Ação Policial

Polícia explica como mãe e filha usavam a fé para iludir vítimas e lucrar até R$ 36 mil para quebrar feitiço

Suspeitas diziam realizar rituais de limpeza espiritual e desapareciam com o dinheiro das vítimas; prejuízos passam dos R$ 36 mil.

À esq., Pamela Nicolete Estefano, de 37 anos, e Maria Nicolete, de 63 anos.
Foto: Divulgação SSP/TO

Duas mulheres, mãe e filha, são investigadas por aplicar golpes prometendo uma "limpeza espiritual" nas vítimas em troca de altos valores. Elas informavam que o dinheiro seria usado nos rituais e posteriormente devolvido, mas, segundo a polícia, após o recebimento, as suspeitas desapareciam. No Tocantins, quatro pessoas foram vítimas e chegaram a perder casa, além de valores acima dos R$ 10 mil.

As duas mulheres foram identificadas como Pamela Nicolete Estefano, de 37 anos, e Maria Nicolete, de 63 anos. Elas tiveram as fotos divulgadas pela Polícia Civil, após a Justiça emitir um mandado de prisão preventiva contra as duas, que ainda estão foragidas.

Limpeza espiritual

Em Araguatins, os crimes foram registrados entre março e abril deste ano. As vítimas, um casal de idosos e uma mulher de 49 anos, procuraram a delegacia e denunciaram os golpes.

Segundo o delegado responsável pela investigação do caso, Gilmar da Silva Oliveira, as mulheres abordaram o casal em uma lotérica, quando sacavam a aposentadoria, e disseram que havia um feitiço contra a vida deles. Caso esse "feitiço" não fosse quebrado, eles poderiam morrer vomitando sangue.

"O modus operandis delas é limpeza, o que elas falam que é uma limpeza espiritual da pessoa. Elas falam que a pessoa tem um problema espiritual na vida e que elas estariam dispostas a fazer essa limpeza por uma certa quantia", contou o delegado.

O casal chegou a vender uma casa e dar R$ 12 mil às mulheres, o dinheiro seria usado temporariamente no ritual. Inicialmente, os valores pedidos pelas golpistas eram pequenos, mas foram aumentando conforme as consultas espirituais iam sendo realizadas.

"Ela falou para ele [idoso] que tinha um feitiço na vida dele e que, se não se libertasse, ele iria morrer. Aí foi a hora que ela se aproximou e eles [o casal] ficaram assustados. Aí ela cobrou R$ 100 nessa primeira consulta, mas disse que ia colocar umas cartas. Quando colocou essas cartas, viu que o negócio era sério e pediram R$ 7 mil. Aí, de princípio, eles não tinham e fizeram empréstimo nos benefícios da aposentadoria para pagar. E, por último, venderam a casa e passaram R$ 12 mil para elas", explicou o delegado.

A outra vítima foi uma mulher de 49 anos. Segundo o delegado, ela foi abordada pela suspeita que disse haver um feitiço que impactava sua vida amorosa. A vítima chegou a transferir mais de R$ 36 mil após ser persuadida.

Em 2023, um homem foi vítima de golpe em Dianópolis. O caso é investigado e um inquérito foi aberto. Na época, Pamela chegou a ser ouvida na delegacia e foi liberada.

Outros casos de estelionato que teriam sido praticados pelas suspeitas também foram registrados em Campo Grande (MS), em 2020, e na cidade de Vilhena (RR), em 2024. Além da promessa da limpeza espiritual, as suspeitas prometiam que as vítimas iriam ganhar prêmios na loteria.

Abordagem e mudanças de endereço

As investigações apontaram que Maria se apresentava como Jacira do Codó. Segundo o delegado, ela e a filha encontravam as vítimas entregando folhetos pela cidade e andando pelas portas de lotéricas e bancos. Em Araguatins, elas chegaram a alugar uma casa onde recebiam as pessoas.

"A suspeita nossa é de ter mais vítimas, porque, segundo os vizinhos lá dessa casa onde elas alugaram, disseram que a casa estava todo o tempo movimentada por gente", contou o delegado.

A polícia também identificou que, para receber o dinheiro das vítimas, as suspeitas alegavam que iriam passar sete dias com o valor para fazer o ritual. Depois disso, a quantia seria devolvida. Justamente por isso, que elas evitavam passar muito tempo no mesmo lugar, segundo o delegado.

"Elas chegam na cidade, alugam uma residência, passam aproximadamente 30 dias. Depois desses 30 dias, quando elas conseguem dar o golpe nas pessoas, vão embora. Aí vão para outra parte do Brasil, né? Outro estado. E assim ficam andando."

Procuradas

A polícia divulgou as fotos das duas mulheres que estão foragidas e pede para que qualquer informação sobre a localização delas seja repassada para a delegacia de Araguatins, por meio dos contatos (63) 98118-9091 ou (63) 3474-2155. O sigilo é garantido.

"O objetivo nosso foi divulgar tanto para evitar novos crimes, como também para que vítimas no âmbito estadual, como nacional, procurem as delegacias."