Dunas do Jalapão recebem turistas no fim de semana do carnaval

A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (Coeqto) e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) emitiram nota pública para repudiar a reabertura do turismo na região do Jalapão em meio à pandemia da covid-19.  

Conforme a nota, a atividade de turismo coloca em risco a saúde da população local, pois boa parte dos atrativos estão dentro de quilombos.

A nota cita que a maioria dos turistas são de outros estados e países. E que a região Norte lidera o número de contaminações entre quilombolas.

Destaca ainda que a população quilombola do Jalapão não tem acesso imediato a hospitais. E fazer transferência de paciente em ambulância por mais de 200 km em estrada de terra quase intransitável é “morte certa”.

Por fim, a Coeqto e a Conaq pedem auxílio ao Ministério Público Federal e a Defensoria Pública para ajudar na luta pela preservação da vida da população quilombola tocantinense.

Confira a íntegra da nota

"Nota Pública
A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (Coeqto) e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) vêm a público repudiar a iniciativa de reabertura do turismo para o Jalapão.

Considerando que a Região do Jalapão também é território quilombola e as atividades turísticas colocam em risco a saúde da população local. Considerando, que urgência em abrir o comércio do turismo, em uma região onde a maioria os atrativos estão dentro de quilombos, é um atentado à vida dessas pessoas, haja vista a letalidade da COVID-19.

Considerando que, desde o início da pandemia no Brasil, o Estado brasileiro nunca se manifestou quanto a implementação de políticas públicas efetivas para o combate à proliferação do coronavírus em territórios quilombolas. Pelo contrário, tem subnotificado os casos de contaminações e óbitos entre a população quilombola.

Considerando que o monitoramento autônomo da Conaq junto às lideranças quilombolas do Brasil tem assegurado a visibilidade de casos de COVID-19 cujo alastramento tem sido assustador nos territórios quilombolas. Pois, no período de 89 dias, são 2.590 pessoas infectadas e 127 mortes.

Considerando que a Região Norte lidera o número de contaminações entre quilombolas. Considerando que, nesta semana em que o Tocantins registrou o primeiro óbito, também os noticiários anunciam iniciativas genocidas de empresários e gestores com a pretensão de reabertura do parque do Jalapão no início de agosto.

Considerando que o fluxo de turistas na região é, em sua maioria, de outros Estados e países.

Considerando que a Organização Pan Americana de Saúde, noticiou no dia 07/07, que a Região das Américas tem notificado, em média, 100 mil casos de COVID-19 por dia e em 06/07 chegou a cifra de 5,9 milhões de pessoas infectadas e quase 167 mil mortes.

Cabe-nos, portanto, questionar: o que torna o Tocantins imune à COVID-19 em

meio a esse cenário e, tendo em vistas que a maioria das cidades-pólo não tem infraestrutura de média e alta complexidade em saúde?

Contudo, vale ressaltar que a população quilombola do Jalapão não tem acesso imediato a estrutura hospitalar. Pois, em agosto, período de pico da estiagem e as estradas de acesso ao Jalapão quase intransitáveis, fazer a transferência de uma pessoa acometida pelo coronavírus em uma ambulância por mais de 200 km de estrada de terra é morte certa, uma vez que a gravidade da doença se manifesta no sistema respiratório.

Diante do exposto, solicitamos ao Ministério Público Federal e a Defensoria Pública que nos auxiliem na luta pela preservação da vida da população quilombola tocantinense, sobretudo, do Jalapão que além da ameaça da COVID-19, precisam resistir às iniciativas de gestores e empresários que tentam subsidiar seus fundos monetários às custas de vidas negras, tal qual o fizeram legalmente por 300 de escravidão.

Solicitamos ainda, ao Ministério Público Federal e a Defensoria Pública, que seja exigido do Estado do Tocantins a confirmação de que seus representantes se deslocam da capital para os quilombos após terem realizado testes para COVID-19 e, portanto, tenha sido descartada a contaminação pelo coronavírus, sobretudo quando os referidos representantes não serem do quadro de servidores da secretaria de Saúde, a fim de resguardar a saúde das pessoas que se encontram em isolamento em seus territórios.

Por fim, reafirmamos que a Coeqto e Conaq prezam pelas vidas quilombolas e repudiam a reabertura das atividades turísticas no Jalapão em meio à Pandemia da COVID-19.
Vidas Quilombolas Importam!

Palmas (TO), 08 de julho de 2020.
Associação Comunitária Quilombola Dos Extrativistas, Artesãos e Pequenos Produtores do Povoado do Prata
Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão – ASCOLOMBOLAS RIOS
Associação da Comunidade Carrapato, Formiga, Mata e Ambrósio
Associação da Comunidade Quilombola Boa Esperança
Associação da Comunidade De Barra da Aroeira
Associação de Artesãos e Extrativistas do Povoado do Mumbuca
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq
Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins – Coeqto