O Instituto Federal do Tocantins (IFTO) – campus de Araguaína realiza em novembro o processo eleitoral para a escolha da nova direção, que será de 2022 a 2025. O professor Dr. Gerson Alves de Oliveira colocou seu nome a disposição na condição de pré-candidato e em entrevista conta sobre expectativas e desafios do campus.
Perfil
Gerson Alves de Oliveira é doutor em Ciências Sociais, professor de sociologia do IFTO – campus Araguaína desde 2010. Além da experiência em sala de aula, já exerceu outras funções como coordenador de pesquisa e extensão e atualmente é presidente do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) do campus Araguaína, cidade onde vive desde 2010.
Professor Gerson desenvolveu pesquisas nas áreas social e educacional no norte do Tocantins, focando temas como: educação para relações étnico-raciais no ensino básico; identidade quilombola e conflitos pela terra no Bico do Papagaio.
Atualmente é coordenador do projeto: “O quilombo na escola: práticas pedagógicas, identidade étnica e ancestralidade”, desenvolvido em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT), Instituto Unibanco, Itaú Social, Fundação Tide Setúbal e o Fundo das Nações Unidas Para a Infância (UNICEF). Tal projeto está sendo realizado nas escolas da rede estadual e municipal da cidade de Muricilândia.
Além disso, o prof. Gerson coordena o projeto Afrocientista que visa incentivar ações de pesquisa científica e acadêmica para alunos e alunas do ensino médio do campus Araguaína, uma ação que conta com a parceria da Associação Brasileira dos Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).
O que o impulsionou a tomar a decisão de ser pré-candidato?
Profº Gerson: —Eu acredito que é preciso participar das tomadas de decisões e dos processos de construção e fortalecimento da educação, não somente como professor, mas, sobretudo, como servidor de uma instituição pública de ensino, engajada na luta por dignidade e justiça social. Precisamos esperançar. E esperançar não significa esperar, mas mover o corpo, levantar a voz e fazer circular nossos desejos e frustrações para juntos e juntas, transformar essa energia de mudança em mudança efetiva!
Essa pré-candidatura pretende se consolidar a partir do diálogo e da escuta da comunidade acadêmica de modo a privilegiar os anseios dos(as) técnicos administrativos, dos(as) professores(as), dos(as) estudantes e técnicos(as) terceirizados(as); seus horizontes de expectativa e, sobretudo, a fé e a força de que juntos e juntas podemos fazer uma gestão democrática, transparente e acolhedora! Em tempos de grandes incertezas, nosso caminho será construído escutando todas as vozes! Jamais calando! O medo, a perseguição e o silenciamento jamais darão as respostas que precisamos construir!
Acreditamos que apenas o diálogo e o afeto constroem as pontes necessárias para avançarmos como instituição pública, cuja missão é ser referência no ensino técnico na cidade de Araguaína e região! Nossa pré-candidatura é fruto do diálogo e da necessidade da nossa gente se fazer representada nas ações do IFTO-Campus Araguaína, por meio de suas opiniões e convicções, considerando que é dever da equipe gestora apresentar alternativas e saídas mediante os desafios que devem ser enfrentados. Fazer da educação o processo que transforma, humaniza e reconhece a dignidade das pessoas, exige planejamento e união! Isso implica reconhecer os desafios, os limites e potencialidades que temos como gente - humana e humanizada, que não perde de vista o poder transformador que há no exercício de ensinar! A educação como prática libertária!
Araguaína é uma cidade importante para a região e para o estado do Tocantins e se caracteriza por sua pujança educacional e econômica em setores como serviços, insumos agropecuários e pela importância enquanto polo nas áreas da educação e da saúde. Nesse cenário, urge abrir os olhos para o lugar que o IFTO - Campus Araguaína representa.
