Na manhã desta sexta-feira (27), a Polícia Civil deflagrou a "Operação El Lobo" com o objetivo de desmantelar uma organização criminosa especializada no extravio de motocicletas apreendidas no pátio da Sancar em Araguaína.
A operação, coordenada pelo delegado Felipe Crivalaro, da Delegacia de Repressão a Roubos (DRR), revelou a existência de uma rede criminosa com pelo menos oito integrantes, todos com funções bem definidas dentro da estrutura do esquema.
Um dos suspeitos foi vinculado diretamente ao desvio de 55 motocicletas, que teriam sido destinadas ao estado do Pará.
De acordo com as investigações, a organização atuava principalmente desviando motos do Pátio da empresa Sancar em Araguaína, que é responsável por armazenar veículos apreendidos em situações de infrações administrativas.
O esquema
Conforme o delegado, após a apreensão do veículo em casos de infrações administrativas, os proprietários eram obrigados a cumprir uma série de requisitos, como o pagamento de débitos e taxas de estadia, para reaver seus veículos. No entanto, muitos deixavam de retirar suas motos devido aos altos custos acumulados, acreditando que elas estariam seguras no depósito.
A quadrilha se aproveitava dessa situação para desviar e vender os veículos, preferencialmente para outros estados.
Liberação com pagamento de propina
Além disso, outro esquema foi identificado durante as investigações: a liberação de veículos mediante pagamento de propina. Conforme o delegado Crivelaro, a investigação apurou que a organização, com ramificações dentro da empresa que administra o CDV (um Centro de Depósito de Veículos (CDV), realizava a devolução irregular dos veículos a seus proprietários após o pagamento de valores que variavam entre R$ 4 mil e R$ 5 mil.
Esse esquema era conduzido por meio de despachantes, que atuavam como intermediários entre os proprietários e os funcionários do depósito.
"O responsável pela empresa, ele recebia essa pessoa [dono do veículo], sempre através de um preposto, o famoso despachante. A pessoa procura um despachante, e fala ‘ olha, eu tive meu veículo apreendido, e eu desejo reavê-lo, mas para eu tirá-lo de lá, tenho q pagar valores absurdos. Tem outro jeito de fazer?’
E aí, eles oferecem um valor, um tipo de propina, em média 4 mil reais, 5 mil reais,
O delegado Crivalaro destacou que essa prática, além de prejudicar os proprietários, causava danos ao erário público. A empresa responsável pelo CDV tem um contrato administrativo que prevê o repasse de 20% de sua arrecadação mensal ao Estado.
Com o desvio de veículos e a liberação irregular mediante propina, multas, diárias e taxas de guincho deixavam de ser recolhidas, impactando diretamente o montante repassado ao governo.
Prisão dos líderes
Durante a operação, foram presos preventivamente três indivíduos apontados como os cabeças da organização. Além disso, mandados de busca e apreensão foram cumpridos, e um dos envolvidos foi preso em flagrante por comércio ilegal de armas de fogo. Uma arma foi apreendida no local.
O inquérito policial, que tem prazo de 10 dias para conclusão, agora se concentra em individualizar a conduta de cada integrante para fins de indiciamento. Segundo Crivalaro, o principal crime investigado é o de peculato, já que os funcionários da empresa que administra o CDV são considerados, para fins penais, funcionários públicos. Qualquer envolvimento no extravio de veículos configura peculato, e todos os envolvidos na cadeia de sucessão responderão por esse crime.
A operação agora avança para a análise do material colhido e para a possível ampliação das investigações, com o objetivo de identificar outros envolvidos no esquema criminoso.
Nota da Sancar
Sancar Gestão Empresarial e Logística de Veículos LTDA, empresa concessionária dos serviços de guarda e remoção de veículos retidos por medidas administrativas de trânsito no estado do Tocantins, vem a público prestar esclarecimentos sobre a operação "El Lobo", deflagrada pela Polícia Civil de Araguaína, na forma em que segue:
A empresa Sancar passou a ter conhecimento de que estava sendo vítima da subtração de veículos que estavam sob sua guarda, se deparando com situações onde veículos que deveriam estar retidos no pátio eram abordados novamente pelas autoridades de trânsito, circulando nas ruas sem que tivessem regularizado suas pendências, nem tampouco realizado o procedimento de liberação junto a empresa.
Da mesma forma, também nos deparamos com situações de veículos que não foram localizados no interior do pátio ao fazermos o levantamento e balanço interno.
Diante desses fatos a empresa Sancar solicitou o auxílio da Policia Civil, fornecendo informações essenciais para a investigação, com o intuito de que se possa desvendar o modo com que essas subtrações estariam acontecendo, levando ainda em consideração a possibilidade de envolvimento de pessoas do nosso quadro de funcionário ou prestadores de serviço.
As poucas informações que temos até o momento nos traz surpresa pela gravidade do esquema que supostamente foi implantado dentro da empresa, como também nos traz o alivio e a certeza que os desdobramentos desta operação colocarão fim as condutas criminosas que acarretam danos materiais e abala a imagem da empresa Sancar.
Importante frisar que a empresa Sancar é a principal vítima e a maior interessada no desfecho desta operação, colaborando ativamente com as autoridades competentes, contribuindo para o desenvolvimento da operação que visa combater atos ilícitos que afetam a segurança e o bem-estar da sociedade. Reafirmamos nosso compromisso com a justiça, a legalidade e a transparência, mantendo nossas operações pautadas no cumprimento da lei e na preservação da ordem pública.
Agradecemos às autoridades envolvidas pela rápida resposta e seguimos à disposição para colaborar com as investigações e garantir a segurança de todos.
Clever Honório Correia dos Santos/ Diretor Geral