Passeredo vai deixar de operar rota Araguaína-Palmas a partir de 27 de outubro de 2019

Todos devem ter acompanhado a situação de declínio e paralisação das operações da Avianca Brasil, mas nem todos viram a real extensão dos danos que foram provocados. Muito mais que menos ofertas de voos e milhares de pessoas desempregadas.

Com a saída da Avianca, abriu-se um buraco no quadro de concorrência do mercado de aviação do Brasil. Quem pesquisa passagens sabe do que estou falando. Basta comparar o preço que as atuais empresas e as agências de viagem estão nos oferecendo com o que era praticado no ano passado, por exemplo.

Passagens muito mais caras e muito menos opções de horários e destinos. Eu que era consumidor firme de passagens aéreas ao menos uma vez por ano, fui “promovido” a um pesquisador de preços para os destinos que eu sonhava em conhecer.

Não podemos esquecer também do verdadeiro abandono que algumas regiões do país vivem, e nem estou falando de pequenas cidades, falo de capitais. Pra saber do que estou falando, tente comprar passagens com destino em Palmas-TO, em Goiânia-GO, Rio Branco-AC ou qualquer outra que não esteja perto da famosa ponte aérea.

Afinal, com um mercado tão restrito como o que temos hoje, não há motivo para que as grandes empresas abandonem o filé da aviação do sul e sudeste pra atender locais mais distantes.

Se formos pensar em cidades médias e pequenas, a situação é ainda pior. Onde estão as empresas de aviação regional do Brasil? Onde foi parar aquele espírito de desbravar as fronteiras, de levar serviço de qualidade onde ele é necessário?

A aviação regional no Brasil é regional até que uma oportunidade melhor apareça, as empresas não se comprometem com seus clientes. Sempre que surge alguma oportunidade aparentemente um pouco mais lucrativa, as empresas logo abandonam as rotas menores, afinal para elas essas rotas são apenas números.

Que sentido faz abandonar uma rota com um bom movimento, em que a empresa que opera é a única, ou seja, não enfrenta concorrência? Mais ainda, que sentido faz abandonar rotas onde os passageiros compram passagens por valores considerados altos e que tem boa tolerância a atrasos e outros tipos de problemas que podem ocorrer? Deixar de operar rotas onde aviões menores, de manutenção barata, com pouca exigência operacional podem ser empregados?

Faz menos sentido ainda se vemos as empresas regionais abandonarem suas rotas consagradas para entrar na briga com as grandes, tentando disputar os maiores mercados, que também são os mais caros e mais exigentes.

Recentemente comprei passagens para que minha esposa e eu pudéssemos visitar uns amigos saindo de Goiânia-GO com destino a Araguaína-TO. Paguei o valor pedido pela empresa, o que eu considerei muito alto, mesmo com quase 3 meses de antecedência. O valor é alto pois com um pouco menos, poderíamos voar para alguns destinos internacionais na América do Sul.

Estávamos ansiosos pela viagem que viria, e eu estava confiante que nada daria errado, pois a empresa regional a operar o trecho acabara de anunciar novos slots em Congonhas-SP herdados da finada Avianca Brasil, juntamente com a aquisição de uma outra empresa regional. Eles vão até mudar de nome.

Pensei que se a empresa está crescendo a ponto de entrar no grande mercado do Brasil e adquirir outras empresas, seu serviço deveria estar em crescente melhora. Engano meu, alguns poucos dias depois da compra das passagens, recebo um e-mail informando que meus voos de ida e volta foram cancelados, simplesmente, sem nenhuma outra informação a não ser “adequação de rotas”.

Ao ligar na empresa, fui informado pela atendente que a empresa não vai mais oferecer voos para a cidade de Araguaína-TO. Ou seja, mais uma empresa regional se desregionalizando, trocando destinos onde vive sozinha e que os passageiros pagam o que é pedido por “voos maiores”.

Para eles desejo sorte nessa nova empreitada, embora a história do Brasil mostre que regionais que se “desregionalizam”, não suportam a verdadeira guerra das grandes empresas nos grandes aeroportos por muito tempo.

Para nós os passageiros, resta o ônibus, a carona, o carro, ir à pé, de bicicleta. De trem não, pois parece que essa é outra questão que o Brasil não lida bem.

Todos nós que estamos longe do grande mercado, ficamos aqui olhando para o céu, torcendo para que um dia o Brasil passe a voar pra frente, que o mercado regional não seja abandonado, e que as empresas possam finalmente entender que precisamos das rotas menores, que somos muitos, queremos voar e que podemos pagar.

 

Saint`Clair Pereira de Carvalho Saint`Clair Pereira de Carvalho é engenheiro eletricista e empresário – temporariamente ex-passageiro da aviação do Brasil.