A comunidade Araguainense precisa de um IFTO forte, grande e que seja ativo na vida da cidade. É preciso lutar, organizar e convocar os atores políticos, representantes da sociedade civil, a comunidade interna e externa do Campus para discutir um projeto de expansão, que leve em conta o potencial da cidade. No Norte do estado, temos gente experiente, qualificada e com vontade política para ampliar nossa atuação junto à nossa comunidade. No entanto, é preciso ser protagonista e ampliar as potencialidades existentes, convidando a comunidade para o diálogo e a participação. Pois, juntos somos mais fortes!
Quais são as principais dificuldades e desafios do Campus Araguaína?
Profº Gerson: —É oportuno dizer que ninguém melhor do que os(as) colegas servidores(as) lotados no Campus Araguaína para reconhecer os problemas que enfrentam diariamente e construir as soluções. Portanto, escutar as demandas e considerar o ponto de vista de cada servidor(a) junto ao seu setor de atuação é fundamental para construir as decisões da gestão, com base na realidade de quem está na linha de frente.
Mais do que divisões de pequenos grupos, nossas ações precisam construir consenso interno. Nesse sentido, é fundamental fortalecer a participação da comunidade que dá vida ao Campus, oportunizar momentos em que possam colaborar, opinar e oferecer alternativas para a definição de estratégias que propiciem o estabelecimento de um ambiente ideal ao desenvolvimento educacional, social, político e profissional.
Desenvolver nossas potencialidades enquanto pessoas exige construir laços de fraternidade, calcados na solidariedade mútua e na exercício diário de entender que nossas diferenças nos enriquecem e nos unem: somos iguais na diferença, mais do que um jargão precisa ser uma prática dentro de uma agenda política centrada nas pessoas de carne e osso, nas mães e nos pais, nos/nas estudantes, nas pessoas que cuidam do jardim, podam as plantas e zelam da beleza do Campus.
Vivemos em uma região carente e desigual, em termos econômicos e culturais. Acreditamos que o investimento no ensino, na pesquisa e na extensão é uma ação essencial e urgente no enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas que caracterizam a região, seja por meio da qualificação profissional, bem como através do fomento de ações que possam favorecer setores relacionados à indústria, o comercio, à saúde e o setor agropecuário.
Sabemos que o IFTO-Campus Araguaína tem potencial para firmar parcerias com a Prefeitura da cidade, com os empresários e com as cooperativas para ofertar formação técnica e tecnológica de ponta, integrada com o que a de melhor no ensino no contexto nacional e internacional. Para isso, contamos com nossos(as) professores(as) e técnicos com mestrado e doutorado.
Sabemos, no entanto, que é de conhecimento geral que o contexto econômico e as restrições de recurso para a área da educação é uma realidade. Não há como falar em expansão se não considerarmos esse cenário de crise. Todavia, é necessário assumirmos a capacidade de aplicar os recursos públicos com eficiência, eficácia e efetividade. E para isso, estamos preparados.
Nossa formação possibilitou expertise diante de realidades adversas. Algo que fortalece uma liderança que deseja se destacar e que precisa direcionar suas energias para resolver os problemas, e não os tornar ainda maiores. Isso significa compartilhar, dividir, dialogar e escutar os seus pares. Administrar a coisa pública exige o compartilhamento de ideias e responsabilidades.
O IFTO - Campus Araguaína é uma autarquia e como tal precisa ser gerido a partir do diálogo, pois partimos do princípio de que uma liderança não administra só para si ou só para o seu círculo íntimo. Pelo contrário, sua atuação é para construir decisões coletivas. Urge fortalecer um ambiente de colaboração e união para juntar o IFTO – Araguaína, jamais dividi-lo! Isto significa construir uma sinergia, uma atitude de valorização efetiva das pessoas envolvidas.
Qual é o seu principal plano/projeto para o IFTO -Campus Araguaína?
