Fernando Almeida

Em passagem por Araguaína no domingo, 16, o escritor, pesquisador e  teólogo Alan Brizotti concedeu entrevista ao Araguaína Notícias. Alan mora em Goiânia (GO), já escreveu sete livros de teologia e dedica seu tempo à pesquisa e a formação de líderes.  Ele falou dos desafios da Igreja moderna, da complicada relação Igreja X Estado e de suas visitas à Terra Santa para aprofundar mais o conhecimento sobre Jesus.  Para Brizotti, a Igreja brasileira precisa crescer em qualidade e influenciar a sociedade através da vivência bíblica. Mas foi incisivo ao defender o respeito ao Estado Laico, “não é gritando nos palanques da vida que a gente vai demonstrar o que Cristo fez sem gritar”.

Confira a  entrevista na íntegra

AN: Qual o desafio da Igreja brasileira na atualidade?

Alan Brizotti: O principal desafio deveria ser, precisa ser, a relevância da Igreja.  Uma igreja relevante. Isso se faz a partir de um púlpito forte, pregações bíblicas que sejam cristocêntrica, que sejam expositivas, os textos expositivos, são, pelo menos no meu ponto de vista, os maiores desafios da Igreja hoje.  Porque ela (igreja) já conseguiu uma quantidade. Agora precisa aliar isso à qualidade, uma vez que ela tiver quantidade aliada à qualidade, ela vai ter uma relevância. Vai poder ser vista de fato pela sociedade não apenas pelo que ela consta como número, mas pela sua ação efetiva na sociedade.

AN: Em seu livro “Identidade Cristã” o senhor faz referência a ‘verdadeira indentidade cristã", o que isso significa?

Alan Brizotti: O livro (Identidade Cristã)  foi escrito na tentativa de mostrar Cristo, tanto que ele é todo cristocêntrico. A ideia é de que a verdadeira identidade, se é cristã, ela mostra Cristo. Então é um jeito cristão de ser. Um dos pilares da espiritualidade cristã na História da Igreja é a imitação de Deus. Essa imitação de Deus vem a partir da imitação de Cristo. O principal foco do livro ( Identidade Cristã-Resgatando a Verdadeira Identidade Cristã)  é tirar essas caricaturas que a gente colocava como identidade. Como, por exemplo, entender que Cristo está acima da ideologia que se prega, o evangelho acima da teologia. Ou seja, o reino de Deus acima da instituição (Igreja). Precisamos da instituição, uma vez que somos sociedade. Mas precisamos entender que o reino de Deus é muito mais que dogmas e placas.

AN: Em seus livros e palestras, o senhor faz uso de uma linguagem simples para explicar conteúdo teologicamente profundo e rebuscado. O que o motivou a esse estilo de abordagem?

Alan Brizotti:Acredito que o ponto focal da comunicação é fazer-se entender. Por incrível que pareça, quando a gente vai estudar a intelectualidade brasileira, ela tem muita herança francesa. Na herança francesa o intelectual francês é aquele que diz as mais extraordinárias frases, com palavreado fantástico, para dar a sensação de conteúdo. Eu já prefiro uma linhagem de intelectualidade mais americana, que é pragmática, prática. Precisa se fazer entender, para depois de entender, aí discutir. Eu acredito muito na beleza da simplicidade. Quanto mais simples, mais profundo você é.  É que a gente acredita que existe necessariamente um divórcio entre simplicidade e profundidade. Eu acredito o contrário. Quanto mais simples você é, mais profundo se torna. Isso é quase visceral. Profundidade e simplicidade unidas numa mesma causa. Cristo é a pessoa perfeita disso: profunda e simples.

AN: Em seus livros, sempre ao citar um episódio bíblico, há sempre uma referência ao contexto sócio-histórico e cultural. O senhor chegou a fazer visitas a Terra Santa?

Alan Brizotti: Estive agora em janeiro de 2013 em Israel. E como trabalho como pesquisador, a ideia minha principal é trabalhar  com essa profundidade (histórica, geográfica e cultural). Estou fazendo agora um curso na Universidade hebraica de Jerusalém. Trabalho muito com isso. É preciso ver o lugar. Fui para Israel sem nenhuma conotação mística ou de peregrino, nesse sentido do termo. Eu fui mesmo como investigador teológico. Porque estar no ambiente te faz compreender o outro lugar, o contexto, os cheiros da terra, sentir o ambiente. Claro que a gente sabe da distância histórica daquele Israel do tempo de Cristo para o Israel de hoje, mas estar lá, ter uma percepção de fronteiras, de distância quando o texto bíblico diz ‘passou para o outro lado do lago,’ por exemplo. Você tem a noção, mais ou menos. Então foi um olhar mais técnico que me fez isso. Eu tenho uma particularidade. Eu gosto mesmo de falar daquilo, que no mínimo, tenho um conhecimento.

AN: Recentemente, líderes religiosos marcharam até Brasília pra fazer protesto e reivindicar pautas políticas. O que o senhor pensa da relação Igreja e Estado?

Alan Brizotti: Uma relação sempre complicada, ao logo da História sempre foi complicado, difícil. Precisa haver, claro, a presença da Igreja, mas ela não pode ser uma presença invasiva. Porque vivemos em um Estado Laico. Esse Estado precisa ser respeitado, enquanto Laico.  E outra, que o grande desafio da Igreja é mexer, influenciar a sociedade a partir de seu pressuposto bíblico, numa vivência bíblica.  Não é gritando nos palanques da vida que a gente vai demonstrar o que Cristo fez sem gritar, apenas vivendo. É vivência cristã que é o seu mais forte impacto no cidadão.