
Um projeto sensível e inédito documentou as três cerimônias de batismo indígenas mais importantes do Tocantins, das etnias Karajá, Javaé e Krahô, nunca antes vistas pelo público tocantinense. A exposição fotográfica do fotojornalista tocantinense Manoel Júnior será apresentada no dia 09 de setembro, às 19h, no campus Graciosa da Unitins.
As cerimônias Hetohoky e Hèrèrawo, realizadas pelos povos Iny e Ketwayê, pertencentes ao tronco Macro-Jê, representam uma riqueza cultural ancestral. Festas que podem durar vários dias e envolvem toda a comunidade, sendo o batismo um dos eventos mais importantes para esses povos.
Hetohoky: Rito de Passagem para a Vida Adulta na Cultura Iny
Entre fevereiro e março, a Ilha do Bananal se transforma no palco do Hetohoky, cerimônia de passagem para a vida adulta dos meninos Iny.
Na “Casa Grande”, estrutura de palha construída para o evento, meninos de 10 a 12 anos são pintados com jenipapo, têm os cabelos tingidos e se tornam “jyre” ou ariranhas. Durante sete dias de reclusão, sob o olhar dos aruanãs — espíritos da floresta vestidos com trajes de palha e penas — os jovens aprendem valores, tradições e lições de disciplina e respeito.
O ponto alto da festa inclui rituais simbólicos da transformação dos meninos em guerreiros adultos: banho no rio, remoção de penas, cuidados com os cabelos e pintura corporal. Após vivenciarem os segredos dos homens e aprenderem técnicas de caça, os jovens são reconhecidos como homens, mas a transição se completa somente após dois anos de rituais complementares.
O Hetohoky é, portanto, um mergulho na cultura Iny, celebrando a ancestralidade e a passagem da infância para a vida adulta.
Ketwayê: O Ritual de Hibernação que Transforma Meninos Krahô em Guerreiros
Na aldeia Cachoeira, o povo Krahô realiza o Ketwayê, um ritual de passagem que marca a iniciação dos meninos à vida adulta.
Conhecida como a “cerimônia da hibernação”, o Ketwayê envolve cânticos, danças, corrida da tora, pinturas corporais, empenação, banhos e comidas. A decisão de participação é do cacique, levando em conta a idade do menino e as condições familiares para contribuir com a cerimônia.
A organização demonstra a força da comunidade Krahô, com participação de todos os membros, divididos em dois partidos — Nascente e Poente — e seus subgrupos representados por animais. Duas mulheres assumem o papel de rainhas, recepcionando visitantes e distribuindo oferendas e presentes.
Durante a cerimônia, cantores de outras aldeias e o coro das mulheres Krahô ecoam pelos cantos da aldeia. O paparuto, prato tradicional feito com carnes, peixes, mandioca e milho, é servido durante a festa.
Cada momento tem significado simbólico: os banhos representam crescimento e força, as pinturas simbolizam água e chuva, e a corrida da tora testa resistência e vigor. A surra do guerreiro, em que homens recebem golpes de palha, fortalece o espírito e o corpo.
Nos últimos dias, os meninos são pintados, adornados com plumas e recebem novo nome indígena de seus padrinhos, marcando oficialmente a entrada na vida adulta. O Ketwayê celebra a cultura Krahô, a força comunitária e a transformação dos meninos em guerreiros.
Hèrèrawo: Celebração da Masculinidade Javaé
As aldeias Javaé na Ilha do Bananal realizam o Hèrèrawo, ritual que marca a passagem dos meninos para a vida adulta.
Na “casa pequena”, guerreiros Javaé adornados com vestimentas de palha de palmeira, adereços coloridos e penas entoam cânticos que ecoam pela mata. Na “casa grande”, meninos da aldeia Txuiri são guiados pelos aruanãs, guardiões espirituais da floresta, em imersão nas tradições, valores e costumes.
O ritual, que pode se estender por dias, inclui brincadeiras, competições e aprendizado sobre disciplina, respeito e cultura. Ao final, os meninos passam por banho no rio, retirada de penas, corte e cuidado com os cabelos, e pintura corporal, simbolizando sua transformação em guerreiros adultos.
O Hèrèrawo envolve toda a comunidade, que convida familiares de aldeias vizinhas para compartilhar a celebração. Os pais dos futuros guerreiros organizam a cerimônia, garantindo estadia e alimentação dos convidados.
O Hèrèrawo reforça a cultura Javaé, a força comunitária e a transição dos meninos para a vida adulta, iniciando uma nova etapa em suas vidas.
Metodologia Fotoetnográfica: Três Anos de Imersão Cultural
O projeto da exposição fotográfica “A PASSAGEM - Ritos de Batismo Indígenas do Tocantins” foi realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc/PAAR 2024, via Ministério da Cultura e Secretaria da Cultura do Tocantins.
A exposição contém 15 imagens que retratam cada cerimônia de batismo, além de um fotolivro com imagens complementares. O projeto percorrerá várias cidades do Tocantins, apresentando uma linguagem autoral baseada no estudo fotoetnográfico.
Segundo Manoel, a fotoetnografia “combina fotografia e etnografia para documentar e estudar culturas, grupos sociais e práticas culturais. Vai além de simplesmente ‘tirar fotos’, exigindo tempo, confiança e compreensão profunda das comunidades”.
Para desenvolver o trabalho, o fotógrafo acompanhou as cerimônias por três anos, participando por vezes dos rituais para entender todo o processo.
Valorização Cultural e Diálogo Intercultural
O projeto busca valorizar as tradições indígenas, documentando-as de maneira inédita e preservando práticas ancestrais. Os ritos de batismo são momentos de reconexão com as origens, nos quais os participantes recebem novos nomes que refletem sua personalidade e função na comunidade.
Segundo o fotógrafo, a documentação imagética pretende sensibilizar a sociedade, combater preconceitos e gerar maior compreensão da diversidade cultural brasileira. A iniciativa fortalece o reconhecimento dos povos indígenas do Tocantins e promove o diálogo intercultural e a preservação do patrimônio imaterial.
Cronograma de Lançamento
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Lançamento oficial: 09 de setembro de 2025
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Local: Campus Graciosa da Unitins, Palmas
Mais informações:
Manoel Júnior – Produtor Cultural e Fotógrafo
Contato: (63) 9 9997-4474
E-mail: masant8@yahoo.com.br
Sobre o Fotógrafo Manoel Júnior
Formado em Jornalismo e Fotografia pela Universidade do Tocantins, Manoel Júnior iniciou na fotografia em 1999, atuando no laboratório de Fotografia em preto e branco da Unitins.
Sua trajetória inclui:
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Participação em exposições coletivas e festivais universitários;
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Prêmios em Fotojornalismo e reconhecimentos nacionais;
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Especialização em fotografia pelo SENAC São Paulo;
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Mais de 64 exposições fotográficas realizadas e 22 projetos culturais contemplados;
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Publicações em veículos nacionais e reportagens especiais.
Atua em fotojornalismo, fotografia autoral e publicidade, com foco na valorização cultural e registro histórico de tradições brasileiras.