Ter uma vida de dedicação total ao filho. Essa foi a escolha do senhor Eurismar Alves da Costa, 45 anos. Ex-gerente, abandonou o emprego em Brasília para cuidar do filho Ícaro Gabriel, hoje com 22 anos, autista, diagnosticado com grau severo, quando ainda era bebê.

Há cerca de cinco anos, Eurismar voltou a morar no Tocantins e vive com o filho e a esposa numa chácara próximo a cidade de Colméia, região central do estado. Em entrevista ao AN nesta quinta-feira (19), ele contou como é cuidar do filho autista que para tudo depende do pai.

Dona Lourdes, a esposa, trabalha na cidade e só volta para casa à noite. Ela contou que admira a dedicação de Eurismar com o "Biel". "Eu acho muito lindo o jeito dele cuidar. Não é porque ele é meu esposo não, é porque realmente... Ele abandonou o salário, a vida, e veio cuidar do filho.  Deixou de ter um salário de 5 mil reais".

Eurismar hoje vive de um salário mínimo e sua vida é cuidar do Gabriel. Explicou que o filho não fala nada, às vezes fica nervoso, mas é um menino alegre. "A cabeça dele é de uma criança de 2 anos. Às vezes se falar um ?não? ele chora. E chora até conseguir."

O pai contou que Gabriel não se adaptou a escolas da Apae, e a saída foi cuidar dele em casa. Há cinco anos, quando trabalhava como gerente de farmácia em Brasília, o patrão conseguiu uma clínica para que Gabriel pudesse se desenvolver.

"Passei o dia nessa clínica para ver como que era. Aí não tive coragem de deixar meu filho lá não. Por causa do jeito que eles tratam as pessoas. Uns pelados, outros só de camiseta. Um carregando colchão. Era aquela brigaiada por causa de um colchão pra deitar no chão. Se vai comer era tudo misturado, uma brigada danada. Um mordendo o outro, sabe? Era uma coisa esquisita".

A opção de deixa-lo durante o dia em um local fora do seio familiar foi descartada. Naquele dia, depois que Eurismar saiu da clínica, foi para casa refletir.

"Cheguei em casa e abri a Bíblia e tinha uma passagem que dizia assim. ?Por isso os pássaros não plantam e nem por isso morrem de fome?.  Recordou, referindo-se a Mt. 6.25-26.

E acrescentou. "Tomei essa atitude [largar o emprego] porque pedi a Deus um jeito pra eu sobreviver e ficar com ele. Eu acredito que a gente tem que tomar uma decisão na vida".

Rotina terapêutica

Hoje, Eurismar vive uma vida simples e calma com o filho. Pela manhã tira leite de duas vacas, dá comida aos animais, dá banho em Biel. Depois os dois vão  para a cidade de Colmeia deixar o leite em um laticínio e visitar os avós de Biel. "Todo dia tem que fazer a mesma rotina. Principalmente ir na rua. Tem que ir todo dia".

Revelou que o filho adora andar de carro e se acalma quando passeia. "Andar de carro é com ele mesmo! A terapia dele é isso".

Pelo grau alto de autismo, o pai precisa acompanhar e ajudar o filho com tudo. "Eu que dou banho, arrumo ele. Ele come sozinho com a mão" (...) Ele mostra tudo que ele quer. E eu já sei o que ele quer. Não fala nada. Mas eu já sei mais ou menos o que que ele quer. Em casa, não faz nada, a não ser bagunça" disse sorrindo.

Conselho aos pais de filho autista

Para seu Eurismar, um filho autista deve ser cuidado com amor e os pais jamais podem abandonar. "Cuidar do filho. Dar amor e não abandonar ele, igual muitos fazem. Eu não tenho coragem [de abandonar]. Porque se a pessoa me ver, vê ele. Porque aonde vou, ele tá comigo".

"Eu penso assim, ele é uma criança normal. Ele não pediu pra ser assim. Merece e tem que ter amor. Mais do que os outros. Os outros têm dinheiro, gastam com tudo. Ele não sabe o que é dinheiro. Não sabe o que é o mundo".

Por fim, o ex-gerente disse que o sonho é poder comprar um carro bom pra passear com Biel. "Se eu pudesse comprar hoje, o que eu compraria era isso. Só que graças a Deus não falta nada não. Nós temos pouco, mas nós vive (sic)".