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Câncer de mama ainda é uma das principais causas de morte entre mulheres no Tocantins, alerta especialista

Radiologista da Afya Educação Médica Palmas reforça que diagnóstico precoce pode elevar chances de cura para mais de 90% dos casos.

Os exames de rastreamento — especialmente a mamografia — têm papel decisivo nesse processo, possibilitando detectar alterações antes mesmo de sintomas clínicos.
Foto: Cênicas Comunicação

No Tocantins, o câncer de mama é uma das principais causas de morte entre mulheres, segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/TO) – 2024. O diagnóstico precoce e o acompanhamento regular aumentam significativamente as chances de cura, reforçando a relevância de campanhas como o Outubro Rosa, que promovem informação, acesso a exames e cuidados contínuos com a saúde feminina.

Durante o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, especialistas reforçam que identificar a doença ainda em estágios iniciais é fundamental para salvar vidas. Os exames de rastreamento — especialmente a mamografia — têm papel decisivo nesse processo, possibilitando detectar alterações antes mesmo de sintomas clínicos.

De acordo com o médico radiologista e professor da Afya Educação Médica Palmas, Dr. Raymundo Neto, a partir dos 40 anos, todas as mulheres devem realizar a mamografia de rotina. Em alguns casos, o exame pode ser complementado por ultrassonografia ou ressonância magnética, conforme indicação médica.

“O diagnóstico precoce é o que faz a diferença. Quando o câncer é descoberto no início, as chances de cura ultrapassam 90%. Por isso, é essencial manter o rastreamento em dia e procurar avaliação médica diante de qualquer alteração”, destaca o especialista.

Além da genética: o papel do estilo de vida e dos fatores ambientais

Embora fatores genéticos e familiares sejam reconhecidos como importantes, o professor explica que os hábitos cotidianos e o ambiente têm um peso crescente no desenvolvimento da doença.

“Os principais fatores ambientais e comportamentais associados ao câncer de mama são o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a obesidade e o sedentarismo. A alimentação pobre em fibras e nutrientes também contribui para aumentar o risco”, afirma.

Esses hábitos, segundo o médico, alteram o equilíbrio hormonal e metabólico do corpo, criando um terreno propício para o surgimento de mutações celulares. “O excesso de gordura corporal, por exemplo, leva a uma maior produção de estrogênio, o que pode estimular o crescimento de tumores hormônio-dependentes”.

Além disso, o uso indevido de medicamentos hormonais — como terapias de reposição ou anabolizantes — também merece atenção.

“Alguns hormônios sintéticos, especialmente os derivados de estrogênio e testosterona, quando usados sem acompanhamento médico, podem aumentar a predisposição a certos tipos de tumores”, alerta o professor.

Subtipos de câncer: cada tumor tem um “nome e sobrenome”

Um dos grandes avanços da medicina moderna foi entender que o câncer de mama não é uma doença única. Existem vários subtipos moleculares, cada um com comportamento e tratamento específicos.

“A forma mais fácil de entender é imaginar que cada tumor tem nome e sobrenome. Existem tumores que se originam na glândula mamária, outros nos ductos ou na gordura da mama. Essa origem e suas características moleculares definem o tipo, a agressividade e a resposta ao tratamento”, explica o médico radiologista.

Entre os principais subtipos estão: Luminal A – geralmente menos agressivo, responde bem à terapia hormonal e tem melhor prognóstico; Luminal B – mais agressivo que o A, também hormônio-dependente, mas pode requerer quimioterapia; HER2-positivo – caracterizado pela superexpressão da proteína HER2, tende a crescer mais rapidamente, mas hoje conta com medicamentos específicos e eficazes; Triplo-negativo – não responde a hormônios nem à terapia anti-HER2, sendo o tipo mais desafiador e com tratamento mais agressivo.

A biópsia é o exame que permite identificar essas características e direcionar os próximos passos. “Ela é essencial para definir o tipo histológico e molecular do tumor, orientando o oncologista sobre a melhor estratégia terapêutica”, reforça.

Tratamentos personalizados e multidisciplinares

Com o diagnóstico em mãos, o passo seguinte é definir o tratamento. Dr. Raymundo destaca que não existe uma receita única — cada caso é avaliado individualmente.

“Os tumores mais agressivos exigem tratamentos também mais intensos. Enquanto alguns casos podem ser resolvidos apenas com cirurgia, outros necessitam de quimioterapia, radioterapia ou até da combinação dos três. A escolha depende do tipo de tumor, do estágio da doença e das condições clínicas da paciente”, esclarece.

Essa abordagem personalizada tem se mostrado cada vez mais eficiente. O tratamento é definido conforme o estadiamento do câncer (que mede o tamanho e a extensão da doença) e fatores individuais, como idade, doenças associadas e histórico familiar.

“O importante é lembrar que o tratamento é feito para pessoas, não apenas para tumores. Cada paciente tem uma história, uma condição física e um tipo de câncer. Por isso, o cuidado precisa ser individualizado”, pontua.

Desafios dos casos agressivos

Os subtipos triplo-negativo e HER2-positivo ainda representam os maiores desafios clínicos. O primeiro, por não responder a terapias hormonais, demanda quimioterapia intensiva e monitoramento constante. Já o segundo, apesar de ser mais agressivo, conta hoje com medicamentos biológicos altamente eficazes que mudaram o prognóstico de milhares de mulheres.

“Felizmente, o avanço da medicina vem permitindo que mesmo os casos mais agressivos tenham boas perspectivas. O segredo continua sendo o diagnóstico precoce. Quanto antes o tumor for identificado, maiores são as chances de um tratamento bem-sucedido”, reforça Dr. Raymundo.

Prevenção e autocuidado: atitudes que salvam vidas

A prevenção, segundo o especialista, começa muito antes dos exames. Hábitos saudáveis são aliados poderosos na redução dos riscos: alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, manutenção do peso ideal e moderação no consumo de álcool.

“Pequenas escolhas diárias podem ter um impacto enorme. Evitar o tabagismo, cuidar da alimentação e fazer atividade física ajudam não só na prevenção do câncer de mama, mas de diversas outras doenças”, afirma.

O médico lembra ainda da importância do autoexame e da atenção às mudanças no corpo. Qualquer nódulo, secreção, retração da pele ou alteração no formato da mama deve ser avaliado por um profissional.

“O autoexame não substitui a mamografia, mas é um alerta importante. Ele ajuda a mulher a conhecer o próprio corpo e identificar precocemente sinais que merecem investigação”, finaliza.