Notícias

"Vale-tudo" é a aposta para a prática de atividades físicas na pandemia de covid-19

Os amantes de práticas desportivas têm enfrentado uma série de obstáculos para a realização das rotinas de atividades físicas. O jeito é adaptar os exercícios à realidade possível.

Mudanças de hábitos durante a pandemia exigem de Vinícius improvisação para exercícios com as barras.
Foto: Vinícius Rodrigues / Arquivo Pessoal

A pandemia provocada pelo Covid-19 exige uma série de protocolos sociais para evitar a contaminação em massa das pessoas. Mesmo com diversas medidas de distanciamento social, tais como isolamento, uso de álcool em gel nos locais públicos de convivência, fechamento do comércio (lockdown), além de decretos determinando o toque de recolher em alguns municípios e do fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais, entre outros protocolos; os casos de infecção por covid-19 não cessam e ainda alarmam o país com altos índices de mortes.

Por causa desse contexto, os amantes de práticas desportivas têm enfrentado uma série de obstáculos para a realização das rotinas de atividades físicas. O jeito é adaptar os exercícios à realidade possível, que inclui desde a construção de espaços caseiros para fazer flexões, práticas de atividades ao ar livre ou até mesmo treinos em academias de musculação.  

 O Brasil vive, atualmente, uma segunda onda de contaminação. Os dados divulgados pela mídia nacional trazem os números trágicos dessa doença, sendo mais de 275 mil mortos, com média de 2.860 óbitos por dia. Isso significa que uma pessoa perde a vida a cada trinta segundos. Um índice trágico, cujo pico de mortes diárias já ultrapassou mais de 4 mil pessoas: um genocídio.   

Se por um lado há o direcionamento das autoridades, incluindo orientações médicas para que as pessoas permaneçam dentro de casa; por outro, o isolamento também pode provocar complicações para a saúde em razão do sedentarismo. A prática de exercícios físicos pode evitar que a saúde entre em colapso, mas desperta pouca adesão devido ao confinamento. Quando isoladas, as pessoas tendem a ficar deprimidas e as atividades físicas estimulam o corpo a reagir.  

A pandemia de covid-19 tem provocado um “vale-tudo” na hora de se exercitar. Há pessoas que preferem não se arriscar e declaram realizar exercícios dentro de casa mesmo ou, no máximo, no quintal da residência.

Por outro lado, os que se arriscam a sair de casa, valem-se de espaços públicos como ruas, praças, parques e orlas, para a prática de corridas, caminhadas, ciclismo e brincadeiras com os filhos; além dos adeptos às academias de ginástica e musculação, que optam por ambientes fechados e climatizados, mas que oferecem equipamentos apropriados para a realização de atividades físicas. No conforto de casa, nos locais públicos ou em centros comerciais pagos, a moda é se exercitar como pode.  

Atividades físicas no isolamento domiciliar  

Vinícius Rodrigues diz que sempre praticou atividades físicas com frequência, mas elas não eram realizadas dentro de casa. “Antes da pandemia minhas atividades físicas eram diferentes. Eu fazia menos musculação e jogava mais futebol. As atividades em casa vieram com a pandemia por causa da mudança de hábitos”. Ele destaca que, em casa, os exercícios são realizados com mais cuidado e prevenção, com mais tranquilidade, apesar de que as condições não são sejam as melhores nem as mais adequadas, lamenta.  

O jovem lembra que começou a se exercitar em casa, fazendo flexões e abdominais. Disse que realizava poucas sequências e que não tinha os equipamentos específicos. Então, decidiu mudar o exercício e passou a usar pesos. “Comecei a fazer agachamentos com pesos, usava o adaptador do computador como peso. Depois fui fazer um exercício similar à barra, improvisado com cordas penduradas e amarradas no teto e também com um suporte de madeira ajustado à parede do muro”

Mudanças de hábitos durante a pandemia exigem de Vinícius improvisação para exercícios com as barras. Foto: Vinícius Rodrigues / Arquivo pessoal
 

Exercícios em espaços públicos

Pedalar para sair do isolamento. Foto: Borges Júnior

Na cidade de Araguaína, dois espaços públicos disputavam a preferência dos amantes de atividades físicas em ambientes abertos. Um deles é o famoso Parque Cimba, localizado no centro da cidade e o outro a Via Lago, uma orla recentemente planejada em uma área de empreendimentos imobiliários, cujo espaço atraiu uma série de investimentos no setor da construção civil, sendo aos poucos povoada.

Atualmente a área ganhou infraestrutura asfáltica e planejamento urbano, tornando-se um ponto turístico na cidade, propício às práticas desportivas como caminhada, corrida, ciclismo, pescaria, esqueitismo, patins, moto aquática, pedalinho no lago e outras atividades para quem quer contemplar o pôr-do-sol. 

Recentemente, para evitar aglomerações, o Parque Cimba foi fechado e, por ter grades ao redor, as pessoas não conseguem entrar. Já a Via Lago, por ser um espaço aberto, tornou-se um atrativo para os esportistas.

José Manoel caminha ao ar livre e evita academias lotadas. Foto: Borges Júnior

O professor José Manoel Sanches diz que prefere exercitar-se em espaços abertos como medida de proteção: “As academias estão lotadas. Eu iniciei na academia, mas depois eu vi que, por uma questão de proteção, preferi esse espaço mais livre, onde não tem aglomeração, um lugar que se tem mais liberdade pra correr, pra caminhar”.

