Fernando Almeida/Araguaína Notícias

Em defesa da “família tradicional” e contra “ideologia de gênero” em Livro Didático, líderes católicos e evangélicos foram à Câmara de Araguaína nesta terça-feira (2) para debater o assunto.  De outro lado, um grupo pequeno de representantes LGBTs criticaram que há “manipulação” sobre o tema.  A sessão foi marcada por discussões fervorosas entre os dois lados.

"Retirada dos livros"

A Pastoral da Família, entidade da Igreja Católica, considera inadequado a abordagem do Livro Didático (para crianças de 5 a 6 anos) traz sobre sexualidade. “É uma afronta à família. (...) Hoje a nossa meta é retirar esses livros de circulação das nossas escolas públicas municipais,” afirmou Hilário Rodrigues.

Reunião na Câmara com líderes católicos e evangélicos 

O representante da Pastoral também explicou, sem citar nomes de livros, o conteúdo que a entidade considera inadequado no livro didático em ambiente escolar.

São as fotografias que têm os toques entre as crianças. Um banheiro único para as crianças, que está sendo adotado também. Então é muita coisa. Realmente é uma afronta à família. Querem tirar dos pais o direito de educar os filhos e a escola educando da forma que o Governo quer”.

"Ditadura da ideologia" 

Na Tribuna, em pronunciamento de dez minutos, o vereador Terciliano Gomes defendeu a família tradicional, disse respeitar quem pensa diferente e teceu críticas aos livros, porém não mencionou quais seriam os livros. “Eu entendo, que possa atrapalhar a formação das nossas crianças. A formação moral e religiosa”. Ele ainda recordou da emenda no Plano Municipal de Educação que excluiu o termo gênero.

O apóstolo Bueno afirmou ser inconcebível que aos seis anos a criança tenha preparo psicológico para definir que sexo ele vai escolher. “Tenha santa paciência. (...)  Nós não podemos ter uma sociedade impositiva. Em nome da liberdade, estão querendo trazer a ditadura da ideologia de gênero. E isso não podemos aceitar!”.

Bueno ainda afirmou respeitar a orientação sexual diferente. “Quem defende tem o direito de fazer. E quem o faz, faça no seu ambiente pessoal, familiar. Você tem o direito de fazer. Mas, por favor, não me imponha o que é direito na sua casa, seja obrigado na minha.”

Manipulação do tema

Representantes LGBTs na Câmara de Araguaína

Em entrevista ao AN, Fernando Vieira, representante do IBRAT e professor da rede pública disse que as pessoas estão sendo manipuladas sobre o tema.  Ele acrescentou que não há livro ensinando crianças a fazer sexo nas escolas brasileiras e que tal boato foi divulgado pelo deputado federal Jair Bolsanáro.

“Este livro não está no rol dos livros do PNDE.  Estas pessoas estão sendo manipuladas, sendo enganadas por políticos ou um grupo de políticos que utiliza desse nicho político em prol de um alvoroço que não tem porque”.

Deturpação do termo

Cartaz exibido durante sessão da Câmara

Vieira ainda criticou o uso do termo “ideologia de gênero”. “Acho que precisa problematizar o que é ideologia de gênero. Gênero não é ideologia, é classe política. (...) No interior de sociabilidade, você nasce homem ou mulher. E você vai desenvolver relações dentro desta classe política. Então não é ideologia, as pessoas são não ideias. (...) As pessoas que estudam, que representam as minorias étnico-sexuais, não foram em nenhum momento consultadas, chamadas para ser ouvidas nesta Casa de Leis. Ela [Câmara] está tendendo para uma ideia. Isso, sim é ideologia

"Estupro corretivo"

Ao usar a Tribuna, o representante LGBT, Rodrigo Gomes, afirmou fazer parte do grupo de silenciados e defendeu políticas de enfrentamento. Ainda lembrou o crescente número de crimes homofóbicos e provocou os líderes evangélicos.

“A gente não estupra nossos filhos, como pastores fizeram ultimamente, estuprando crianças, como estupro corretivo. (...) A gente não é errado. Eu não estou errado. O meu corpo não está errado, ele vive assim. Eu preciso viver a forma que acha necessário para minha vida. E vocês (católicos e evangélicos) precisam aceitar.”

Livros sem identificação

Em relação aos livros distribuídos nas escolas municipais de Araguaína a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que cada escola tem autonomia para fazer a escolha. E confirmou que algumas unidades já foram enviadas pelo MEC, mas não entrou em detalhes sobre o teor do conteúdo.

Sobre as críticas do representante LGBT, o presidente da Câmara, Marcus Marcelo, esclareceu que o debate não foi solicitado pela Casa de Leis, mas sim pela Pastoral da Família e líderes religiosos.  

Apesar das discussões, não foi citado o nome dos livros que tratam do assunto.