda uma hora pra ser atendido. Depois que estava na sala de estabilização, demorou mais 3 horas e meia para ser avaliado por uma pediatra, que identificou o problema, porém deixou o quadro dele em aberto.
Segundo Hélio, a pediatra avaliou que seria caso de cirurgia e chamou um cirurgião. --Ele [cirurgião] veio chegar umas 6 horas, quando meu filho já estava praticamente morrendo. Ele morreu 6 e meia, porque foi uma hora tentando reanimar.
A partir daí já não havia o que fazer. David não resistiu. Restou compartilhar a dor de perder o filho.
Apoio de internautas
Hélio disse que o desabafo nas redes foi para alertar a sociedade sobre a precariedade do atendimento na saúde. A postagem já contabiliza 7 mil comentários, 31 mil reações e 24 mil compartilhamentos.
Ele conta que leu relatos de casos parecidos, mas todos no mesmo sentido de indignação. "Teve gente que veio falar com a gente da Bahia, de Goiânia, Palmas, Colinas. Muitos portais de notícia, grupos de WhatsApp, então teve uma abrangência muito grande".
Sobre o apoio recebido, disse que não diminui a dor do casal. -- Mas a gente vai ouvir casos que são até piores do que os da gente. A gente vai se confortando. A gente vai vendo que não tá só. É bom porque muitas pessoas diziam que era o que elas queriam dizer e não diziam. Que não tinham coragem. E eu tenho coragem.
Cobrança a estudantes de medicina
Na publicação (veja desabafo completo) ele também dá puxão de orelha em estudantes de medicina para que tenham mais empenho na preparação. Hélio disse que suas palavras deram "um choque de realidade em um grupo de universitários no Instagran".
-- Lá foi um tapa na cara de praticamente 80% da classe. Isso eu falo não é pela minha opinião, é pelo o que eu li, pelo o que eu vi pelas postagens deles. Observa.
Ele ponderou que não condenou uma classe inteira. -- Eu direcionei a palavra pra um tipo de perfil de pessoa. E cada um que faça seu juízo final. Não sou eu que vai apontar o dedo pra nenhum. São eles próprios.
Por fim, disse que não tem medo de retaliações. -- Não estou com medo de nada. Nós somos vítimas disso tudo. Não somos os vilões. Finalizou.
O que diz a gestão da UPA e HMA
O Instituto Saúde e Cidadania ? ISAC, responsável pela gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Araguaína Sul e do Hospital Municipal de Araguaína ? HMA, divulgou nota negando que houve negligência no atendimento.
"O instituto informa que o paciente deu entrada na UPA no dia 2 de julho, por volta das 14 horas, e foi classificado com a cor laranja. As queixas eram de vômito, febre, fraqueza e tosse há oito dias, conforme relatado pela mãe. No entanto, não foram identificadas alterações abdominais. O diagnóstico inicial foi de amigdalite e o paciente foi medicado com antibióticos, antitérmico e mantido em observação". (veja nota completa aqui)