Enquanto o som rítmico das máquinas de hemodiálise marca o passar lento das horas para centenas de pacientes no Tocantins, uma rede invisível de afeto atua nos bastidores para devolver humanidade e esperança ao ambiente clínico. No centro dessa engrenagem está Valquíria Moreira Rezende. Pedagoga e gestora pública, ela viu sua vida mudar há oito anos quando o marido recebeu o diagnóstico de doença renal crônica. O laudo, que para muitos soa como um fim, para Valquíria foi o início de uma nova missão: ser voluntária da Fundação Pró-Rim.
Hoje, reconhecida como uma "Embaixadora" da causa, Valquíria transcende o papel de acompanhante para atuar como uma promotora ativa de ações do bem, mobilizando sua rede de influência para sensibilizar a sociedade civil. Sua atuação é o pilar de um voluntariado de mobilização que preenche lacunas essenciais, garantindo desde segurança alimentar até suporte medicamentoso, provando que o cuidado integral é um projeto coletivo construído através da solidariedade ativa.
“Eu entendo que o papel da gente como ser humano é usar as possibilidades e a inteligência que temos a serviço dos outros. A oportunidade de doar não é só sobre dinheiro, mas doar tempo, conversa, dedicação e um sorriso; isso faz muita diferença para quem precisa. A gente veio ao mundo para servir, não foi para ser servido", garante Valquíria.
O estigma do diagnóstico e o desafio da ressignificação
Para a maioria das famílias, o diagnóstico de Doença Renal Crônica (DRC) surge como uma ruptura abrupta da normalidade, carregada de estigmas e incertezas. Valquíria Rezende recorda o impacto simbólico do primeiro laudo, que descreve como um momento de profunda vulnerabilidade:
“O termo ‘crônico terminal’ ecoa de forma pesada; é uma sentença que apavora. Infelizmente, a doença renal ainda é um tabu, o que amplia o medo do desconhecido”, explica.
É justamente para amparar esse impacto emocional que a psicologia clínica da Fundação Pró-Rim intervém. Isabela Sousa, psicóloga da instituição, explica que o acolhimento qualificado começa pela validação da dor:
“O primeiro passo é legitimar o que o paciente sente diante da nova realidade. Apresentamos a condição de forma clara e técnica, porém humanizada, mostrando que a autonomia e a qualidade de vida são metas possíveis. O objetivo é que o diagnóstico deixe de ser lido como uma condenação e passe a ser compreendido como um desafio de vida e um recomeço”, detalha a especialista.
Essa abordagem é sustentada pelo conceito do "Triângulo do Cuidado". Segundo Isabela, o sucesso do tratamento reside na conexão equilibrada entre o paciente, a equipe de saúde e a rede familiar. Quando o voluntariado se integra a essa estrutura, o ambiente hospitalar transcende a frieza técnica das máquinas:
"O cuidado humanizado não é apenas um gesto de carinho, é uma estratégia terapêutica. Quando acolhemos o paciente integralmente, mudamos sua disposição para lutar pela vida e seguir, corretamente, com o tratamento", destaca a psicóloga.
A engrenagem do bem
Ao ser acolhida por essa filosofia, Valquíria encontrou no serviço ao próximo uma estratégia ativa de enfrentamento:
“Entendi rapidamente que eu estava recebendo muito mais do que oferecia. E que fazendo alguma coisa por outras pessoas, paramos de pensar só na gente. Isso talvez empurre para a frente", revelou a voluntária.
Essa transformação individual de Valquíria ganha escala através da coordenação de Sônia Vieira, presidente do voluntariado da Fundação Pró-Rim. Sônia define esse perfil como um "voluntariado de mobilização", um ato de consciência política e social:
“É o perfil de quem entende que ajudar vai além da doação individual e passa por mobilizar pessoas e criar pontes entre a sociedade e as necessidades reais da instituição. Às vezes, pedir para alguém doar, compartilhar uma causa ou mobilizar uma rede é tão importante quanto a doação em si”, ressalta Sônia.
Para o presidente da Fundação Pró-Rim, Maycon Truppel Machado, essa mobilização é o que confere legitimidade social e sustentabilidade à entidade:
“Os voluntários traduzem a seriedade e o compromisso da Pró-Rim. Quando um voluntário se destaca pelo engajamento, como a Valquíria, nós o denominamos como ‘Embaixador’. Isso gera uma confiança que nenhuma campanha institucional sozinha conseguiria alcançar”, destaca Maycon.
Além do clínico: a ciência do bem-estar
Embora o SUS garanta o procedimento da diálise, a vida do paciente renal exige suporte que vai muito além da máquina:
“O voluntariado permite suprir lacunas em segurança alimentar, apoio medicamentoso complementar, transporte e dignidade”, pontua o presidente Maycon Machado.
Essa rede invisível manifesta-se em gestos que desafiam a frieza hospitalar. Valquíria recorda:
“No ano passado, vi uma paciente, que dialisava há 20 anos, assistindo a uma ópera no leito. As pessoas são simples e, nas coisas simples, elas mostram tanta riqueza. Deu vontade de deitar do lado dela e assistir junto”.
Essas interações têm impacto biológico real. Isabela Sousa explica:
“O agir voluntário libera neurotransmissores como a dopamina, gerando sensações de plenitude. Isso ajuda a prevenir a depressão e fortalece a resiliência emocional. É uma via de mão dupla para o bem”, afirma a psicóloga.
Um convite à corresponsabilidade
A história de Valquíria Rezende prova que a Fundação Pró-Rim é um projeto coletivo. Ao mobilizar amigos para a arrecadação de medicamentos ou cafés da manhã, ela garante que o paciente foque na cura, e não na falta de recursos:
“Nenhuma doação é pequena quando se soma a outras. Muitas vezes, o que garante uma refeição ou um dia a mais de tranquilidade é essa soma de gestos”, reforça Maycon Machado.
Sônia Vieira finaliza pontuando que a transparência gera confiança:
"Para aqueles que se sentem inspirados pela história de Valquíria, o caminho é simples: procurar o voluntariado da instituição e tornar-se um elo nessa corrente. É somente com o apoio da sociedade que o trabalho consegue acontecer e se manter", concluiu.
Para Valquíria, o maior prêmio é o sorriso de quem encontra esperança:
“Toda vez quando a gente pode ajudar ou colaborar, quem é mais recompensado é a gente mesmo, pelo olhar das pessoas e pelo carinho”, afirma.
Saiba como tornar-se um mobilizador da corrente do bem
A gestão da Fundação Pró-Rim orienta cinco passos fundamentais para quem deseja ingressar nessa rede:
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Pratique a escuta ativa: aproxime-se e conheça as histórias dos pacientes; cada identidade é única.
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Identifique as "lacunas da vida": ajude a mobilizar segurança alimentar (cestas básicas), suporte medicamentoso e auxílio para transporte.
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Seja um 'Embaixador': use sua influência para sensibilizar vizinhos, amigos e comerciantes locais sobre a seriedade da causa.
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Valorize os pequenos gestos: doe tempo. Uma conversa ou um momento de música quebra o estigma da dor no ambiente hospitalar.
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Cultive a resiliência: entenda a ajuda como um propósito de vida. Ao fortalecer o próximo, você desenvolve resiliência para seus próprios desafios.
O caminho é simples: procure o setor de voluntariado da Fundação Pró-Rim, conheça as necessidades locais e coloque-se à disposição. Como diz a mensagem da rede:
"A união da solidariedade é o que realmente faz a diferença".



