
Em todo o canto do Tocantins, é possível encontrar pequis. O fruto do cerrado de cor amarela tem lugar garantido no prato dos moradores. A paixão é tanta que o servidor público Jasmond Rodrigues resolveu fazer uma homenagem e aproveitou para ousar no sobrenome do filho, que hoje tem 9 anos: 'Pequi'.
"Eu falei, eu vou colocar o nome dele de Enzo Pequi e a mulher pulou lá longe, mas eu disse: 'Não era eu que iria escolher? Pode deixar que eu vou escolher'. Tem pequi demais aqui no Tocantins, toda esquina que você vai, você anda peitando em pequi. Carro meu já amassou com pequi", contou.
O pequi faz parte da história do Tocantins, tanto é que o fruto também empresta o nome a uma cidade do estado, Pequizeiro, que ostenta até escultura do amarelinho no centro da cidade.
O fruto é tão importante que está sendo disputado. Isso porque o deputado federal mineiro Marcelo Freitas (PSL) apresentou projeto de lei para tornar a cidade de Montes Claros (MG) a "capital nacional do pequi".
Mas para os tocantineses, 'o pequi é nosso'. "Quando está na época da safra do pequi, eu colho pequi e preparo ele num saquinho e coloco ele na geladeira. Aí a gente tem pequi o ano inteiro", disse o professor Aldenir Ribeiro.
Aos 66 anos, o professor nem se lembra quando foi a primeira vez que experimentou pequi. Mas, o que ele não tem dúvidas, é da paixão que sente por esse fruto da terra.
Ao todo, existem 18 espécies diferentes de pequi, doze delas estão no Brasil e só duas no estado. Ao contrário do que muita gente pensa e embora exista uma discussão para saber se o pequi é tocantinense, mineiro ou goiano, dá para encontrar esse tipo de planta em toda a América Latina, inclusive na América Central, o que não dá para negar é a alta concentração de pequizeiros no estado. São entre 12 e 45 plantas por hectare.
Em terras tocantinenses, o mês de setembro é conhecido não só pela seca, mas também como a época do pequi. Mas, para muita gente, o pequi é para o ano todo.
Na casa da publicitária Musa de Castro, por exemplo, tem pequi o ano todo. "O tocantinense raiz faz o que para conseguir pequi o ano todo? Congela, olhe aqui gente, isso aqui é ouro na mão do tocantinense. A gente deixa aqui escondidinho. E esse é só o freezer da chácara. O lá de casa está lotado de pequi porque eu sou dessas".
A planta se dá tão bem no cerrado que foi ocupando todos os cantos. O pesquisador da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) e mestre em botânica Eduardo Ribeiro explica que, apesar de não ser ameaçado de extinção, o pequizeiro também precisa de cuidados.
"O bioma cerrado por ser uma área aonde a agricultura está em franca expansão, pode colocar essa espécie em risco. Precisamos nos preocupar com desenvolvimento de técnica, propagação dessa espécie e plantio comercial para aliviar essa pressão do extrativismo. Porque hoje a colheita do pequi é feita basicamente de forma extrativista".
Essa árvore forte e cheia de curvas conquistou o coração do tocantinense, não só pelos frutos deliciosos e pela sombra fresca, mas pela relação construída ao longo dos anos.
Se já virou até nome de gente, por que não se tornar patrimônio cultural, gastronômico e ambiental do estado? Inclusive, tem projeto de lei na Assembleia Legislativa, da deputada estadual Luana Ribeiro (PSDB), propondo essa homenagem.
"Aqui nós temos pequi presente em todos os lugares, nas praças públicas, na zona urbana, na zona rural, por todo o Tocantins. No menor município, que é Oliveira de Fátima, você pode ir lá, fiscalizar que você vai encontrar pequi para todo o lado, até a maior cidade, que é a capital Palmas", disse a deputada.
Uma semente de pequi leva de 30 dias a um ano para germinar e décadas para crescer e virar um grande pequizeiro. Tanto esforço em meio à seca, queimadas, ventania, poucos meses de chuva intensa. É para se ter orgulho dessa planta que representa tão bem a garra e força do povo tocantinense.
"Não tenho dúvidas, o pequi é legitimamente, verdadeiramente tocantinense. O pequi é nosso", destacou Luana Ribeiro.
"Quando eu chego no pé de pequi para colher, o meu respeito por essa árvore é muito grande, na realidade ela já é um patrimônio do Tocantins", concluiu o professor Aldenir.