Profº Gerson: —Possibilitar que o Campus Araguaína ocupe o lugar que lhe cabe enquanto instituição de ensino médio técnico e tecnológico. Fazer do ensino, no campus, um instrumento de transformação da realidade regional, considerando a força e a potência que a cidade tem; possibilitar a expansão física do Campus estreitando os laços com os diversos setores da sociedade civil, bem como lideranças e representantes políticos capazes de mobilizar esse empreendimento; fazer uma leitura das necessidades locais no campo da produção, da tecnologia e da mão-de-obra a ser oferecida e, assim, oportunizar a abertura de cursos capazes de suprir a demanda que a cidade exige.
São metas cujo fim implica enfrentar o desafio da expansão e estruturação do Campus. Não podemos nos acomodar frente a realidade que nos atinge atualmente. Não somos uma mera escola. Somos uma instituição de ensino técnico e tecnológico, que atua no campo do ensino, da pesquisa e da extensão. É nesse tripé que o IFTO se sustenta e nele convida a comunidade araguainense para crescer juntos.
Nosso princípio base se pauta na transformação da realidade da comunidade onde vivemos através da educação! Nosso convite é audacioso e genuíno! Para realizá-lo, contamos com a energia, a fé e o apoio dos servidores, dos(as) jovens, dos homens e das mulheres de carne e osso que acreditam na educação como instrumento de liberdade e justiça social!
Por uma instituição pujante, grande e forte. Esse é o projeto!! O IFTO – Campus Araguaína é o nosso lar! Lutemos por ele!
Como fazer com que o aluno seja um ator nesse processo de fortalecimento da instituição/campus Araguaína?
Profº Gerson: —Acreditamos que em um ambiente educacional o processo de ensino-aprendizagem se caracteriza por uma via de mão dupla, que envolve o educador e o educando (a instituição e seu público), cujo sentido é fazer com que o estudante possa dialogar e, ao mesmo tempo, se colocar no mundo, tendo consciência de sua responsabilidade e de seu papel na sociedade. Isso significa interpelar o(a) estudante para colaborar como agente transformador de sua realidade educacional.
Sabemos que a educação é um processo amplo e que não se restringe a um momento específico da vida do(a) estudante, por isso, é preciso ressaltar o papel da Artes e do esporte como elementos formativos, fundamentais no desenvolvimento educacional dos(as) estudantes.
O espaço escolar precisa ir além de um ambiente de cobranças e exigências, antes precisa ser um espaço de integração e socialização, capaz de agregar jovens que em muitas situações sentem-se desalojados por uma realidade social e econômica excludente. Não obstante, o espaço escolar precisa considerar as demandas dos(as) estudantes, para que ele/ela se sinta protagonista do processo, e não seja interpretado como uma mera peça a ser mobilizada conforme as regras do jogo.
Isso é um empreendimento necessário e, para tanto, implica em criar incentivos à participação da comunidade estudantil como instrumento de fortalecimento da própria instituição no âmbito do processo de ensino. Diante disso, entendemos ser preciso oportunizar momentos em que o estudante possa atuar, contribuir e oferecer alternativas para a definição de estratégias que propiciem o estabelecimento de um ambiente ideal ao seu desenvolvimento educacional, social, político e profissional.
Como sociólogo entendo que a instituição se caracteriza como um laboratório para as atividades de ensino, para a formação cidadã e para a vida. Um desafio que implica em um chamamento e um convite, tanto aos estudantes quanto à comunidade (pais e responsáveis) a atuarem como agentes, capazes de modificar uma realidade adversa. Isso vale para o estudante egresso. Sua trajetória, sua história de vida é algo que fortalece a instituição e serve como exemplo para alunos e alunas que ainda estão nos bancos escolares do campus Araguaína.
A Sociologia nos ensina que a participação não é só aquela que implica nas tomadas de decisões, mas, sobretudo, no fomento de ações que permitam fazer do ensino, da pesquisa e da extensão instrumentos de inserção no mundo do trabalho, da ciência e da cidadania.
Conhecer sua realidade, a lógica e o funcionamento do mercado, dos setores produtivos, a oferta de emprego e ser capaz de se inserir nesse mercado é um fator que engrandece e fortalece o corpo discente e o Campus Araguaína como um todo.