O som das mãos firmes quebrando o coco babaçu ecoa por gerações no Tocantins, simbolizando a resistência e a sabedoria das mulheres que transformam esse fruto em sustento e dignidade. Em celebração ao Dia Estadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, antecipado para esta quarta-feira, 6, uma delegação de 19 mulheres da comunidade Pequizeiro, em Axixá do Tocantins, foi recebida no Palácio Araguaia Governador José Wilson Siqueira Campos, sede do Governo Estadual.
Promovida pela primeira-dama Karynne Sotero, titular da Secretaria Extraordinária de Participações Sociais, a visita faz parte do projeto Portas Abertas, que abre as portas do Palácio para que as comunidades possam se aproximar do espaço onde as decisões são tomadas. Mais do que uma homenagem alusiva ao 7 de novembro, data estipulada como dia das quebradeiras pela Lei nº 3.508, de 2019, a visita foi um reconhecimento da importância cultural e econômica dessas mulheres que, com o babaçu, constroem uma ponte entre o passado e o futuro.
“Estive na comunidade duas vezes este ano e testemunhei a força e a dedicação dessas mulheres, que transformam o coco em sustento e dignidade para suas famílias. É uma tradição que merece todo o nosso reconhecimento. Em datas como o Dia da Quebradeira, reafirmo nosso compromisso de seguir ao lado dessas mulheres, trabalhando para ampliar as políticas de valorização e apoio que garantam o reconhecimento de sua importância histórica e cultural”, ressaltou a primeira-dama Karynne Sotero.
Maria Antônia de Oliveira Silva dos Santos, técnica em Enfermagem formada com o trabalho árduo como quebradeira de coco, avaliou a experiência como enriquecedora. “Aprendemos tantas coisas sobre a criação do Estado e vamos levar esse conhecimento para a vida. Nós nos sentimos valorizadas com o espaço que está sendo aberto para nos acolher, mostrar a nossa cultura. Demonstrar que nós, quebradeiras de coco, podemos estar em qualquer lugar, sendo bem recebidas. Momentos assim, aqui no Palácio, nos trazem uma felicidade enorme. Gratidão é a palavra!”, disse.
As quebradeiras de coco praticam o extrativismo de forma sustentável e mantêm modos de vida, conhecimentos e práticas culturais transmitidos por gerações. O trabalho das quebradeiras é, em grande parte, coletivo e organizado, promovendo a subsistência e reforçando laços comunitários e familiares. Elas transformam o babaçu, uma palmeira nativa da região do Bico do Papagaio, extremo Norte do estado, em fonte de alimento, renda e identidade, utilizando técnicas que valorizam o uso integral do coco, extraindo óleo, carvão e outros subprodutos. Por sua ligação profunda com a natureza e suas práticas culturais únicas, as quebradeiras de coco se enquadram na definição de comunidades tradicionais e representam um símbolo de resistência feminina e de conexão com o meio ambiente.
A vida de quebradeira de coco, como relata dona Raimunda da Costa dos Santos, é difícil, mas é a base da sobrevivência de muitas famílias. "É uma vida sofrida, sim. Eu comecei a quebrar coco desde os sete anos e, mesmo depois de casada, continuei. Hoje tenho 63 anos, e foi uma vida inteira quebrando coco para sustentar minha família, criando oito filhos, enfrentando chuva, fome, deixando muitas vezes o básico em casa. A gente quebrava coco pra trocar por comida, muitas vezes comendo só um gongo frito com arroz branco e azeite. Quando não tinha arroz, eu ia atrás de um pouco de farinha para fazer um pirão e dar pros meus filhos. Para mim, ser quebradeira é mais do que trabalho; é uma forma de sustento, é resistência e orgulho”, afirmou.
A aproximação da primeira-dama Karynne Sotero com as quebradeiras iniciou-se em julho deste ano, quando ela esteve na comunidade para conhecer de perto o trabalho com o babaçu. Em outubro, a primeira-dama retornou à região levando a Caravana da Alegria para cerca de 400 crianças em alusão ao Dia das Crianças. Neste período, a primeira-dama tem buscado formas de apoiar o trabalho das quebradeiras de coco, incluindo a doação de uma máquina forrageira utilizada para extração do óleo, um dos subprodutos mais populares do babaçu.
O ofício de quebradeira geralmente é passado de mãe para filha, como no caso da Rosângela Barbosa de Carvalho, de 30 anos, presente na visita. “Minha mãe trabalhava na roça e levava a gente junto com ela. Não tinha pai presente, então era só ela mesmo. As outras ficavam em casa, mas eu sempre ia com minha mãe. Aprendi tudo com ela, desde o quebrar do coco até tirar o azeite. Às vezes, a gente vendia o coco pra ganhar um troquinho, ou fazia o carvão pra casa”, contou Rosângela, que nunca tinha visitado a Capital do Tocantins. “Essa visita aqui foi uma maravilha, um sonho. Primeira vez que venho a Palmas e conhecer o Palácio foi especial. Eu tinha muita vontade de conhecer e hoje estou aqui, me sentindo acolhida. Só tenho a agradecer”, declarou.
Portas Abertas
O projeto Portas Abertas é uma iniciativa que abre as portas do Palácio Araguaia para receber diferentes grupos, proporcionando-lhes a oportunidade de acessarem a sede do Poder Executivo, onde a história do Tocantins está retratada de diferentes formas.
A recepção do grupo de mulheres quebradeiras de coco, uma das mais importantes comunidades tradicionais do nosso Estado, representa um marco simbólico de valorização de suas práticas e de seu papel na preservação da cultura e do meio ambiente. O trabalho extrativista dessas mulheres é fundamental para a sustentabilidade das regiões onde atuam e para a conservação dos babaçuais, recursos de grande importância ambiental e econômica.