Em discurso para empresários e executivos, o presidente Michel Temer criticou o movimento de ocupações das escolas públicas contra a reforma do ensino médio e a proposta de emenda à Constituição (PEC 241) na Câmara; e 55, no Senado) que limita os gastos públicos por até 20 anos. Durante seminário promovido pelo jornal Valor Econômico em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, Temer chamou de "ladainhas" as críticas feitas ao seu governo pela ameaça de corte de recursos nas áreas da saúde e da educação.
Segundo ele, os brasileiros precisam aprender a respeitar as instituições ao protestar. "Nós precisamos aprender no país a respeitar as instituições, e o que menos se faz hoje é respeitar as instituições. Isso cria problemas e o direito existe exatamente para regular as relações sociais. Hoje, ao invés do argumento intelectual e verbal, usa-se o argumento físico. Vai e ocupa não sei o quê e bota pneu velho em estrada para impedir trânsito", declarou.
Temer também ironizou a falta de conhecimento das pessoas que, na avaliação dele, protestam e discutem o assunto sem saber do que se trata. "Você sabe o que é uma PEC [Proposta de Emenda Constitucional]? É uma Proposta de Ensino Comercial. Estou dando um exemplo geral de que as pessoas debatem sem discutir ou ler o texto", disse.
O presidente alegou que enviou ao Congresso a medida provisória da reforma do ensino médio para acelerar a discussão, que se arrastava há anos na Câmara. "O que a medida provisória do governo federal faz é agilizar o debate relativo ao ensino médio no país", defendeu. "As pessoas debatem sem ler o texto. Mas se quiserem votar um projeto de lei, não há problema nisso. Se for necessário aprovar o projeto de lei, nós votaremos", acrescentou.
Saúde e educação"Dizem que isso (a PEC teto dos gastos públicos) vai prejudicar setores importantíssimos do país, como saúde e educação. Foi aí que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, organizou o orçamento para 2017, aplicando (o que está previsto na) PEC. E, ao fazê-lo, vimos que aumentamos as verbas para saúde e educação. Divulga-se muita ladainha, por mais que se fale", declarou.
Temer também destacou a relevância de alguns programas sociais do governo para o aquecimento de setores da economia, como o da construção civil. Mas, com a retomada do crescimento do país, alguns deles poderão se tornar desnecessários, segundo ele.
"Os programas são úteis par o Brasil. O Bolsa Família, por exemplo. Para gente paupérrima, verificou-se que o Bolsa Família é importante. Não é para ser eterno, porque o país deverá crescer com o tempo, de tal maneira que não seja necessário o Bolsa Família", disse.
Esta não foi a primeira vez que Temer recorreu à ironia para criticar protestos contra o seu governo. Em outubro, ele usou do expediente para minimizar uma manifestação realizada em frente ao Palácio do Planalto, contra a flexibilização de direitos trabalhistas, enquanto discursava para empresários e comerciantes. "Verifico que lá fora muitos não puderam entrar e nos apoiam com suas vuvuzelas. Convidem aqueles que estão lá fora para que, se não têm emprego, tenham emprego", disse.