Já a estudante Elani Cristina realiza atividades físicas tanto na academia quanto em ambientes abertos. “Normalmente, vou à academia pela manhã e à tarde eu tenho feito atividades físicas ao ar livre, tanto no Parque Cimba como na Via Lago”, afirma Elani. Ambos concordam que o ambiente aberto tem menos chance de contaminação e usavam máscaras como medida de proteção.

Elani Cristina frequentava a Via Lago para realizar atividade de corrida ao fim da tarde. Foto: Borges Júnior

Na orla, era possível identificar um número bastante considerável de pessoas que não tinham nenhuma proteção no rosto. Durante a produção da reportagem, foi constatada, na orla, a presença de fiscais do Departamento Municipal de Posturas (Demupe). Os funcionários paravam pessoas que não usavam máscaras, faziam algumas orientações, solicitavam que colocassem a proteção no rosto e, em casos extremos, aplicavam multas aos resistentes.

Rafael Miranda Freire, fiscal do Demupe, destacou o importante trabalho que o órgão realiza. Segundo Rafael, todo dia eles recebem uma rota diferente e, como nos finais de semana, o trânsito de pessoas aumenta na Via Lago, foi aconselhado fazer ronda ali. “É obrigatório o uso de máscaras, proibida a aglomeração de pessoas e também a permanência no local após as 20 horas. O foco da fiscalização é o uso obrigatório de máscaras de proteção”, completa.

Controle e fiscalização das medidas de segurança na pandemia. Foto: Borges Júnior

Atividades nas academias   

Controle e afastamento interno. Foto: Borges Júnior

Por ser um ambiente fechado, as academias exigem um cuidado redobrado dos praticantes de atividades físicas. Na cidade de Araguaína, os estabelecimentos funcionam o dia todo, das 6h da manhã até às 22h. Para evitar a contaminação, há placas com orientações aos clientes sobre o uso dos equipamentos, disponibilização de álcool em gel e orientações para o uso de toalhas e garrafas individuais para evitar contaminações.

O proprietário Jonhson Tomaz afirma que a academia tem trabalhado com musculação e a parte funcional, cujo objetivo é o fortalecimento da musculatura, favorecendo a respiração. “Estamos trabalhando medindo a temperatura dos alunos, orientando-os a usarem máscaras e álcool em gel, praticarem o distanciamento no uso dos aparelhos e limpeza dos equipamentos, evitando revezamentos sem a devida higienização”, declara Jonhson.

A motivação para as atividades físicas de Daniela está em ir para academia. Foto: Daniela Soares / Arquivo pessoal

Uma das frequentadoras, Daniela Soares se sente mais motivada a realizar atividades físicas na academia. “Em casa eu não consigo fazer a minha rotina de treinos como eu faço na academia. Aqui eu tenho mais foco. Em casa eu não consigo treinar nem todo dia, nem tanto tempo quanto eu treino aqui. Procuro vir pela manhã, porque o horário tem menos pessoas. Geralmente, a noite tem mais gente e é mais lotado”, completa a jovem.  

Daniela declara que não é cativa das práticas de atividades físicas ao ar livre, condicionando seus exercícios apenas a esses estabelecimentos comerciais de musculação. “Eu já realizo minhas atividades já tem um bom tempo, mais ou menos três ou quatro anos. Só parei quando a academia estava fechada por conta dos decretos da pandemia”. Daniela ressalta que realiza seus exercícios sempre usando máscaras e só usa os aparelhos após higienizar, inclusive traz a própria água de casa.

Wechilley declara que as atividades físicas constroem seu bem-estar diário. Foto: Wechilley Lopes / Arquivo pessoal

Outro frequentador de academias é Wechilley Lopes, estudante. Como medida de proteção contra a contaminação, usa duas máscaras, sendo uma de tecido lavável e outra descartável, leva seu próprio recipiente de água e só usa os equipamentos após limpeza apropriada. Ele pratica exercícios em academias desde o ano de 2015.

Quando a academia fechou por causa dos decretos, eu tentei me adaptar, continuei realizando minhas atividades em casa para não perder o ritmo de treinos, nem o foco. Adaptei algumas ferramentas, como cadeira, cabo de vassoura com pesos e continuei treinando. Além disso, realizava atividades em vias públicas e espaços que não havia aglomeração nem fluxo intenso de pessoas.

A preferência era locais mais vazios. Eu corria, realizava caminhadas em um ritmo mais acelerado. Comecei a dançar, assisti vídeos com profissionais de educação física, seguindo orientações de atividades. Eu tive que reformular tudo”, revela Wechilley. 

O estudante diz que as atividades físicas têm um papel muito importante na vida dele no quesito saúde, bem-estar, porque percebeu melhorias significativas para dormir, pois sofria com insônia. Wechilley garante que “a prática de atividades físicas tem refletido no meu bem-estar e em minha qualidade de vida”.

 

*Carlos Borges Júnior é Doutor em Linguística e Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina. É professor Adjunto da     Universidade Federal do Tocantins, UFT, campus de Araguaína. Gentilmenete colaborou com o AN com envio da reportagem.

 .