
Um vídeo com o desabafo de uma criança negra foi compartilhado por uma mãe nas redes sociais. Nayara Oliveira disse que o filho de 10 anos, que é autista, mudou o comportamento e começou a mostrar resistência ao ir para a escola. Durante uma conversa o menino contou que fica afastado dos colegas por causa da cor da pele.
"Não gostam de mim porque eu sou negro. [...] Me sinto com o coração partido", disse a criança.
O menino, que não terá a imagem e o nome revelados, estuda em uma escola da rede pública municipal de Araguaína, no Setor Eldorado.
Ao g1 Secretaria da Educação de Araguaína informou que é contra todo e qualquer tipo de discriminação e que após tomar conhecimento do caso realizou duas reuniões, sendo que uma delas "com todos os alunos da turma para conscientizar sobre o racismo" e que disponibilizou amparo psicológico à mãe e ao aluno. Disse ainda que casos de racismo no ambiente escolar devem ser denunciadas à escola e à Ouvidoria da Educação. Veja abaixo a nota na íntegra.
O vídeo foi gravado na última sexta-feira (23). Nayara Oliveira conta que na quinta-feira (22) a criança dormiu na casa da avó e no dia seguinte foi levá-lo para realizar uma série de exames. Ao chegar ela foi recebida pelo filho mais novo e informada que o irmão tinha dito que não queria mais ir para a escola.
Nayara questionou e ficou surpresa ao perceber que poderia se tratar de um caso de racismo dentro da unidade escolar.
Mãe: "Fala aí porque você não quer ir para a escola".
Filho: "Porque os amiguinhos não gostam de mim porque eu sou negro".
Mãe: "Eles falaram como?"
Filho: "Que não é para mim sentar do lado deles".
Mãe: "Porque você tem a cor de pele que cor? "
Filho: "Negro, cor marrom".
O garoto diz que apenas dois colegas o tratam bem. Em seguida a mãe pergunta como ele se sentia com a situação e o filho diz:
"com o coração partido".
Nayara conta que segurou o choro, consolou a criança e depois falou sobre o caso nas redes sociais. "Eu estou indignada, chateada, e pasma com essa situação que meu filho vem enfrentando. Como pode um negócio desses? Racismo é crime e eu não vou deixar isso passar batido. Alô secretaria de educação, isso não pode acontecer, principalmente nas escolas", escreveu em uma rede social.
Ela disse que o objetivo foi conscientizar as unidades de educação e os pais dos alunos. "As crianças não nascem racistas. Acho que falta um pouco de palestra e de ensino para essas crianças. E os pais dos alunos também, fazerem isso em casa", disse.
A mulher procurou a escola no mesmo dia em que teve a conversa com o filho e foi informada de que ninguém sabia que a situação se passava na unidade. Ainda na escola ela foi repreendida por ter filmado o filho. Ao g1, Nayara disse que pretende denunciar a situação e que vai tirar o filho da escola.
A mãe conta que o filho foi diagnosticado com autismo em 2021 e que ele precisa fazer terapia todos os dias, além de ter problemas de saúde, como anemia. Por causa dos acompanhamentos com profissionais, ela não consegue um trabalho e está desempregada.
"Sexta-feira ele ficou feliz pela primeira vez porque não ia para a escola. Ele não bota banca, pelo contrário. Achei que ele não queria ir para a escola por causa da anemia, porque estava fraco, mas não. Disse que não pode sentar perto de algumas pessoas, que as pessoas mandam ele sair por ser marrom", explicou Nayara.
A mulher diz que o filho não quer mais falar sobre o assunto e que viu os alunos sendo chamados na direção da escola. Ela teme que a criança tenha medo e até traumas.
"Tenho medo que ele cresça com esse trauma, mas a gente vai trabalhar isso. Tem muita gente falando que ele é lindo, que a cor não importa, que ele é bonito assim, que Deus fez ele assim", informou.
O que diz a Prefeitura de Araguaína
A Secretaria da Educação de Araguaína informa que tomou conhecimento do caso na segunda-feira, 26, quando encaminhou uma comissão à Escola Municipal Joaquim de Brito Paranaguá, no Setor Eldorado, para realizar uma reunião com a mãe do aluno, assistente social e psicopedagoga do Município para apurar as informações e dar início ao atendimento.
Informa ainda que, na terça-feira, 27, foi realizada na escola outra reunião com os demais pais e responsáveis e também com todos os alunos da turma para conscientizar sobre o racismo. O Município reafirma sua postura contra todo e qualquer tipo de discriminação e que manterá sua política de promoção à igualdade e inclusão.
A secretaria também ressalta que disponibilizou amparo psicológico à mãe e ao aluno.
Denúncias sobre racismo no ambiente escolar devem ser denunciadas à escola e à Ouvidoria da Educação: (63) 3411 5620, localizada na secretaria, à Avenida Bernardo Sayão, nº 499, Entroncamento, e funciona das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30, em dias úteis, de segunda a sexta-feira.