O paciente faleceu em leito de UTI do Hospital Dom Orione.
Foto: Divulgação

A araguainense Erinalda Maria Silva de Oliveira perdeu o marido na última segunda-feira (25) para a covid-19 e faz um apelo para o atendimento de saúde na cidade. “Não quero culpar ninguém, mas quero que olhem mais pra sociedade, olhem mais para as pessoas que precisam de assistência pública. (...) O que é mostrado [pelo município] não se compara com o que gente vive”. 

Em entrevista ao AN neste sábado (30), ela relatou em tom de desabafo os últimos passos do marido, o vigilante do Banco do Brasil,  Maxçuel Ferreira Xavier, 38 anos, na luta contra a doença. Para preservar a memória de homem reservado, ela preferiu não divulgar a foto dele. 

Erinalda Maria disse que o marido procurou atendimento médico assim que sentiu os primeiros sintomas da covid. Por duas vezes foi mandado para casa, até ser internado e vir a falecer em uma semana. 

Para a viúva, a saúde de Araguaína lida com uma situação inédita, mas é preciso melhorar. “O município, sinceramente, tem que melhorar muito. Eu sei que é uma coisa nova. É uma doença nova. Eu creio que com empenho tem como salvar mais vidas. Infelizmente meu esposo se foi. Era um jovem ainda. Ele tinha somente 38 anos. Mas que isso não venha acontecer com outra família. Porque o sofrimento é muito grande”. 

Segundo ela, Maxçuel era saudável e sentiu os primeiros sintomas em 9 de maio, véspera do dia das mães. “Ele teve febre e dores nas pernas. A noite ele foi à UPA. Chegando lá o médico disse. ‘Não são sintomas de covid e eu vou te passar medicação para febre e dor’. Só que ele informou ao médico que no trabalho dele tinha uma pessoa contaminada

Na ocasião, Maxçuel negou ter tocado na mão da pessoa contaminada, e por isso o médico descartou o diagnóstico de covid. 
Ele voltou pra casa com a medicação. Ficou domingo. Na segunda (12/05) foi trabalhar, porque estava medicado. Mas a tarde voltou pra casa com febre. Na terça de manhã ele foi fazer exame particular”. Explicou Maria, acrescentando que o diagnóstico para covid só saiu na terça (13/05), depois que Maxçuel fez exame por conta própria em laboratório particular. 

Ao saber do resultado positivo, ele procurou o Telecovid do município. “Informaram para ele que ia marcar uma consulta remota. Na quinta (14/05) ele começou a passar mal e voltou à UPA. Ele já tava com falta de ar. Tomou oxigênio e voltou pra casa. Aí ficou assim. Cansado, com falta de ar. E começou a tomar medicação. Mas o quadro dele piorou muito rápido”.

No domingo (17/05) teve outra consulta, que já tava marcada por videoconferência, e ele falou que estava com falta de ar. Então a médica falou pra ele ligar para o Samu. Ele ligou para o Samu, mas o atendente falou que não era caso de vir buscar”. 

Segundo Maria, mesmo passando mal, Maxçuel dirigiu sozinho até a UPA pela terceira vez. Como estava com saturação baixa e dificuldade para respirar, foi transferido para o Hospital Dom Orione (HDO), onde seria entubado.

Na noite da segunda-feira (18/05), Maxçuel foi transferido da UPA para o HDO. “Ficou no PA [pronto atendimento] por quatro dias. Ele conseguia passar mensagem no WhatsApp e falava que tava muito cansado e com falta de ar. No quarto dia, na madrugada do dia 21 pro 22, ele passou mensagem falando que estavam levando ele pra sala vermelha”. 

Naquela madrugada Maxçuel foi entubado e internado na UTI dia 22/05.  Maria só conseguia notícias quando falava com uma assistente social. 

No domingo (24) me ligaram falando que ele estava estável, mas o estado dele era grave. Na madrugada de domingo pra segunda, dia 25, eu recebi a ligação que ele não resistiu e tinha ido a óbito”.

Na opinião de Maria, houve falha no atendimento ao esposo. “Eu acho que teve falha no primeiro atendimento. Porque essa doença é muito agressiva. Mas se começar a tratar, eu creio que tem êxito no resultado. Teve demora. Quando foi começar o tratamento já estava avançado"

 “Perdi uma pessoa maravilhosa. Um esposo, um amigo, um companheiro. Meus filhos perderam um pai maravilhoso. E tem uma mãe que tá chorando a perda de seu filho. Eu sei que a gente tem que acreditar que é determinação de Deus, mas tem muitas vidas que podem ser salvas. Pelos médicos e a rede pública se empenhar mais um pouquinho”. Lamentou. 

Depois do falecimento dele nós estamos tendo assistência. Mas antes nós não tivemos assistência assim concreta. Teve que se perder uma vida. Finalizou.

O que diz o ISAC— responsável pela UPA

Questionado sobre o atendimento dado a Maxçuel, o Instituto Saúde e Cidadania – ISAC, responsável pela gestão da UPA, confirmou que ele procurou a UPA dia 9/05, mas apresentou “pico hipertensivo (Pressão Alta) e mal-estar causado por esse quadro”.

O ISAC também negou que  ele tenha repassado informação sobre covid-19. “O paciente recebeu o atendimento necessário, foi medicado e liberado após melhora. Nessa oportunidade, o paciente não relatou qualquer informação sobre a COVID-19 e também não apresentou sintomas da doença”.

"Já no dia 14/05, o ISAC também confirmou que Maxçuel apresentou resultado positivo para covid feito em laboratório particular na cidade.

No dia 14 de maio, o paciente retornou à UPA apresentando o resultado positivo de um teste particular para Covid-19 e o mesmo solicitou tratamento específico para a doença.

Conforme rege os protocolos do Ministério da Saúde, o médico solicitou novo exame como contraprova, coleta para swab e Eletrocardiograma (ECG) para verificar as condições cardíacas.

Ele foi medicado e, como não apresentava sinais de gravidade, embora estivesse sintomático, foi encaminhado para isolamento domiciliar conforme protocolo.

Foi feita a notificação de caso suspeito, um termo de consentimento, isolamento domiciliar, orientação e acompanhamento pelo Tele-Covid.

Todo paciente que entra no protocolo é acompanhado diariamente pelo médico pelo Tele-Covid.

Do dia 14 para o dia 17, o quadro do paciente evoluiu de forma desfavorável e houve uma piora clínica. Ainda no dia 17, ele deu entrada na UPA e imediatamente foi referenciado para o Hospital Dom Orione.

Em todos os momentos que o paciente buscou atendimento na UPA, ele foi prontamente atendido conforme todos os protocolos federais.

Com relação à testagem, a UPA segue à risca os protocolos do Ministério da Saúde. Os testes para casos leve são ofertados na rede básica de saúde do município". Informou o ISAC em nota.