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Copom eleva taxa Selic para 9,25% ao ano, maior patamar em quatro anos

Juros maiores encarecem o crédito, freiam a economia e instituem de volta antiga regra de remuneração da poupança.

Com o aumento da inflação, o Banco Central fez mais um ajuste nos juros básicos
Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (8) a taxa Selic de 7,75% ao ano para 9,25% ao ano – alta de 1,5 ponto percentual. A decisão foi unânime.

Com o sétimo aumento consecutivo, a taxa Selic atinge o maior patamar em pouco mais de quatro anos – em julho de 2017, estava em 10,25% ao ano.

A previsão dos analistas do mercado financeiro é que a taxa continue subindo nos próximos meses. De acordo com o relatório “Focus”, pesquisa com mais de 100 instituições financeiras divulgada na segunda-feira (6) pelo BC, a Selic deve chegar a 11,25% ao ano no fim de 2022.

Em nota à imprensa, o Copom avaliou que a inflação ao consumidor "continua elevada" e que a atividade econômica brasileira tem "evolução moderadamente abaixo da esperada".

Para o comitê, há questionamentos em relação ao respeito às regras fiscais do país, o que contribui para elevar a inflação acima do projetado e leva o Banco Central a responder com aumento dos juros básicos da economia. "É apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista", pondera o comitê em nota.

Ainda, o Copom afirmou que antevê outro reajuste de 1,5 ponto percentual na próxima reunião, marcada para os dias 1º e 2 de fevereiro do ano que vem.

"O comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", afirma em nota.

Por fim, o comitê avalia que existe a "possibilidade" de uma nova onda da pandemia durante o inverno no hemisfério norte, e que o aparecimento da variante ômicron "adiciona incerteza" quanto à recuperação das economias desenvolvidas.

A chegada da taxa Selic ao patamar de 9,25% já era esperada pelo mercado financeiro. A tendência também havia sido antecipada pelo diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, em entrevista há quatro semanas.

 

Poupança

Como a taxa básica de juros da economia subiu para 9,25% ao ano, as aplicações em caderneta de poupança passam a ter o mesmo rendimento da chamada "poupança velha".

Desde 2012, a poupança passou a ter dois tipos de remuneração. Quando a Selic está em até 8,5% ao ano, o rendimento é limitado a um percentual de 70% dos juros básicos mais a Taxa Referencial (TR, calculada pelo Banco Central e que está em zero desde 2017). Acima desse patamar, o rendimento é de 0,50% ao mês, ou 6,17% ao ano.

Para os depósitos feitos até abril de 2012, ou seja, na chamada "poupança velha", os rendimentos são sempre calculados da segunda forma – independente da taxa de juros que estiver em vigor.

Mesmo passando a render mais a partir dezembro, a modalidade continuará perdendo para a inflação e para outros investimentos de renda fixa. Ao menos no curto prazo.

Consequências da alta dos juros

De acordo com economistas, o aumento do juro básico da economia, tem vários reflexos na economia. Veja abaixo os principais:

  • A elevação da taxa de juros, o aumento do juro básico da economia, já está resultando em taxas bancárias mais elevadas e a tendência é de que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. Em outubro, a taxa média dos bancos foi a maior desde março de 2020. Além do juro básico, o aumento do IOF anunciado pelo governo também impacta o custo final dos empréstimos.
     
  • O aumento da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos, impactando, assim, o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Economistas estão baixando há semanas a previsão de crescimento da atividade econômica em 2022, que está em 0,51% de alta.
     
  • O aumento da taxa básica da economia gera uma despesa adicional com juros da dívida pública. Gabriel Leal de Barros, da RPS Capital, calculou que o ciclo de alta da Selic de 2% ao ano, em março de 2021, para 9,25% ao ano gera uma despesa adicional de quase de R$ 240 bilhões com juros da dívida (em 12 meses).